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A nossa Memória: História, Fisiologia e Modernidade

A nossa Memória: História, Fisiologia e Modernidade
Rodrigo Souza
jun. 25 - 6 min de leitura
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 O Valor da Memória para Sociedade

A memória é o componente do Homo Sapiens, que define a expressão da sua história como ser, seja através do seu próprio olhar, seja através daqueles com os quais compartilha seus momentos.

Foi através das memórias passadas, que os pilares edificadores dos feitos futuros foram colocados, bem como experiências negativas foram evitadas, resumindo, essa incrível capacidade de arquivamento cortical humano, constitui-se o melhor conto da trajetória da humanidade pelas eras.

Nesse ínterim, ela vem ganhando no mundo hodierno, análises cada vez mais minuciosas, afim de destrinchar os segredos neuroquímicos e psicológicos por trás desse importante recurso humano, afim de poder melhor maneja-lo e aproveita-lo.

Neurofisiologia da Memória

A neuroanatomia da memória é constituída por uma ampla variedade de regiões corticais, dentre as quais destacam-se, o Hipocampo (o consolidador das memórias), o Córtex Entorrinal (o transdutor de informações para o hipocampo), o Córtex Parahipocampal (faz memorização de cenários novos), O Giro Denteado (faz a dimensão temporal da memória), O Córtex Cingular Posterior (faz memorização de informações e espaço), O Córtex Pré-Frontal (contém a memória operacional) e as Áreas Neocorticais (arquiva seletivamente as diversas memórias).

Nesse ensejo, durante o processo de formação das memórias, há a interconexão dessas regiões e outras relativas a circuitos emocionais. Como resultado, as novas informações que chegam pelos órgãos sensoriais, sofrem um processo inicial de triagem, em uma rede de neurônios selecionadores, os quais mensuram o valor e o tipo do conteúdo; de modo que, quando algo novo é recebido, o hipocampo (multiplamente estimulado), cria novas conexões sinápticas (conexões neuronais), as quais uma vez arquivadas no Neocórtex, passam a representar uma nova memória do indivíduo e podem ser reiteradamente fortalecidas.

A Formação e Evocação das Memórias

Na compreensão de como a memória é formada e evocada pelo cérebro, dois pontos chaves são fundamentais de serem entendidos: os tipos de memórias e o papel da atenção.

Sim. Embora o ser humano possua, uma percepção da memória como algo único no seu dia a dia, a mesma, do ponto de vista neurofuncional é dividida em alguns espectros. Desse modo, existem dois tipos principais de grupos de memórias: a de curto prazo e a de longo prazo.

No que concerne a memória de longo prazo, essa é subdivida em declarativa, na qual estão os conhecimentos sobre fatos e eventos; e em memória implícita, na qual estão os hábitos e habilidades automáticas do indivíduo.

Já a memória de curto prazo é dividida em duas nuances: a memória sensorial, que dura segundos e está relacionada ao que é captado pelos órgãos sensoriais; e a memória operacional (memória consciente), a qual possui capacidade de processamento limitada e é responsável, tanto por evocar dados da memória de longo prazo para os raciocínios mais complexos, quanto por codificar informações novas para serem armazenadas nos sítios de longo prazo.

Para construção da maior parte dessa rede de memórias, no entanto, a Atenção surge como elemento essencial. É graças a capacidade de se concentrar em determinados estímulos, filtrando os demais presentes no mesmo universo, por um período de tempo determinado, que o processo de obtenção dos mais diversos tipos de informações torna-se eficiente. Nessa perspectiva, a perda de concentração não só compromete a retenção de conteúdo, bem como pode resultar em memórias distorcidas.

Frente ao explanado nos parágrafos anteriores, torna-se possível compreender o processo de formação e evocação de memórias a partir da seguinte situação: João está lendo um livro novo de poesias, desse modo, após a captação das palavras pela sua memória sensorial, o conteúdo passa por um crivo de neurônios selecionadores, que percebem não ser essa uma ocasião para respostas automáticas; assim, o conteúdo passa a memória operacional, aonde se torna consciente.

Como esse é um conteúdo de valor para João, sua memória operacional o organiza para ser guardado na memória de longo prazo. A noite, no encontro com sua namorada, João decidi declamar um daqueles versos, para tal, a informação é evocada da sua memória declarativa para sua memória operacional (consciente), a partir da qual, João irá integra-la a outros circuitos cerebrais, afim de planejar e definir a forma como os versos serão declamados. Caso, entretanto, João estivesse rodando bicicleta, as informações captadas, quando no nível dos neurônios selecionadores, ativariam diretamente alças de resposta da memória implícita (focada nos procedimentos) e o ato em si, não se tornaria ao todo consciente, mas sim automático.

A Medicina e Os Pacientes Nesse Cenário

A memória enquanto elemento de tamanho valor para a existência humana, tem ganhado cada vez mais o interesse do corpo médico, especialmente em Doenças como o Alzheimer, na qual ela é progressivamente perdida, ou ainda, em situações como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), no qual, a retenção de novas informações é afetada.

Paralelamente a isso, a sociedade moderna, bombardeada continuamente por novas informações e pelas cobranças de melhor desempenho cognitivo, também tem procurado cada vez mais a comunidade médica, afim de "receitas" para uma memória mais forte.

Nessa perspectiva, desata-se dois contextos, no primeiro, a tendência de avanços cada vez maiores, sobre como ocorre o funcionamento dos circuitos formadores e evocadores das memórias; no segundo, a necessária reflexão de que, o melhor remédio para uma boa memória ainda é: sono adequado, exercício físico, alimentação balanceada (rica em ômega-3 e alimentos antioxidantes) e práticas que melhorem a atenção e a gerencia psicoemocional, a exemplo da meditação.

 


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REFERÊNCIAS

  1. Machado A, Haertel LM. Neuroanatomia Funcional. 3ª ed. São Paulo: Atheneu, 2013. 344p.
  2. Lent R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2010. 786p.
  3. HELENE, André Frazão; XAVIER, Gilberto Fernando. Building Attention from memory. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, p.12-20, 2003.

 


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