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Sem saber o que fazer...

Sem saber o que fazer...
Leonardo Cardoso
jun. 2 - 2 min de leitura
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Relatando que havia sido mordida por um cachorro, Dona Joana*, com 63 anos, chegou para mim com várias queixas. Um pouco mais habituado com o atendimento, sabia que quando um paciente se apresenta de forma poliqueixosa é porque tem algo a mais em sua história. Mal sabia eu que aquela seria uma tarde repleta de emoções.

Ao chegar no consultório, D. Joana comentou que havia sido mordida por um cachorro há cerca de 3 meses e que havia feito tratamento com vacina antirrábica e antibioticoterapia, porém sem sucesso. Estava preocupada, visto que era a quarta vez que havia sido mordida por um cachorro e a única em que a lesão não melhorava. Trazia ainda um cateterismo feito há cerca de 3 meses, uma dificuldade para enxergar, artrite reumatoide, fraqueza na cabeça, e uma tristeza por ter gasto dinheiro com medicação para a perna e não ter obtido melhora.

Na verdade, o que Dona Joana precisava mesmo naquele momento era de um apoio emocional. E isso ficou claro quando ela chorou ao falar que, mesmo morando no mesmo quintal dos filhos, só recebe atenção deles quando sobra um tempinho. Foi a primeira vez que um paciente chorou durante uma consulta. Fui para trás com minha cadeira. Queria levantar e dar um abraço em minha paciente e dizer a ela que estávamos ali para ajudá-la. Mas, naquele momento, travei. Fiquei sem saber o fazer. Ao ver minha paciente chorando fiquei totalmente a mercê da minha emoção e fui incapaz de fazer qualquer coisa. Minha amiga, que me acompanhava nos atendimentos, foi ao encontro de minha paciente, abraçou-a e disse que ela podia contar conosco, que estávamos ali para ajudá-la. Respirei fundo e voltei à nossa conversa.

Depois de ter colhido todas as informações necessárias para um primeiro desenho do quadro, prosseguimos com o exame físico e com o manejo de suas queixas. Ao final da consulta, D. Joana se despediu, agradeceu e disse que seríamos ótimos médicos. Mas, o que mais me chamou a atenção naquele atendimento foi a fragilidade com que muitos pacientes chegam até nós e o nosso papel enquanto médicos. Como disse uma pessoa muito especial para mim em certa ocasião, é preciso ser médico de homens e de almas.

 

*Por questões éticas, os nomes citados não correspondem à realidade.


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