Dra. Roberta Fittipaldi é médica pneumologista, pesquisadora em ventilação mecânica, que trabalha nas principais UTIs da cidade de São Paulo e é professora da curso Ventilação Mecânica Online na Academia Médica.
Outro dia, durante uma conversa, uma amiga, também médica, me contava como havia sido a situação em que passara por uma pequena cirurgia para retirada de uma lesão de pele suspeita de melanoma. Apesar da sombra de um diagnóstico de uma doença grave, o que mais impactou esta médica, que no caso estava do outro lado da mesa, agora como paciente, foi o tratamento recebido pelo médico ao final do procedimento. O médico sequer foi vê-la na recuperação anestésica ou no quarto. As recomendações e comentários típicos de pós-operatórios foram feitas por WhatsApp. Sim, por WhatsApp após a insistência da paciente-médica.
Conversamos muito sobre a situação, e em meio a uma reação de angustia e perplexidade surgiu a pergunta: por ser "colega" de profissão, por ser "do meio", será que isso invalida as relações entre médico e paciente? Ou ainda: Isso dá a nós, médicos, o direito de nos tornarmos mais displicentes?
Por situações como essas e algumas outras que ouvi e vivi nestes anos de medicina privada e pública, surgiu a reflexão para este post. Num momento tão frágil em que vivemos a Medicina no nosso país, porque a relação entre médicos se torna tão superficial?
Quem nunca, quando recém-formado não ouviu de um outro médico mais velho : você é muito jovem para fazer isso, deixa que eu faço. Ou então: tinha que ser o residente!; Não acredito que fulano não fez esse diagnóstico, ele é fraco mesmo!.
A medida que desmerecemos um profissional do nosso meio, também estamos a desmerecer a Medicina. É essa a prática que queremos realizar e passar para os mais jovens? A necessidade de nos mostramos superiores a outros profissionais não nos torna nem um pouco especiais, muito menos mais espertos ou inteligentes.
Não é no grito que vamos defender um posicionamento ou tentar convencer o outros de que estamos com razão. Que atire a primeira pedra quem nunca presenciou uma discussão dessas nos corredores de hospitais.
Por isso, caro leitor médico, vamos tentar refletir como anda a nossa prática com outros médicos. Acredito que tenhamos que treinar cada vez mais a escuta, o respeito, o saber parabenizar, bem como saber respeitar uma opinião contrária a nossa. Não é apenas saber valorizar a nossa especialidade, mas também admirar as outras.
Ninguém nasce com o domínio do conhecimento, muito menos o adquire de um dia para o outro, após a formatura. O conhecimento e profissionalismo são moldados ao longo do tempo, e cabe a cada um de nós nos aperfeiçoar dia a dia, com humildade e principalmente respeito. Respeito esse que faltou lá na situação relatada no início deste post, porque independente da paciente ser médica, o mínimo de conforto e de explicações é direito do paciente.
Ao final de tudo, felizmente, o diagnóstico da amiga médica não foi de melanoma. É a vida que segue....
Curso de Ventilação Mecânica Online com Dra. Roberta Fittipaldi
Roberta Fittipaldi é colaboradora da Academia Médica e professora do curso Ventilação Mecânica Online, uma um curso para se manter atualizado e ainda aprender de vez Ventilação Mecânica, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do paciente, intensivo ou não, que necessita de suporte ventilatório.
É também doutora em Ventilação Mecânica pela FMUSP, especialista em Educação Medica pela Harvard TH Chan e médica das UTIs respiratórias do HIAE e Incor.
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