Transplante de Órgãos no Brasil
"País não alcança meta de doações" é o que diz o título da reportagem do Jornal Medicina do CFM. De acordo com a reportagem, o primeiro trimestre de 2014 foi marcado por uma queda no número de transplantes no Brasil, fato que preocupa entidades relacionadas (como a ABTO- Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
Isso já vem sendo observado há algum tempo: ano passado a taxa de doadores efetivos por milhão de população (pmp) foi de 13,2. Esse número está abaixo da meta (que era de 13,5), e muito abaixo da taxa observada em outros países, como: Espanha, em que a taxa é acima de 30, e EUA, em que é de 24 pmp.
Vários fatores contribuem para que o Brasil não consiga avançar e alcançar uma taxa satisfatória de transplantes. Um deles é a precariedade dos serviços públicos (onde os potenciais doadores recebem os primeiros socorros) o que influencia também negativamente na manutenção dos doadores de forma adequada, ou seja, em boas condições hemodinâmicas.
Outro ponto importante é a formação das equipes especializadas. Apesar de hoje termos condições de capacitar, aqui mesmo no Brasil, os profissionais que irão trabalhar com transplantes, a disparidade existente entre os hospitais capacitadores (centros de excelência) e os hospitais de origem, ainda é muito grande. O que dificulta depois a prática, pois esses profissionais capacitados nos grandes centros, ao voltarem para os locais de origem, se deparam com uma realidade totalmente diferente. De acordo com o diretor do Grupo Hepato, Tércio Genzini uma alternativa seria levar a esses locais uma equipe multiprofissional, a fim de adequar as instituições interessadas para a captação de órgãos e realização de transplantes, ou seja, fazer a capacitação de profissionais locais conforme as suas condições reais de trabalho.
Um outro grande problema é a desinformação. De acordo com o presidente da ABTO, Lúcio Pacheco, a taxa de recusa familiar é de 47%, essa foi a principal causa da não concretização da doação de órgãos de potenciais doadores notificados no 1º trimestre de 2014. Portanto, cabe a nós também profissionais de saúde, ajudar a promover o esclarecimento da população. Além disso, de acordo com Pacheco também deve ser estimulado aos médicos a notificação de potenciais doadores às centrais.
A informação é um fator essencial para o aumento do número de doadores potenciais, infelizmente existem ainda muitos mitos em relação à doação de órgãos. No artigo de revisão "Fatores de interferência no processo de doação de órgãos e tecidos: revisão da literatura" os autores apontaram os aspectos mais importantes que interferem no consentimento da família. São eles:
- dificuldade de compreensão do diagnóstico de morte encefálica;
- desconhecimento do desejo do falecido sobre a doação dos órgãos;
- necessidade da família de preservar a integridade do corpo do falecido;
- divergência de opiniões entre familiares a respeito da doação,;
- tempo escasso para a tomada de decisão de doar e falha na comunicação entre o profissional e a família".
Percebemos assim, a importância de uma comunicação efetiva entre a equipe multiprofissional e a família, a fim de influenciar positivamente na decisão de doação.
O que muitas pessoas ainda não sabem é que para ser um doador de órgãos no Brasil, não é necessário nenhum documento por escrito, basta que a pessoa informe a família de sua intenção, pois em caso de morte encefálica, apenas a família tem o poder de autorizar a doação.
Esse site da ABTO traz algumas informações de forma bem simples a cerca das dúvidas e mitos que muitas pessoas ainda tem em relação ao assunto: http://www.euassumi.com.br/.
No Brasil, a fila de espera por um órgão ainda é muito grande. Cerca de 28 mil pessoas aguardam atualmente por um transplante. De acordo com dados de março de 2014 da Associação Brasileira de Transplantes, 17.969 pessoas aguardam por um transplante de rim; 7.783 aguardam por um transplante de córnea e 1.411 esperam por um transplante de fígado.
O país ainda sofre muito com as dificuldades de captação e logística para o transporte de órgãos e a disparidade existente entre os estados é muito evidente. Nesse primeiro trimestre de 2014, além da queda no número de transplantes, alguns estados brasileiros nem sequer iniciaram as atividades de doação (como RR, AP e TO), outros ainda, embora tenham feito notificações, não efetivaram as doações nesse período, é o caso de SE, RO e MT.
Mas uma boa notícia foi o resultado obtido pelo Ceará: o estado alcançou uma taxa de 29,3 doadores pmp, a melhor do país, ultrapassando até o estado de Santa Catarina, que esteve em primeiro nos últimos anos. O crescimento contínuo do Ceará e Distrito Federal tanto nas taxas de doação, quanto nas de transplante, colocam esses dois estados à frente no país, juntamente com Santa Catarina.
Por outro lado, estados tradicionais como RS e PR, sofreram uma queda de 33% nas taxas de doação no trimestre.
Uma bela campanha da Santa Casa de São Paulo tenta sensibilizar a população para o tamanho da fila de transplantes:
Fontes: http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/?numero=233 http://www.abto.org.br/abtov03/default.aspx?mn=476&c=0&s=157&pop=true