A terapia de precisão no tratamento do câncer está se encaminhando para uma abordagem inovadora que envolve testar uma vasta gama de medicamentos nas células cancerígenas do próprio paciente, cultivadas fora do corpo. Esta estratégia, conhecida como medicina de precisão funcional, visa identificar o tratamento mais eficaz para cada paciente, independentemente das orientações genômicas que dominaram o campo até agora.
Um exemplo notável destacado no artigo da Nature, em 14 de fevereiro de 2024, é o caso de Kevin Sander, cujo câncer - linfoma, havia retornado, deixando-o com poucas opções de tratamento. Ao participar de um ensaio clínico liderado por Philipp Staber na Universidade Médica de Viena, 130 compostos foram testados nas células do câncer de Sander, resultando na identificação de um inibidor de quinase, um medicamento aprovado para câncer de tireoide, mas raramente utilizado para o raro subtipo de linfoma que Sander tinha. O tratamento foi bem-sucedido, permitindo a Sander passar por um transplante de células-tronco e entrar em remissão.
Esta abordagem difere da medicina de precisão tradicional, que se baseia em dados genéticos e na compreensão da biologia tumoral para selecionar tratamentos. Ao invés disso, ela testa uma variedade de medicamentos nas células cancerígenas em laboratório para descobrir qual é o mais eficaz. Estudos piloto revelaram que mais da metade dos pacientes com neoplasias hematológicas tratados com base em testes funcionais de drogas experimentaram períodos de remissão mais longos em comparação com tratamentos padrão.
A pesquisa em medicina de precisão funcional enfrenta desafios, especialmente no cultivo de células cancerígenas fora do corpo e na replicação das condições complexas dos tumores sólidos. Métodos variados estão sendo explorados, desde o cultivo de amostras de tumores em camundongos e embriões de galinha até a criação de organoides cuidadosamente projetados. Apesar desses desafios, a demanda dos pacientes por essas abordagens personalizadas está crescendo, marcando uma revolução no tratamento do câncer.
A implementação dessas estratégias requer equipamentos caros e pessoal treinado, representando uma limitação significativa, especialmente em locais com recursos limitados. No entanto, os avanços tecnológicos e a expansão da farmacopeia estão mudando essa realidade, permitindo a realização de testes de drogas personalizados que podem alinhar os resultados do teste com os resultados dos pacientes com precisão de cerca de 80%.
A abordagem inovadora da medicina de precisão funcional tem o potencial de transformar o tratamento do câncer, oferecendo esperança a pacientes que, de outra forma, teriam poucas opções. À medida que mais dados clínicos se tornam disponíveis, espera-se que essa estratégia ganhe aceitação mais ampla, superando políticas e práticas estabelecidas que atualmente limitam seu uso. Este é um momento de esperança na luta contra o câncer, onde a personalização do tratamento pode significar uma nova era de cuidados mais eficazes e direcionados.
Para mais detalhes do artigo original, disponibilizamos aqui o link de acesso.
Referência:
Dolgin, E. (2024, February 14). The future of precision cancer therapy might be to try everything. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00392-2#ref-CR1