O mundo foi construído pela natureza propriamente dita e pela astúcia racional do homem. Indeléveis, todos nascem livres e prontos a construir o seu bem-estar, mas a insensatez humana criou um abismo de desigualdade entre seus pares. A hierarquização social produziu um processo de deterioração humana, afastando-os das necessidades naturais de qualquer indivíduo.
Sobremaneira, o direito à saúde não foge à regra deste processo nefasto que, do ponto de vista médico, se encontra no mesmo nível depreciativo. As escolas médicas ensinam aquilo que as originou, a visão mercadológica acionada motivadoramente pelas indústrias farmacêuticas, as quais impõem, em ritmo acelerado, uma imprecisão na interpretação médica. Os indivíduos são vistos como objetos para consumo de misturas químicas que, talvez, os adoeçam ainda mais do que tomar “os chás de ervas” indicados pelos mais idosos.
Interessante observar o comportamento de acadêmicos de medicina, que especulam desde o início uma vantagem pecuniária e convergem para um caminho da fragmentação das pessoas: os tais especialistas, de mão, de joelho, de coceira etc. Uns já se vinculam desde os ensinamentos da base em especialistas que prosperaram nesse caminho tortuoso. Sempre se deve indagar o quanto um indivíduo vive apenas com um sistema ou um órgão. O conhecimento médico deve ser integral, pois o ser humano se mantém vivo através do equilíbrio do conjunto de seus sistemas. Mas, habitualmente, um especialista é preparado apenas para tratar aquilo que conhece, ou seja, uma parte do todo. A fragmentação da medicina produz eixos distintos, perversos, que propiciam ainda mais a dificuldade da classe social menos favorecida em ser atendida de forma integral nas unidades de saúde. Também, por sorte, é possível encontrar um médico especialista para atender à necessidade pontual do indivíduo, mas que seja detentor de um conhecimento complexo.
Nesse esteio, vale considerar as ponderações de Marco Bobbio, que faz uma crítica à medicina atual, pois mais parece um restaurante de “fast-food” e, prega atendimentos médicos mais humanizado. Esclarece sobre a crítica que vê a medicina atual como desperdício de recursos, excesso de velocidade em vários momentos e ainda a falta de conexão com os pacientes. Reafirmando o que já se mencionou anteriormente, que hoje se dispõem de tantos procedimentos e tratamentos que, às vezes, se faz demais. Isso significa que se usam drogas e tratamentos quando o paciente não precisa.
Assim, vale ponderar o quão se fragmentou a máquina complexa humana hoje, a ponto de torná-la desfigurada no seu todo, acarretando por um lado atrocidades tóxicas ao indivíduo e uma necessidade consumista de medicamentos. O indivíduo que procura um médico e é conduzido a orientações, saindo sem uma prescrição medicamentosa, crê que perdeu seu tempo e dinheiro. Nas últimas décadas, no Brasil, o comércio que mais cresceu foi o de drogarias. Percebe-se que em quase todas as cidades brasileiras existe uma drogaria em cada esquina. Devemos rever esses processos enquanto há tempo, dar meia volta e buscar meios de reverter tais insuflações ao consumismo exagerado de medicamentos.
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