Dentre várias doenças, síndromes e transtornos, poucas problemáticas se destacam por impelir ao seu portador as pechas de devassidão, loucura e culpabilização, ao mesmo tempo.
De origem ainda controversa, estabeleceu-se como o “Mal Francês”, “Mal francese”, “Morbus Gallicus”. Devido a algumas semelhanças estéticas com a varíola (Inglês = Smallpox, Francês = Petite Vérole), a sífilis (Inglês = Pox, Francês = Grande Vérole) também aproximou-se na representação linguística da época.
Doenças que envolvam cicatrizes, manchas, ulceras externas e qualquer chaga dermatológica sempre foram associadas a representações luciferianas e pragas, com a sífilis não seria diferente. Em face da sua natureza de contágio sexual e o contexto histórico, obviamente, algum grupo seria culpado pelo castigo divino que houvera chegado sob representação dessa doença.
Dessa forma, as mulheres que já carregavam o histórico da repressão doméstica, individual e sexual, desta vez também apresentava-se como veículo da doença que produzia uma estética peculiar. Em contraposição a beleza da tuberculose, visto que produzia uma visão angelical e imaculada das mulheres devido à palidez, a sífilis representava-se pelas manchas e a promiscuidade feminina.
Nas artes plásticas e na cultura, nasce o arquétipo intitulado de “La Femme Fatale” ou A Mulher Fatal. Representações modeladas por mulheres que eram capazes de seduzir e perverter os homens, na literatura enganar os heróis e distraí-los da sua jornada. Posteriormente, associada com a utilização de drogas, o viés misógino da representação dessa doença é clarividente.
Não foi a primeira, nem sequer a última vez que as mulheres serão responsabilizadas por desastres, epidemias e momentos de crise. Trata-se de mais um capítulo que relata os estereótipos que permeavam e ainda permeiam o imaginário coletivo, principalmente relacionado as infecções sexualmente transmissíveis.
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