Na minha opinião, tempo é uma questão de prioridade. Esse conceito pode parecer fácil, mas não é. Julgo que, primeiramente, através de um exercício de reflexão e auto conhecimento, temos que entender o que é importante para cada um e, a partir daí, planejar nossas ações baseando-se nas metas almejadas para curto, médio e longo prazo. Para isso, devemos buscar alinhar as várias facetas de nossa vida no âmbito pessoal, profissional e acadêmico. Dessa forma, entendendo onde, quando e com quem queremos estar ao atingir essas metas, criamos o senso de prioridade necessário para decidirmos onde investiremos nosso tempo e nossa energia.
Como médico otorrinolaringologista, pratico uma especialidade clínico-cirúrgica, isto é, além de aprender a tratar diversas entidades clínicas, como zumbidos, tonturas e alergias respiratórias, também temos que estudar e exercer diversas técnicas cirúrgicas. Elas abrangem desde procedimentos estéticos de face, passando por obstrução nasal e roncos, até tratamento de tumores de cabeça e pescoço.
Sabemos que, além das urgências, as complicações pós-operatórias inesperadas configuram um grande desafio para a rotina de todo cirurgião. Ao mesmo tempo que essa característica enriquece muito nossa especialidade, também faz com que seja exigido um alto grau de dedicação para que consigamos oferecer uma medicina eficiente aliada a uma boa qualidade de vida do profissional médico. Esse tipo de exigência também é comum a diversas outras especialidades e, nesse contexto, torna-se bastante pertinente pensarmos sobre planejamento do tempo e produtividade.
Além de entendermos o que é prioridade para cada um, para sobrar tempo para tudo que queremos, podemos adotar algumas estratégias que podem ajudar:
1. Ser o mais organizado possível: desde a caixa de entrada do e-mail até a mesa de atendimento do consultório devem estar em ordem. Alguns colegas mantém mais de 2.000 emails em suas caixas de entrada, contando com propagandas diversas e desnecessárias. Isso aumenta a chance de perder alguma informação importante.
2. Aprender a dizer não: quando queremos agradar a todos, acabamos por nos sobrecarregar. Além disso, para manter o foco no que foi planejado, é necessário dizer não inclusive para as boas ideias. Já fui convidado para montar e vender cursos de gestão para médicos em algumas ocasiões, mas, apesar de ser uma boa iniciativa, não é minha prioridade agora. Meu objetivo profissional nesse momento é fazer com que meu consultório tenha cada vez mais sucesso.
3. Realizar uma tarefa de cada vez: por mais que tentemos, não conseguimos fazer duas coisas ao mesmo tempo. Pelo menos não com a mesma qualidade. O mais produtivo é terminar o que foi começado, antes de iniciar outra atividade.
4. Aprender a delegar: isto é, delegar a função certa à pessoa certa e controlar os resultados. Diz a máxima: “tudo que é delegável deve ser delegado”. Se pensarmos que até algumas cirurgias, por vezes, são cedidas aos auxiliares, conseguimos ter uma noção da abrangência do que pode ser delegado. Para isso, montar uma equipe confiável é um passo importante. Acredito que o caminho é nos concentrarmos no que é sigiloso e essencial, como aprender, planejar a vida e estar com nossa família.
5. Evitar que as tarefas se tornem urgentes: realizar as tarefas com antecedência evita preocupação e um gasto de energia desnecessário. O que é urgente costuma causar maior preocupação e pode bagunçar nossa rotina. Recomendo fazer o download do cérebro, ou seja, fazer listas de nossas tarefas, classificando-as em importantes, urgentes e circunstanciais. Conforme melhoramos nossa organização devemos dedicar mais tempo às importantes em detrimento das outras.
6. Usar as ferramentas de planejamento disponíveis: uma agenda de papel, softwares em tablets ou smartphones devem ser usados. Memorizar todas as tarefas pode ser uma grande fonte de estresse.
