Um estudo liderado pela Stanford Medicine e publicado em 02 de abril de 2025, na revista Nature trouxe uma descoberta promissora na luta contra a demência. Analisando os registros de saúde de idosos no País de Gales, os pesquisadores descobriram que aqueles que receberam a vacina contra herpes zóster apresentaram uma redução de 20% no risco de desenvolver demência ao longo de sete anos em comparação com aqueles que não foram vacinados.
Este estudo apoia a teoria emergente de que vírus que afetam o sistema nervoso podem aumentar o risco de demência. A herpes zóster, uma infecção viral que provoca uma erupção cutânea dolorosa, é causada pelo mesmo vírus da varicela. Após a infecção inicial, geralmente na infância, o vírus permanece dormente nas células nervosas e pode ser reativado em idade mais avançada ou com sistemas imunológicos enfraquecidos.
A demência afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 10 milhões de novos casos a cada ano. Tradicionalmente, a pesquisa em demência focou no acúmulo de placas e emaranhados no cérebro associados ao Alzheimer. Contudo, sem avanços significativos em prevenção ou tratamento, alguns cientistas começaram a explorar outras vias, incluindo o papel de certas infecções virais.
Um aspecto inovador do estudo em Gales foi o método de distribuição da vacina, que funcionou como um experimento natural. A política de vacinação, que começou em 1º de setembro de 2013, estabeleceu que apenas as pessoas que tinham 79 anos naquela data poderiam ser vacinadas durante um ano. Aqueles que tinham 80 anos ou mais na mesma data não se tornariam elegíveis, criando uma comparação quase aleatória entre indivíduos muito semelhantes em idade, mas diferentes na elegibilidade para a vacina.
Os resultados do estudo foram robustos. Ao comparar indivíduos que estavam próximos ao limite de idade para elegibilidade, os pesquisadores observaram que a vacina reduziu a incidência de herpes zóster em cerca de 37% entre os vacinados, um resultado alinhado com os encontrados em ensaios clínicos da vacina. Mais importante, até 2020, um em cada oito idosos diagnosticados com demência tinha recebido a vacina, mostrando que os vacinados tinham 20% menos chances de desenvolver a doença.
Curiosamente, a proteção contra a demência foi mais pronunciada em mulheres do que em homens, o que pode estar relacionado a diferenças na resposta imunológica ou no desenvolvimento da demência entre os sexos. As mulheres geralmente têm respostas mais altas de anticorpos à vacinação, por exemplo, e a herpes zóster é mais comum entre elas.
Embora ainda seja necessário investigar se uma versão mais recente da vacina, que contém apenas certas proteínas do vírus, possa ter um impacto similar ou maior na demência, os resultados atuais são promissores e abrem caminho para novas pesquisas e potenciais intervenções preventivas.
Referência:
Stanford Medicine. "Study strengthens link between shingles vaccine and lower dementia risk." ScienceDaily. ScienceDaily, 2 April 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/04/250402122149.htm>.