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Sexualidade freudiana

Sexualidade freudiana
Bárbara Figueiredo
jun. 2 - 12 min de leitura
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As fases da sexualidade, junto ao desenvolvimento psicossexual, é o tema abordado em "Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", uma obra lançada em 1905 por Sigmund Freud. Nela, Freud avança em sua teoria da sexualidade. Abordando a infância e o desenvolvimento psicossexual da criança, que se dá por meio das fases da sexualidade. Essa obra possui muitos temas ainda utilizados pela psicologia e pela psicanálise, é tida como revolucionária.

Sigmund Freud, Retrato 1926, Fundador Da PsicanáliseSigmund Freud. Imagem disponível aqui. 

Ao analisar o comportamento das crianças, desde os seus primeiros anos de vida, Freud intui mostrar um caminho para o que ele chama de uma sexualidade saudável. Essa sexualidade saudável se dá, principalmente quando a criança supera as fases da sexualidade. Ainda que, como dito, essas fases continuem sendo desenvolvidas, de certa forma, por toda a vida do indivíduo.

Para o pai da psicanálise, uma sexualidade com atitudes maduras e o que ele considera como normais, deve ser trabalhada desde a infância. E não apenas na puberdade, como muitos teóricos da época expunham.

Apesar disso, o próprio Freud expõe que, mesmo os indivíduos mais saudáveis, podem ter algum tipo de perversão no âmbito sexual. Freud afirmou que havia encontrado diversas práticas, ao observar as crianças, que poderiam ser consideradas como formas de sexualidade infantil. Mesmo que parecessem inofensivas, essas fases, para Freud, tinham algo relacionado com a sexualidade.

Freud, em sua teoria da sexualidade, também procurou base em sua teoria do inconsciente. Segundo ele, a sexualidade é uma "força motriz que impulsiona para o desenvolvimento da perversão e da neurose".

As Fases da Sexualidade

Freud, ao abordar a infância, também expõe o desenvolvimento psicossexual que, segundo ele, se dá a partir de três fases: a fase oral, a fase anal e a fase fálica. Além de expor a fase genital e a fase de latência.

Fase Oral

A fase oral é a primeira fase. Nesta fase o bebê, no ato de mamar, tem na sucção algo especialmente importante. Essa é a primeira necessidade da qual ele tem ciência, que é a de se alimentar. A boca, portanto, é vital para comer e, além disso, é por meio dela que criança obtém o prazer da estimulação oral.

Por essa estimulação, ela desenvolve atividades gratificantes como degustar e chupar. Para Freud, conforme visto, o desenvolvimento e as fases da sexualidade estão ligadas ao prazer. Assim, a fase oral é um primeiro momento de prazer da criança.

Ela apresenta, ainda segundo Freud, cinco modos de funcionamento. Os quais podem se desenvolver em características da personalidade adulta. O incorporar do alimento mostra-se no adulto como o “incorporar” de saber ou poder. Isto é, Freud faz uma ponta entre a infância e a idade adulta. Além de este incorporar ser uma capacidade de se identificar com outras pessoas ou de se integrar em grupos.

Em segundo, segurar o seio, não querendo separar-se dele, se mostram como a persistência e a perseverança, posteriormente. Terceiro, morder é o protótipo da destrutividade, assim do sarcasmo, cinismo e tirania. Quarto, cuspir se transforma em rejeição. E, por último, o fechar a boca, impedindo a alimentação, a condução da rejeição. O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe e filho.

Fase anal, Fase Fálica, Fase de Latência e Genital

Na segunda fase da sexualidade, conhecida como fase anal, segundo Freud, o principal foco da libido está no controle da bexiga e evacuações. Essa fase vai aproximadamente do primeiro ao terceiro ano de vida. Nela há o grande conflito e que a criança tem de aprender a controlar as suas necessidades corporais. O prazer está neste controle. Ao desenvolver esse controle, a criança passa a ter um sentimento de realização e independência.

Nessa fase a criança tem que aprender a controlar os esfíncteres, sobre o ato de defecar e, dessa forma, deve aprender a lidar com a frustração do desejo de satisfazer as suas necessidades, de forma imediata.

A fase fálica vai dos três aos cinco anos de vida. Nela, a libido tem seu foco nos órgãos genitais. É quando as crianças também começam a descobrir as diferenças entre o masculino e o feminino, ou, entre machos e fêmeas. Nessa fase, o prazer e o desprazer estão centrados na região genital.

Durante os anos da segunda infância, quando a maior parte dos jovens prefere passar o tempo com membros do seu próprio sexo, o sentido do eu das crianças em geral depende muito de como as outras crianças do mesmo sexo reagem a elas.

Em sua maioria, as crianças durante esse período são indiferentes ou hostis aos membros do outro sexo. Mais tarde, como resultado das mudanças provocadas pela puberdade, seu movimento baseado na indiferença ou no antagonismo para um movimento baseado na atração.

