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Terapia CRISPR Aplicada com Sucesso em Bebê com Doença Genética

Terapia CRISPR Aplicada com Sucesso em Bebê com Doença Genética
Comunidade Academia Médica
mai. 18 - 3 min de leitura
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Um marco na medicina de precisão, foi o caso do pequeno KJ Muldoon, o primeiro paciente no mundo a receber uma terapia personalizada com CRISPR, desenvolvida exclusivamente para corrigir a mutação genética que ameaçava sua vida.

O estudo, divulgado em Nature em 15 de maio de 2025, representa um avanço na abordagem de doenças genéticas ultra-raras.

Um caso único, uma solução sob medida

KJ Muldoon, atualmente com quase 10 meses, nasceu com uma forma grave de deficiência de carbamoil-fosfato sintetase 1 (CPS1), uma doença genética rara e muitas vezes fatal que impede o corpo de processar adequadamente compostos nitrogenados provenientes da digestão de proteínas. Essa condição faz com que o organismo acumule níveis perigosos de amônia no sangue — um composto altamente tóxico para o cérebro. Em casos graves como o de KJ, cerca de 50% dos bebês não sobrevivem o suficiente para um transplante hepático, o único tratamento disponível até então.

Com o risco iminente de lesão cerebral irreversível ou morte, a equipe do Children's Hospital of Philadelphia, liderada pela médica Rebecca Ahrens-Nicklas, decidiu agir. Em apenas seis meses, um consórcio internacional de cientistas, empresas privadas e agências reguladoras, com apoio do governo dos EUA, desenvolveu, testou e aplicou uma terapia genética baseada em edição de bases CRISPR — uma técnica inovadora capaz de alterar uma única "letra" do DNA com alta precisão, sem cortar a dupla hélice.

A abordagem personalizada passou por testes em camundongos e primatas antes de ser aprovada pela FDA em tempo recorde. Empresas do setor de biotecnologia doaram componentes e conhecimentos técnicos proprietários para viabilizar o projeto. Essa colaboração acelerada entre academia, indústria e governo é considerada um modelo potencial para o tratamento de outras doenças ultra-raras.

KJ recebeu três doses da terapia experimental. Após a primeira, já foi possível introduzir a quantidade recomendada de proteína na dieta infantil com segurança, embora ainda com suporte medicamentoso. A segunda dose permitiu reduzir significativamente as medicações utilizadas para controlar os níveis de amônia. A terceira e última dose foi administrada recentemente, e os médicos seguem diminuindo gradualmente a necessidade de medicamentos — uma indicação de que a terapia está promovendo efeitos duradouros.

Apesar dos resultados, os especialistas alertam que ainda é cedo para falar em cura. A equipe médica continuará monitorando KJ por vários anos para avaliar a durabilidade dos efeitos e potenciais riscos a longo prazo.

Embora o sucesso de KJ traga esperança para famílias enfrentando doenças genéticas raras, o modelo de terapia “um para um” ainda apresenta desafios significativos, especialmente relacionados aos custos e à escalabilidade. Terapias gênicas personalizadas exigem investimentos milionários para desenvolvimento e regulamentação, o que limita sua aplicação em larga escala.

No entanto, especialistas como Arkasubhra Ghosh, do Narayana Nethralaya Eye Hospital na Índia, acreditam que o caso de KJ é um vislumbre do futuro: “Este é o caminho para a próxima geração de terapias gênicas e celulares.” Já o médico Waseem Qasim, da University College London, classificou o feito como “extraordinário”.

Referência:

Ledford, H. (2025, May 15). World’s first personalized CRISPR therapy given to baby with genetic disease. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-025-01496-z


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