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A tragédia médica anunciada: seremos 700.000?

A tragédia médica anunciada: seremos 700.000?
Bruno Rossini
jun. 13 - 3 min de leitura
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Há pouco tempo atrás vivenciei uma experiência muito interessante. Como muitos sabem, atualmente só ando de Uber e afins. Em uma dessas viagens comecei a conversar com o motorista que, para minha surpresa, revelou-se ser um cirurgião dentista.

Sem contar que eu era médico e que gostava de estudar o desenvolvimento de carreiras na saúde, busquei entender o que ele fazia ali naquela posição. Me explicou que não tinha consultório fixo e que atendia alguns dias da semana em consultórios de colegas. Me contou também, que trabalhava principalmente com estética facial e com aplicação de toxina botulínica, sendo que tinha um faturamento relativamente bom com essa pratica.  Mais ainda, o seu grande diferencial é que aproveitava suas corridas para vender esse seu tratamento estético, enquanto ganhava dinheiro dirigindo.

Mostrei-me bastante interessado e, então, ele me explicou mais a fundo. Gostava de pegar passageiros próximo a saída de baladas LGBTT pois esse era o público alvo no qual focava. Sempre que tinha oportunidade, entregava seu cartão e contava para o passageiro-paciente o que fazia, sendo que muitas vezes conseguia efetivar a venda. Combinava, então, realizar aplicação na própria casa do cliente, o que possibilitava não ter um consultório fixo.

Fiquei um tanto boquiaberto com essa história e com esse plano de negócios. Um verdadeiro marketing de guerrilha, proativo, com um nicho bem estabelecido e com venda personalizada. Não sabia se o chamava para gravar uma entrevista, vangloriando a sua ideia, ou o denunciava ao Conselho Federal de Medicina. De qualquer forma, me fez parar para pensar na atual situação que vivemos.

De maneira muito mais comum, encontro outros profissionais liberais de carreiras consideradas clássicas, pilotando para terceiros. Advogados, engenheiros e administradores, por exemplo, são bastante recorrentes.

Dificilmente, nós médicos, ficamos sem emprego e é estranho pensar que, em breve, podemos ter colegas dirigindo Uber. Por mais incrível que pareça, já somos o país com maior número de faculdades de medicina do mundo, cerca de 310. Uma projeção realista nos mostra que teremos cerca de 700.000 médicos formados no Brasil em 2030. Hoje somos por volta de 400 mil. Muitos desses já sairão endividados da graduação por terem utilizado o sistema FIES e o valor dessa conta pode girar em torno de R$600.000. Esse cenário é assustador.

O que me deixa mais tranquilo é perceber, que mesmo em um mercado saturado, ainda existem muitos dentistas e muitos advogados com sucesso em suas carreias. A lei de mercado é implacável, isto é, sempre existirão os profissionais de sucesso e os que não consegue exercer a sua profissão com dignidade.

Diante dessa análise, reforço que se preparar para o mercado, além de desenvolver competências técnicas médicas, é essencial para sobrevivência do bom profissional.

Por fim, querido colega, pense bem pois o cenário já está colocado. Faça suas escolhas e seja muito bem vindo a viagem!
 

Dr. Bruno Rossini
Médico Otorrinolaringologista fundador da Clínica OTOVITA

www.otovita.com.br


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