Crianças e adolescentes que relatam doenças respiratórias crônicas residentes em áreas urbanas no Brasil parecem ser subtratados para suas condições crônicas, e o tratamento farmacológico, mesmo quando indicado, pode não ser utilizado. Lisiane Freitas Leal e equipe estudaram a prevalência de doenças respiratórias crônicas e seu manejo farmacológico em crianças e adolescentes no país, e além do subtratamento observaram que o tratamento farmacológico, mesmo indicado, não foi utilizado, um importante achado para a tomada de decisão nessa população.
Lisiane e equipe são autores do estudo Prevalência de doenças respiratórias crônicas e uso de medicamentos em crianças e adolescentes no Brasil - um estudo transversal de base populacional, publicado no periódico Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil.
Foram analisados dados da Pesquisa Nacional de Acesso, Uso e Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil (PNAUM), estudo transversal de base populacional. Os inquéritos domiciliares foram realizados entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014.
O estudo incluiu a população menor de 20 anos com doenças respiratórias crônicas. A prevalência de doenças respiratórias crônicas em menores de 6 anos foi de 6,1% (IC95%= 5,0-7,4), 4,7% (IC95%= 3,4-6,4) naquelas de 6-12 anos e 3,9% (IC95%= 2,8-5,4) em crianças com 13 anos ou mais.
Crianças menores de 6 anos apresentaram maior prevalência de indicação de tratamento farmacológico (74,6%; IC95%= 66,0-81,7), bem como uso de medicamentos (72,6%; IC95%= 62,8-80,7). Dos que usavam inaladores, 56,6% relataram usá-lo com espaçador. As classes farmacológicas mais frequentes relatadas foram os β2 agonistas de curta duração (19,0%), seguidos dos anti-histamínicos (17,2%).
O estudo destaca que a semelhança dos sintomas entre as doenças respiratórias crônicas na infância, a falta de biomarcadores para apoiar o diagnóstico e a má interpretação da sibilância levam a erros de classificação diagnóstica e manejo inadequado, cenário que piora ainda mais quando familiares e profissionais de saúde não reconhecem os sinais crônicos dessas doenças.
Lisiane e equipe apontam que a Aliança Global contra Doenças Respiratórias Crônicas (GARD) vem trabalhando para melhorar a qualidade do atendimento e reduzir a carga dessas condições, principalmente em países de baixa e média renda, sendo que no Brasil a GARD observa que, apesar das melhorias, é necessário maior comprometimento com o Ministério da Saúde para abordar as políticas de saúde para doenças respiratórias crônicas.
Fonte
LEAL, Lisiane Freitas et al. Prevalência de doenças respiratórias crônicas e uso de medicamentos em crianças e adolescentes no Brasil - um estudo transversal de base populacional. Rev. Bras. Saudade Mater. Infantil. , Recife, v. 22, n. 1, pág. 35-43, março de 2022. Disponível em <http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292022000100035&lng=en&nrm=iso>. acesso em 26 de maio de 2022. Epub em 09 de maio de 2022. https://doi.org/10.1590/1806-93042022000100003 .