Nos últimos anos, houve uma mudança geral na relação de poder entre médicos e pacientes. Houve o surgimento do paciente expert que, como expõe o estudo intitulado "A internet, o paciente expert e a prática médica: uma análise bibliográfica", da Ensp/Fiocruz, sob a tutela da Dra Helena Beatriz da Rocha Garbin:
"um paciente que busca informações sobre diagnósticos, doenças, sintomas, medicamentos e custos de internação e tratamento. O fato de ter acesso à quantidade de informações disponíveis na internet, independente de sua veracidade, pode fazer com que este paciente esteja potencialmente menos disposto a acatar passivamente as determinações médicas".
O médico, todavia, muitas vezes ainda se comporta como único detentor do conhecimento, o que põe em xeque a relação médico-paciente estabelecida.
O Código de Ética Médica, em sua nova edição, expressa nos artigos XXI (Princípios Fundamentais) e nos artigos XIII, XXIV e XXXIV (Responsabilidade Profissional) a necessidade de tomada de decisão em conjunto com o paciente, assim como o esclarecimento sobre a afecção que o acomete.*
Muitas vezes isso acaba não acontecendo devido a inúmeros motivos, sendo a maioria deles eticamente injustificáveis. Para contornar a falta de informação, os pacientes e familiares recorrem à internet para diminuir a angústia gerada pela ignorância sobre o estado atual de sua saúde.
O tão falado Dr. Google supre o doente com uma enxurrada de informações que podem ser corretas (fontes oficiais e sites idôneos), incompletas, contraditórias, incorretas ou até fraudulentas. O que ele muitas vezes provoca é a desconfiança de que não falamos tudo para o paciente ou que estamos errados sobre aquela patologia ou seu tratamento.
Isso acontece devido à falta de sensibilidade médica que um texto, uma notícia ou um blog possuem. Quando o paciente procura algo sobre sua doença na internet, o que ele encontra é toda a informação disponível sobre o assunto. Ou seja, desespero completo, pois todas as apresentações possíveis da afecção são ingeridas e, infelizmente, não digeridas. Nem o paciente, nem o texto que ele leu frequentaram a escola de Medicina, portanto a informação acaba se tornando prejudicial sem o juízo de valores que o médico, apenas, pode dar.
O que gostaria de propor com essa publicação é que orientemos o paciente a usar fontes confiáveis, que melhorem o entendimento de sua doença sem causar esse desespero para o paciente. O que proponho aqui é uma prescrição de informação, com indicação de sites com linguagem simples e conteúdo correto sobre as diversas enfermidades que afligem nossos pacientes. Com isso será possível para os colegas criar um portfólio para fornecer a seus respectivos clientes.
Por enquanto, temos um sério problema para população brasileira. Ainda encontramos poucos sites idôneos escritos em português. Uma alternativa é usar vídeos traduzidos do Youtube para esse fim.
Sugestões de fontes de informação
Nesse canal encontramos vídeos que demonstram a fisiologia da ovulação, a fisiopatologia da aterosclerose, TVP e embolia pulmonar, e também procedimentos cirúrgicos como a revascularização do miocárdio, a artroplastia total de quadril, a colecistectomia, entre outros. O site em inglês www.nucleusinc.com é muito mais completo e possui ferramentas valiosas para indicar para seus pacientes, para utilizar no consultório ou para elaborar uma aula.
Nesse site encontramos vídeos, animações e aulas bastante completas indicadas para informar leigos e até profissionais da saúde sobre inúmeras patologias. Infelizmente, não há nenhuma tradução dos vídeos ou dos slides para o português sendo, portanto, indicado apenas para aqueles pacientes que têm boa compreensão da língua inglesa, ou que possuam algum familiar com tal habilidade para traduzir e acompanhar as informações junto com o cliente.
Você tem alguma sugestão de fonte de informação?
Veja também:
Links de sites e reportagens de revistas e jornais
- Ciência Hoje - Dr. Google e seus bilhões de pacientes ; Pacientes internautas
- Estadão - Doutor Google
- Site que usa relatos de pacientes como fonte de entendimento sobre a doençahttp://www.patientslikeme.com/ -
- Dr. Google misdiagnoses patients, Canadian physician warns Internet usershttp://www.globalnews.ca/health/health/6442629552/story.html -
*ARTIGOS DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA CITADOS NO TEXTO
XXI – No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas.
É vedado ao médico:
Art. 13. Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença.
Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.
Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal.
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