Podemos também utilizar alguns aplicativos que nos ajudam a nos organizar melhor e economizar o nosso tempo. Além das agendas eletrônicas, destaco o Wunderlist, que permite que realizemos listas de tarefas, organizadas por prioridade e compartilhá-las com os nossos colaboradores. Outro aplicativo que vejo com “bons olhos” e que quero conhecer e utilizar melhor é o Evernote. Nesse é possível organizar todos os nossos documentos, e-mails e fotos importantes em um único lugar em formato de notas, tornando muito mais fácil encontrá-los em poucos cliques. Esses dois aplicativos foram-me apresentados pelo amigo Dr. Alexandre Rosa, oftalmologista estudioso do tema produtividade.
7. Identificar o tempo desperdiçado e aproveitá-lo: uma dica prática e que gosto bastante é aproveitar o tempo necessário no deslocamento entre casa e trabalho para ouvir áudio books, podcasts ou vídeoaulas. Recentemente soube de um colega que aproveita o seu tempo de deslocamento no Uber para meditar, utilizando o aplicativo Headscape e achei fantástico. Aprender a utilizar esse tempo pode ser transformador.
Outro ponto importante é evitar a procrastinação no consultório. Sempre existem muitas tarefas importantes a serem realizadas na vida de um médico, principalmente do profissional autônomo. Além da constante atualização técnico-científica necessária, do atendimento e da preocupação com os pacientes, é necessário ainda que administremos nossa carreira da melhor forma possível. Acredito, inclusive, que devemos administrar mais e atender menos, sendo essa uma das formas de atingir o equilíbrio e crescimento sustentável. Sugiro deixarmos cerca 30% do tempo útil para administração e aprendizado e 70% para as praticas clínicas. Baseado nisso, dificilmente estará sobrando tempo durante o horário dito comercial.
Sabemos que uma das maiores vilãs do tempo na atualidade são as redes sociais. Lógico que elas podem ajudar no desenvolvimento de nossa carreira, se forem corretamente utilizadas, mas ficar horas olhando posts sobre a vida dos outros na maioria das vezes não nos agrega em nada e ainda pode nos gerar grande frustração. Assistir diariamente telenovelas, jornais sensacionalistas e séries também são atividades muitas vezes prejudiciais.
Devemos também sempre buscar sair da nossa zona de conforto, inclusive avaliando periodicamente nossos atuais empregos. Caso diagnostiquemos que não estejam alinhados com os nossos objetivos de carreira a médio e longo prazo, devemos buscar coragem para nos desvencilhar dessas atividades que podem atrapalhar para atingir nossa realização profissional. Nesse sentido, muitos se iludem com a promessa de estabilidade de alguns empregos públicos e se submetem a receber salários baixíssimos, trocados por muitas horas de comprometimento.
Outro ponto importante é entendermos o grande valor de nosso tempo “livre”. Segundo o neurocirurgião e mentor de investimentos para médicos, Dr. Francinaldo Gomes, uma pessoa verdadeiramente rica não é a que tem muito dinheiro, mas sim quem tem tempo para fazer o que quer e considera importante. Concordo com esse conceito e que o dinheiro nos ajuda a ter liberdade, mas ele não deixa de ser um meio para atingirmos essa conquista.
Aproveitar esse tempo livre da melhor forma possível com a família e amigos é fundamental para o desenvolvimento de nossas conexões pessoais e para mantermos uma boa saúde mental. Entender a importância de praticar exercícios físicos, apreciar a arte e buscar crescimento pessoal e espiritual também são fundamentais. Sim, diferentemente da procrastinação angustiante, o ócio criativo é muito bem-vindo.
A incidência de Síndrome de Bournout e de suicídios na classe médica chega a ser alarmante e boa parte disso tem relação com a deterioração da qualidade de vida e consequente desequilíbrio emocional inerentes a uma carreira mal planejada, aliada às exigências de alta produtividade e de nunca podermos errar.
Esse ano, isso é em curto prazo e no âmbito pessoal, estabeleci que irei aprofundar meus conhecimentos em investimentos, mindfullness e em paternidade. E você amigo, já estabeleceu suas prioridades?
Dr. Bruno Rossini
Médico Otorrinolaringologista fundador da Clínica Otovita.