Por Fernando Carbonieri
Em uma oficina ministrada no COBEM 2012, a Dra. Patricia Zen Tempski demonstrou um método para desenvolver a empatia nos acadêmicos de medicina. Colaboraram também com o evento: Munique Almeida, Helena Borges Martins da Silva Paro e Bruno Perotta.
A oficina começou comparando e alinhando os valores apresentados pelas Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Medicina, o Tomorrow Doctors e a Agenda ESME. Esses documentos tem em comum elencar as competências emocionais como norte da formação médica.
Competências emocionais:
A empatia é vista como uma das mais importantes habilidades. Significa "sentir com o outro" e sentir também o porquê ele sente desse jeito. Em uma analogia, seria como os americanos exemplificam: a empatia é como caminhar com os sapatos do seu paciente. Mais que isso, a Dra. Tempski fala em caminhar com o paciente.
Componentes da empatia:
Ela e sua colaboradora relataram uma variação desses componentes nas diversas culturas, ou seja, o brasileiro empatiza de forma diferente do americano. Por consequência, o jeito de ensinar empatia nos EUA não pode ser o mesmo que no Brasil.
Em relação à criação da empatia, Tempski diz que ela pode ser um dom que pode ser aprimorado, mas também pode ser desenvolvida. E como desenvolver a empatia?
Uma condição própria da Dra. Tempski (uma paralisia intermitente que demorou muito tempo a ser diagnosticada) foi o estopim para iniciar e desenvolver esse trabalho. Ela teve um insight "freiriano" de que aprender sentindo é diferente de aprender fazendo. Ela propõe que ao invés de cada um viver no seu quadrado, deve-se tentar viver no quadrado do outro às vezes. Para tal, ela reproduziu uma dinâmica para sentir como o outro e compartilhar esses sentimentos. Essa dinâmica foi feita pela primeira vez na Faculdade Evangélica de Medicina - FEPAR - em Curitiba, no ano de 2009 e agora, em 2012, segue seu desenvolvimento na Faculdade de Medicina da USP. O método é barato e tenta reproduzir para o aluno como é viver com as condições adversas da vida, no intuito de criar habilidades emocionais nos futuros médicos.
Para os cegos, ela utilizou tampões oculares que custam R$ 5,00. Para reproduzir pacientes com dificuldade de deambulação, foram utilizadas cadeiras de rodas e muletas canadenses. Simulando avida na terciera idade, foi utilizado pesos nas pernas, óculos de mergulho foscos para simular cataratas, luvas de borracha (aquelas para limpeza pesada) para simular a perda da coordenação e tato. Para o entendimento de como é a vida de uma grávida, foi utilizado um colete com pesos que simulavam a postura e o aumento de peso sofrido por elas.
Iniciando a dinâmica, foi jogado um punhado de moedas no chão e dada a tarefa de comprar um simples chicletes na banca mais próxima do centro de eventos onde está sendo o COBEM. Ao cumprirem a tarefa, os voluntários relataram suas experiências:
Deficientes visuais: "Tive uma sensação de extrema insegurança. Descer escadas foi mais difícil que subir"; outro disse: "Parecia um buraco negro, eu me espantei ao ouvir a pergunta de que sabor de chicletes eu gostaria. Não poder ver a embalagem foi angustiante, pois só pude saber que o chicletes era de menta mesmo quando o pus na boca."
Idoso: "Senti insegurança, perda da autonomia e decisão."
Cuidador do idoso: "Tinha que manter meu braço firme e imóvel para poder dar segurança a o idoso."
O relato mais interessante foi: "Dá muito medo de entregar todo você para outra pessoa."
O grávido: "Fiquei com medo de engravidar alguém!"
Assim que tivermos a autorização da Doutora Patrícia Zen Tempski publicaremos os modelos por ela utilizados nessa dinâmica. Enquanto isso fique com este excelente vídeo da Cleveland Clinic sobre a Empatia.