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A virulência do novo "E-Bola" nos hospitais brasileiros

A virulência do novo "E-Bola" nos hospitais brasileiros
Fernando Carbonieri
nov. 20 - 5 min de leitura
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Sabidamente o Ebola é o virus mais mortal que existe. Entretanto, ele não é um virus eficiente, por matar seu hospedeiro antes que ele consiga se reproduzir ou ser transmitido para outros. Uma nova cepa, com efeitos totalmente diferentes, possui a mesma virulência, sem necessariamente matar o hospedeiro, mas deixa sequelas irreparáveis na vida pública de um médico. Estamos falando do "E-Bola" e o descrevo um pouco mais adiante.

Todos os dias nos deparamos com algum novo vídeo feito por pacientes, familiares de pacientes, ou mesmo, de qualquer pessoa que se encontra passando e acha que pode servir a sociedade mostrando a feição da realidade que deseja (ou que enxerga). Quando tudo isso cai na mídia social a virulência de algo desse tipo é instantânea e avassaladora. É o E-Bola assassino de reputações.

Esse é um virus ainda "melhor" do que o próprio E-Bola. As imagens virais, que mostram uma cena miserável, se espalham de forma as vezes intangível, por mídias sociais das mais variadas. Facebook, whatsapp, email, instagram... Qualquer meio é suficiente pra se alastrar o ponto de vista filmado por aquele que se sente ofendido. 

Tudo isso alimenta a fome voraz dos leitores (ou expectadores) sedentos por sangue, tragédia ou exposição distorcida de uma realidade doente e incompreensível. O bizarro atrai, a tragédia seduz e a exposição das fraquezas alimenta as massas.

Não há mais espaço para ser explicativo ou mostrar os bastidores de um atendimento em UPAs falidas, UBSs sem insumos ou em hospitais terciários superlotados. A negligência do Estado é tão grande, que ninguém tem a segurança de procurar seus direitos pelas vias legais. Ninguém tem a paciência de procurar seus direitos. Esse é o país que vivemos.

Hoje, qualquer profissional de saúde pode esperar a condenação sumária de qualquer transeunte. Para eles não temos direitos, não podemos ficar cansados, não podemos estar impotentes. Alías... muitas vezes somos os escolhidos para culpar por toda a incapacidade daquele que deveria dar o mínimo para o povo. O Estado é um ser inatingível, então a lógica é atingir o profissional da linha de frente, seja ele médico, enfermeiro ou até estudante. Vestiu jaleco, pode ter certeza que você terá milhares de câmeras engatilhadas prontas para demonstrar a faceta que pode ser a mais vexatória possível frente ao julgmento da massa digital.

O que fazer com essa exposição toda? Como se proteger? 

Sinceramente não sei se existe proteção quanto a chateação de você ser colocado em evidência negativa nas redes sociais. Talvez a melhor maneira seria a transparência sobre a precariedade das condições de trabalho. Obviamente sabemos que é quase impossivel ser transparente quanto a incapacidade administrativa das secretarias de saúde sem que retaliações ocorram, mas não custa sonhar com uma instituição de saúde transparente.

Algumas coisas podem ser feitas caso você seja vítima do tiroteio de câmeras de celular. Eis aqui alguns passos:

1) Segure seus dedos - não responda sumariamente, nas redes sociais ou na raiva. Você provavelmente irá fornecer componentes que "jogarão" contra você devido ao caráter reativo e irracional que toda a situação é capaz de produzir.

2) Procure um advogado urgentemente - Você tem uma imagem a zelar. Colocar um profissional para te ajudar com os caminhos de reparação da tua honra é fundamental para que você tenha seus direitos executados.

3) Solicite um parecer da diretoria clínica e técnica - O hospital deve ser solidário com a pessoa que trabalha em seus ambientes, sendo capacidade do diretor técnco e clínico ser voz também do médico que trabalha na instituição.

4) Notifique a pessoa que iniciou o efeito viral do vídeo abusivo. Solicite que pare (no caso o seu advogado o deve fazer) primeiramente com uma notificação extra judicial. Relate que todas as publicações foram copiadas e registradas. 

5) Solicite imediata retirada do conteúdo.

6) Inicie um processo de reparação a danos morais.

7) Solicite retratação pública por todos os meios onde a mensagem circulou.

8) Não desista - Não  pare de exaltar a incapacidade que temos frente a todas as câmeras. Busque seus direitos e reparação à sua honra e moral. Sabe-se que um processo destes pode ser desgastante, entretanto, apenas a seriedade e resiliência podem desenhar um futuro melhor, com mais respeito entre prestadores de serviço e pacientes.

Não há muita prevenção contra o E-Bola digital nutrido pelo Estado incompetente, mas quem sabe ainda podemos buscar algum remédio frente a esta chaga que dizima reputações internet afora.

Logicamente este não é um texto para esgotar o assunto. Procuramos trazer mais e mais conteúdos para expandir a nossa capacidade de defesa profissional ou da nossa profissão. Siga a Tag Direito Médico para acompanhar discussões deste tipo.


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