Comumente ao final de ano traçamos objetivos que se comportam como um mapa indicando o caminho do sucesso para o ano que virá.
É desnecessário dizer que em 2020 muitos dos planos não foram concluídos e esse resultado, por muitas vezes não dependeu das nossas escolhas. Assim como um agricultor que cuidou do seu solo, adubou cada muda, plantou e teve toda a lavoura destruída por uma enchente, nesse fim de ano, recolhemos o que sobrou após a tempestade.
Lembro-me do livro O velho e o mar do Ernest Hemingway (1952). Em síntese um pequeníssimo livro que narra a aventura de um velho pescador que passa 84 dias sem pescar nenhum peixe e desacreditado por todos da sua vila. A beleza da obra não está apenas no seu desfecho, por isso contarei detalhes dela para relacionar com a temática desta crônica.
Santiago, o pescador, lança-se ao mar a procura do peixe necessário para sua subsistência, este é seu objetivo, sua necessidade. O personagem faz isso por mais de 80 dias sem sucesso e quando consegue pescar um peixe com tamanho descomunal, tem durante sua trajetória a degradação do animal e por fim, ao chegar na praia, percebe que conseguiu apenas trazer o esqueleto do peixe.
Santiago, assim como nós, não alcançou seus objetivos, independentemente do quanto se esforçasse, existem coisas que estão para além do controle humano e seria benéfico que soubéssemos equacionar isso na nossa existência.
O esforço não é a medida única do sucesso, existem vitórias que não estão vinculadas a troféus. Santiago nos comprovou isso.
Creio que esse ano tenha sido a demonstração mais pura do quanto a nossa realidade é muito mais contingencial do que controlada por nós.
Acredito que é interessante que reconheçamos as carcaças que foram pescadas e analisemos as contingências envolvidas em cada trajetória individual.
Por isso, lança teu barco contra o mar.
Um feliz natal, ano novo e boas pescarias.
“Agora não há tempo para pensar o que você não tem. Pense no que pode fazer com o que tem.”
O Velho e o Mar, Ernest Hemingway
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