O trabalho de Sigmund Freud tem tido uma influência duradoura sobre a maneira de pensar dos psicólogos sobre esse processo. Os psicólogos freudianos encaram a adolescência como um período em que as crianças experimentam novamente os conflitos dos estágios anteriores, só que em novos aspectos.

Em sua opinião, a menos que esses problemas sejam elaborados e resolvidos, a personalidade do adulto será distorcida. Segundo Freud entre os problemas desenvolvimentais iniciais que devem ser reelaborados, é fundamental o desejo primitivo da criança de possuir o pai (caso se trate de uma menina) ou a mãe (caso se trate de um menino).

A maneira usada pelas crianças pequenas para resolverem esse conflito, que Freud chamou de complexo de Édipo, é reprimir o desejo licito identificando-se com o genitor do mesmo sexo. Freud declarava que essa resolução infantil é essencial para a identificação adequada do papel do mesmo sexo.

Esses primeiros sentimentos edipianos são encontrados novamente na adolescência, mas a repressão e a identificação com membros do mesmo sexo não são mais as respostas adaptativas que eram no fim da fase de bebe.

A puberdade, na opinião de Freud, redesperta o desejo sexual em uma época em que os adolescentes são plenamente capazes tanto de realizar os atos proibidos quanto de entender o tabu do incesto que lhes nega o genitor como um parceiro sexual.

Freud defendia que a combinação de desejo desperto e pressão social levam o adolescente a procurar pessoas fora da família para amar. A base para essa busca formou-se durante a experiência do grupo de pares da segunda infância, mas a reorientação do adolescente é, apesar disso, repleta de dificuldades. Para começar, a pessoa jovem tem tido pouca experiência de interação com os pares do outro sexo e virtualmente nenhuma experiência de amizade com pares como parceiros sexuais, portanto, novos modos de comportamento social terão de ser aprendidos.

Em segundo lugar, uma mudança no objeto do afeto de um genitor para um par requer desligamento emocional da família, que tem sido a base da segurança emocional desde o nascimento. Reconhecendo a dificuldade dessa tarefa, Freud referiu-se a reorientação do afeto do adolescente como sendo “uma das aquisições psíquicas mais dolorosas do período da puberdade”.

O período de latência também está entre as fases da sexualidade. Nele, os interesses da libido são suprimidos. Sendo que o desenvolvimento do ego e do superego, segundo Freud, contribui para esta calma.

Por fim, há o estágio genital, uma das fases da sexualidade ou desenvolvimento psicossexual. Nessa fase, desenvolve-se interesse sexual no sexo oposto. Ela se inicia durante a puberdade, perpassando por todo o resto da vida da pessoa.

 

Homossexualidade para Freud

Para Freud, a homossexualidade é uma variação da função sexual. Ele entendia que houve uma interrupção no desenvolvimento sexual dos indivíduos que se interessam por pessoas do mesmo sexo. Freud também acreditava que a homossexualidade é uma perversão polimorfa. Segundo ele, quem tem essa perversão é capaz de sentir prazer de diversas formas diferentes.

É importante afirmar também que, para Freud, todas as pessoas são capazes de possuir fantasias sexuais. Assim, pode-se perceber que o pai da psicanálise via a homossexualidade com naturalidade. Assim, não atribuía um status de anormalidade às pessoas de diferentes orientações sexuais.

A resposta de Freud à mãe que, em 1935, lhe pediu que curasse seu filho homossexual:

19 de abril de 1935

“Minha querida Senhora,

Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma.

Não pode ser qualificada como uma doença se nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura dos livros de Havelock Ellis.

Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos conseguimos desenvolver rudimentos das tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade de determinar o resultado do tratamento.

A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranqüilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição.”

Sigmund Freud

Essa é uma das obras de maior repercussão nas áreas da Psicologia Contemporânea e da Psicanálise, abrindo-se um grande campo de discussão para um caráter revolucionário do sexual, sustentado por Freud na época. Além disso, as interpretações tidas nessa obra são até hoje, por muitos, consideradas como ousadas, apesar de serem, ao mesmo tempo, rigorosamente científicas.

Portanto, não é de se estranhar que a psicanálise, embasada em parte nestes fatos outrora desprezados, tenha provocado e ainda provoque surpresa e rejeição ao se opor à opinião popular a respeito da sexualidade. 

Desse modo, é notório que a determinação e formação do que Freud chamava de identidade sexual é uma questão que transcende os espectros médicos e científicos.

 

Referências:

1- Fases da sexualidade na teoria de Freud - Psicanálise Clínica: https://www.psicanaliseclinica.com/fases-da-sexualidade/

2- Livro “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” - Sigmund Freud

3- Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade: um texto perdido em suas sucessivas edições? Departamento de Psicologia da Educação - UNESP- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771995000200004

 


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