Newton nos ensinou que todo corpo continua em seu estado de repouso ou movimento, a menos que seja forçado a mudar aquele estado. Quem tá parado, fica parado. Quem tá andando, continua andando, sem mudar sua velocidade. Essa verdade vale para o cérebro também! Se o deixarmos somente funcionar apenas como órgão vital é isso que vai acontecer, não mudaremos nunca, permaneceremos na zona de conforto, teremos medo das mudanças, viramos neofóbicos, misoneístas.
A quebra do pensar exige treinamento, exige ambiente, exige vontade. Estar em grupos que nos estimulem, que nos desafiem, que nos traga problemas é fundamental. Precisamos virar um fruto desse meio. É na inovação e criatividade que conseguimos transformar os processos e ideias.
A inovação acarreta em executar algo de maneira diferente ou iniciar uma realidade nova em um processo atual. Lendo Liberali veio a certeza de que essa inovação com criatividade é fundamental em tudo que está acontecendo de forma exponencial. Esse novo processo inovação-criatividade, para ser aceito como um novo status quo, deve melhorar e/ou baratear o custo do processo.
É natural e compreensível a fobia do novo, uma resistência à mudança, porém irracional. Sou médico, posso afirmar que na faculdade o aprendizado voltado a ensaios clínicos duplo cegos em cima de teorias pré-concebidas como verdade absoluta causa um certo limite para a criatividade.
Nos últimos anos, com apoio da tecnologia isso vem mudando muito e exponencialmente. Não saber o que está à nossa frente e a certeza do que já passou e do que é hoje, acabamos preferindo o conhecido, a célere expressão “em time que tá ganhando não se mexe”. Mexer nesse time só no dia em que ele perder uma partida gera desgaste, perda de tempo e dinheiro.
Essa inércia traz uma desvantagem para os profissionais de saúde. Boa parte das tecnologias médicas inventadas não partiram dos profissionais de saúde. Físicos, engenheiros, matemáticos, químicos, cientistas… alguns até estudantes de medicina, como é o caso de Eithoven e o eletrocardiograma.
Em 1834 um famoso jornal tinha escrito que o estetoscópio iria cair em desuso logo, uma vez que seu valor era discutível, distanciava o médico e o paciente, que contradizia hábitos e procedimentos sabidamente comprovados. O resto dessa história não preciso contar.
Quantos hábitos e procedimentos comprovados não vemos hoje? Acredito que esse paradigma está se quebrando. Vejo médicos aprendendo linguagem de programação, design thinking, gestão… então é só questão de tempo (e tempo curto). Vejo meus alunos misturando aprendizado de lactato com Python e finanças. Quem seria o indivíduo mais empático ao sofrimento e necessidade do paciente? Pois bem! A tecnologia está contribuindo profundamente nesse processo. Os techmeds ou tecnomédicos para atender os techpatients ou tecnopacientes.
Como gestor e empreendedor entendo o mantra Fail Fast, que significa fracasse rapidamente. Não é questão de almejar o fracasso, mas sim cultivar a resiliência e adaptar-se o mais rápido possível, aprendendo com os próprios erros. Esse mantra do fracasso no meio médico está relacionado a morte ou perda de função permanente ou temporária do paciente. Erro e fracasso na saúde são palavrões. Ai que entra a Inteligência Artificial. Essa tecnologia estabelece algoritmos de predição do que pode acontecer com o paciente com uma precisão surpreendente, e cada vez mais precisa.
Tenho a certeza disso quando vejo gigantes da tecnologia com suas divisões de saúde. Hoje se eu coloco uma unidade chamada de Tecnologia Médica dentro de um hospital, eu acabo rotulando que todas as outras unidades não têm tecnologia. Um erro grosseiro. Mas se coloco um setor de saúde dentro de uma empresa de tecnologia, considero que tem muita coisa que está acontecendo e estar por acontecer.
Hoje tudo é tech! Finanças, medicina, agronegócio, alimentação, transporte, segurança, educação… O conhecimento sobre inteligência artificial, machine learning e big data está deixando determinadas profissões e indo para dentro das faculdades de outras profissões como finanças, medicina, agronegócio, alimentação, transporte, segurança, educação… Na Marinha aprendi que o militar é um mar de conhecimento, porém de profundidade muito rasa. Hoje todo mundo precisa desse mar, mas a maré vai aumentar essa profundidade.
