É de fato interessante quando observarmos uma imagem de um médico da década de 1920: jaleco branco, estetoscópio no pescoço e transpondo pelos poros aquele escopo de sabedoria. Seria fácil fazer um Control-C e Control-V e transportá-lo habilmente para 100 anos adiante nos dias atuais, sem problemas, e observarmos como nós, médicos ditos modernos, copiamos fielmente este mesmo modelo sem ao menos raciocinar sobre. Nelson Rodrigues em seu livro "O Óbvio Ululante", em certa crônica, dispara que o que matou Assis Châteaubriant não foi a trombose. Foi a inAtualidade. Estaremos também fadados lentamente a morrer se não nos atualizarmos. Falo não só da tecnologia médica e não médica – mas também da própria medicina em si.
Esse apego suicida ao passado nos dá uma estranha segurança.
- Qual o medo do futuro?
- Não nos enquadrarmos na vida?
- O não enquadramento, depende do futuro ou depende de nós mesmos?
Durante toda a evolução, os seres humanos desenvolveram máquinas que aumentaram nossas habilidades naturais. A capacidade das pernas se locomoverem foi aumentada com os automóveis - quanto mais rápido no movemos hoje de uma cidade a outra ou mesmo entre países. E o avião? - mais ainda; A força dos braços se ampliou pelo uso dos tratores, braços mecânicos , membros biônicos , exoesqueleto, etc. ; e, paulatinamente, a capacidade de raciocínio está avançando com a contribuição da inteligência artificial. Quem sabe um dia teremos chips e entradas USB no nosso cérebro! Por enquanto, esta inteligência está abrigada fora de nós , em softwares de apoio a decisão médica.
Devemos nos preparar para uma nova era computacional dentro da medicina, na qual nossa profissão, desde sempre plenamente alicerçada em uma atividade cerebral-mental, será ampliada por uma nova máquina – a inteligência artificial.
É mister que nos envolvamos nessa transformação. Do mesmo modo que na Revolução Industrial os revoltados que quebraram teares contra a evolução não conseguiram impedir a mudança, não é prudente que individualmente ou coletivamente tentemos destruir a 'intromissão' da inteligência artificial na medicina. É mais produtivo nos beneficiarmos dela, com estudo e aprimoramento, nos envolvendo nessa inevitável evolução/revolução.
Da Curadoria: o livro citado no início desse texto, O Óbvio Ululante, escrito por Nelson Rodrigues, está disponível na Amazon por R$ 29,90.