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A inteligência artificial na pizzaria e na medicina. Invasão ou motivação?

A inteligência artificial na pizzaria e na medicina. Invasão ou motivação?
Naiara Costa Balderramas
set. 6 - 4 min de leitura
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Há algum tempo circula por blogs e grupos de whatsapp o texto conhecido como "pizza do google", de autoria desconhecida. Ele aborda o como a inteligência artificial influenciará na escolha de sua pizza e tentará mediar a sua saúde. Transcrevo-o abaixo para fomentar a discussão sobre o futuro que nos aguarda, pois um diálogo como o que você verá abaixo, já não soa tão impossível de ser uma realidade próxima:

"– Alô, é da pizzaria Gordon?
– Não, senhor, é da pizzaria Google. 
– Desculpe, devo ter ligado para o número errado.
– Não o número está correto, o Google comprou a pizzaria. 
– Ah, entendi. Pode anotar o meu pedido?
– Claro, o senhor quer a pizza de sempre?
– Como assim? Você já trabalhava aí, me conhece?
– É que de acordo com nossos sistemas nas últimas 12 vezes o senhor pediu pizza de salame com queijo, massa grossa e bordas recheadas.
– Isso, pode fazer essa mesma.
– No lugar dessa, posso tomar a liberdade de sugerir uma de massa fina, farinha integral, de ricota e rúcula com tomate seco? 
– Não, eu odeio vegetais!
– Mas, o seu colesterol está muito alto.
– Quem te disse isso? Como você sabe?
– Nós acompanhamos os exames laboratoriais de nossos clientes e temos todos os seus resultados dos últimos 7 anos. 
– Entendi, mas quero a pizza de sempre, eu tomo remédios para controlar o colesterol.
– O senhor não está tomando regularmente, porque nos últimos 4 meses só comprou uma caixa com 30 comprimidos, na farmácia do seu bairro. 
– Comprei mais em outra farmácia.
– No seu cartão de crédito não aparece. 
– Eu paguei em dinheiro.
– Mas, de acordo com seu extrato bancário o senhor não fez saque no caixa automático nesse período. 
– Eu tenho outra fonte de renda.
– Isso não está constando na sua Declaração de Imposto de Renda, a menos que seja uma fonte pagadora não declarada. 
– Mas, que inferno! Estou cansado de ter minha vida vigiada e vasculhada pelo Google, Facebook, Twitter, WhatsApp, essas porcarias todas! Vou mudar para uma ilha sem internet e sem telefone celular, onde ninguém possa me espionar.
– A decisão é sua, senhor, mas quero lhe avisar que seu passaporte venceu há 5 semanas..."

Apesar de engraçada, essa anedota traz-nos algumas reflexões:

- A abordagem utilizada pelo atendente gera mais aborrecimento no cliente do que empatia, inclusive levando-o a tomar decisões contrárias àquelas objetivadas pelo cruzamento de dados do sistema.

- Obviamente o conhecimento dos dados e riscos não é suficiente para o atendente cativar o cliente a mudar seus hábitos e reduzir seus riscos enfermidades. Que estratégias podem ser utilizadas nesse direcionamento?

Em outra versão disponível na internet, há uma parte adicional interessante:

"– Sim senhor, me desculpe, mas está tudo em minha tela. Tenho o dever de ajudá-lo. Acho, inclusive, que o senhor deveria remarcar a consulta que o senhor faltou com seu médico, levar os exames que fez no mês passado e pedir uma nova receita do remédio"

Parece estratégia de serviço de marcação de consultas, não?

Estaria essa realidade muito distante de acontecer? Talvez não com tanto acesso a dados bancários, mas se reunirmos apenas os dados disponíveis todas as vezes que autorizamos o uso de nosso CPF, já teremos um rico banco para cruzamento. A inteligência artificial visa justamente interligar dados, favorecendo uma análise individual e o mais específica possível, para obtenção de melhores resultados. 

Por outro lado, ter nossas preferências já registradas facilita bastante a vida. Assim como a inteligência artificial visa justamente interligar dados, favorecendo uma análise individual e o mais específica possível, para obtenção de melhores resultados. Para  provocar a discussão:

O que você pensa sobre essa abordagem/possibilidade?

Já ouviu falar sobre Comunicação Não-Violenta, Medicina centrada na pessoa e Entrevista Motivacional? São temas sensíveis à relação médico-paciente e diretamente identificados na anedota acima justamente por não estarem presentes!

Poste a sua opinião nos comentários logo abaixo para compartilhar o seu ponto de vista com a comunidade ACADEMIA MÉDICA.

Postaremos uma série de textos explicando e exemplificando como essas estratégias podem qualificar a relação, utilizando os dados, porém de forma a engajar e cativar o cliente/paciente.  Se quiser acompanhar esse assunto, siga-me aqui na academia médica, pois esses assuntos são do meu interesse.


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