Especificamente sobre o avanço na área de saúde, a ampliação de domínios não fica apenas para as gigantes de tecnologia. Empresas como Amazon (comércio), Berkshire Hathaway (seguros e investimentos), JP Morgan (serviços financeiros), Facebook (rede social), SoftBank (banco) e CB Insights (private equity) também estão adentrando a área de saúde. Já temos cardiologista trabalhando na Amazon!
O aumento da expectativa de vida, os avanços nos conhecimentos médicos, o processo de individualização das medidas preventivas, diagnósticas e terapêuticas e a medicina de precisão fazem da saúde um setor em franca expansão.
Não estou falando de telemedicina! Ela é só uma ponte pelo que estar por vir, é só o start. Estou falando de Machine Learning, Inteligência Artifical, Deep Learning, Big Data, Health Data Science, Health Data Analytics… Estou falando de nanorobôs, wearables, insideables… É a máquina se autoaperfeiçoando. Elas servirão para atividades repetitivas na saúde, sobrando mais tempo para os médicos tornarem-se mais médicos e mais humanos.
Novas especialidades surgirão. Formação para médicos especialistas em telemedicina, economia do cuidado e inteligência artificial já é atualidade. Logo teremos médicos especialistas nessas outras áreas acima. Todo o ecossistema de saúde está em ebulição. Possíveis protagonistas de um futuro próximo nem sequer atuam hoje. O volume de dados gerados nos 2 últimos anos é equiparável aos 100 anos anteriores. É exponencial.
Há 5 anos atrás achávamos que mapeamento genético, detecção de tumores menores que 2 mm em fase inicial, métricas autogerenciáveis de eficiência, prontuário eletrônico único, empoderamento dos pacientes, nanorobôs e novos órgãos para transplante era coisa de um futuro longínquo.
Bem, inclusive no Brasil, já conseguimos mapear boa parte da nossa genética em laboratórios, a Ressonância magnética e o PET-CT (tomografia por emissão de pósitrons) para diagnóstico de tumores mínimos em fase inicial é realidade no SUS (Sistema Único de Saúde), temos sistema de gestão e eficiência com Machine Learning em operação, o prontuário eletrônico único tá vindo com o DigiSUS (no SUS!) esse ano, o empoderamento do paciente já é possível com ajuda dos wearables e insideables, conseguimos imprimir órgãos humanos em impressoras, conseguimos predizer com algumas horas com um boné se o paciente vai apresentar uma crise convulsiva, entre muitas outras coisas.
É época dos médicos Millenials. Eles são mais imediatistas, estão mais habituados com a velocidade que a tecnologia possibilita e esperam respostas mais rápidas e importância no momento que precisam e querem, para solucionar com celeridade e destreza as situações com as quais tem que lidar. 100% conectados, é fácil e útil consultar quaisquer dados que necessitem, buscar opiniões e discutir com colegas e outros profissionais.
Os mais antigos afirmam que os Millenials são, ainda, uma geração meio sem foco. Essa interpretação advém, basicamente, de uma mudança de prioridade, numa valorização do estilo de vida, numa vida fora das paredes dos hospitais. A Liberali, que é uma Millenial, coloca esse ponto de vista, quando versa sobre o que é a vida hoje. Eles têm uma expectativa para suas carreiras, mas sem negligenciar suas vidas pessoais. Não são menos afeiçoados à medicina, apenas procuram se equilibrar com outros interesses, como empreendedorismo, inovação, tecnologia, gestão e pesquisa. Isso não é falta de foco, demonstra criatividade e ambição, qualidades plenamente exigidas nesse novo mundo exponencial.
Os 50 anos em 5 ficou na década de Brasília. Agora são 100 anos em 1. E todas essas transformações detonam com a primeira lei de Newton. Já no presente e no breve futuro do homo sapiens não cabe mais a inércia do pensamento. Gostem ou não, é o novo status quo, a quinta lei de Newton.
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