Há pouco menos de 50 anos, o cenário médico era constituído em sua (quase) totalidade por homens, 90% para ser mais exata. No entanto, gradualmente, o jaleco branco se abriu para um número cada vez maior de mulheres interessadas em seguir carreira na medicina, e hoje elas já somam cerca de 53,3% dos médicos brasileiros. Isto é, mulheres não só se equiparam, mas ultrapassam os homens - chamaremos esse fenômeno de feminização da medicina. Mas o que isso significa em termos práticos? [1]
Bom, vamos aos aspectos positivos:
Alguns autores afirmam que as mulheres médicas são mais propensas do que seus colegas masculinos a harmonizar a relação médico-paciente, pois adotam estilos mais democráticos de comunicação, promovem relacionamentos colaborativos, discutem mais os tratamentos e envolvem os pacientes nas tomadas de decisão. [2]
Além disso, as condutas e práticas das mulheres médicas podem aumentar a eficácia das ações preventivas; se adequam mais facilmente ao funcionamento e à liderança de equipes multidisciplinares de saúde e levam a otimizar recursos, pois são menos inclinadas a incorporar tecnologias desnecessárias; atendem mais adequadamente às populações em contextos de vulnerabilidade; e respondem a situações que requerem a compreensão de singularidades culturais e das preferências individuais dos pacientes. [2]
Diante de tudo isso, você pode ser levado a pensar que a feminização da medicina é apenas “flores e arco-íris”, mas não é bem por aí. Embora a notícia seja, de fato, muito bem-vinda, esse fenômeno enfrenta aspectos sombrios, como preconceito, desigualdade salarial, diferentes oportunidades de progresso e assédio (coloque aqui todas as situações de assédio imagináveis). Por esses motivos, quase um terço das médicas não seguiria uma carreira na medicina caso fosse novamente dada uma opção. [3]
É válido mencionar que a medicina exige um compromisso único entre a vida pessoal e a profissional, e a intensidade dos fatores de estresse no trabalho não parecem se igualar ao longo das linhas de gênero. Em outras palavras, os conflitos resultantes de ser médico e pai não parecem ser uma causa de insatisfação no trabalho, o que não é verdadeiro para o outro gênero. [3]
No entanto, como bem pontua Laura Moeller, se teremos mais cirurgiãs ou ortopedistas, especialidades hoje exercidas quase que exclusivamente por homens, isto será uma circunstância que não se pode sobrepor à necessidade de termos profissionais bem formados, comprometidos, saudáveis em seus propósitos em benefício da sociedade e dos sistemas de saúde.
Ainda assim, parabéns às mulheres em sua luta contra preconceitos, desigualdades e assédios, e que sejam sempre respeitadas em sua humanidade.
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REFERÊNCIAS
1. American Medical Association. Women in Medicine in America: In the Mainstream. Chicago (1995). American Medical Association 1995;12.
2. Scheffer Mário César, Cassenote Alex Jones Flores. A feminização da medicina no Brasil. Rev. Bioét. [Internet]. 2013 Aug [cited 2021 Feb 06] ; 21( 2 ): 268-277. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-80422013000200010&lng=en. https://doi.org/10.1590/S1983-80422013000200010.
3. Paik Jodi Elgart. The Feminization of Medicine. JAMA. 2000;283(5):666.