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Agosto Dourado e o Aleitamento Materno

Agosto Dourado e o Aleitamento Materno
Leonardo Cardoso
ago. 2 - 9 min de leitura
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Instituído no Brasil em 2017, através da Lei 13.435, durante a 25ª Semana Mundial de Aleitamento Materno, o Agosto Dourado marca o mês dedicado a essa importante fase da vida da criança. A cor dourada foi escolhida por refletir a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o leite materno: “alimento padrão ouro para a saúde dos bebês”.

É necessário um mês inteiro de ações dedicadas à amamentação? Qual a importância do aleitamento materno? Existe alguma contraindicação a ele? Qual o momento de cessá-lo? Esses e outros questionamentos surgem, dentro e fora dos consultórios, quando o assunto vem à tona. Por isso, hoje te convido para conversarmos sobre o aleitamento materno. Vem comigo?

O aleitamento materno é definido de forma simples como o ato da criança receber leite materno, independente de estar recebendo ou não outros alimentos, podendo isso ocorrer basicamente de duas formas: direto das mamas ou através de ordenha. Pode ser realizado de forma exclusiva, predominante, complementado ou parcial. Vamos ver um pouco melhor sobre isso.

*Aleitamento Materno Exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos.

*Aleitamento Materno Predominante: quando há o recebimento, pela criança, de água ou bebidas à base de água e sucos de frutas, além do leite materno.

*Aleitamento Materno Complementado: quando, além do leite materno, a criança recebe alimentos complementares, sendo que esses são quaisquer alimentos sólidos ou semissólidos cuja finalidade seja complementar o leite materno.

*Aleitamento Materno Parcial: quando a criança recebe outros tipos de leite, além do materno.

A OMS recomenda, juntamente com o Ministério da Saúde (MS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que as crianças sejam amamentadas até os dois anos de idade ou mais, sendo que durante os seis primeiros meses este deve ser realizado de forma exclusiva, elencando como benefícios da amamentação, para a criança, a redução da mortalidade infantil, redução da incidência e gravidade da diarreia, redução da morbidade por infecção respiratória, redução de alergias, redução de doenças crônicas, melhora da nutrição, melhor desenvolvimento cognitivo e melhor desenvolvimento da  cavidade bucal. Para a mãe, um dos benefícios apontados por estudos é um aumento da proteção contra câncer de mama e ovários.

Além disso, o aleitamento materno tem um desdobramento econômico, visto que quando uma criança não é amamentada e passa a depender de leites industrializados, há a geração de ônus financeiro, não apenas com o leite em si, mas com os demais itens necessários à sua preparação, como mamadeiras, gás, bicos, etc.

Além desses fatores, não podemos esquecer, aqui, da criação de vínculo entre mãe e filho através da amamentação, sendo importante aqui, sempre que possível, a participação do pai quanto ao fornecimento de apoio psicológico e físico à mãe e a criança.

Existem, por outro lado, fatores que podem levar a um menor tempo de aleitamento materno, sendo importante, especialmente para nós, profissionais, conhece-los para sabermos identifica-los e conduzir esse processo da melhor forma. O principal deles é, sem dúvida, a falta de informação adequada, sendo necessário que assumamos nosso lugar de fala e possibilitemos que nossas pacientes, através da educação em saúde, tenham acesso a informação científica didática, clara e de qualidade. Outros fatores que podem ser somados aqui são mães adolescentes, primigestas, menor escolaridade materna, gemelaridade, mães que trabalham fora e uso de chupeta.

Mas, e quando a mãe possui as informações necessárias, conhece os benefícios do aleitamento, e em alguns casos, até mesmo reflete a vontade de fazê-lo, porém não consegue? Nesse caso, um dos tópicos de nossa investigação precisa ser se já ouve alguma experiência anterior que não tenha sido bem sucedida. E aqui, como deveria ser com todos os nossos pacientes, é preciso nos despir de nossa capacidade julgadora para acolhermos o ser humano que está ali em nossa frente. Nosso maior objetivo, nesse caso, é promover bem estar à mãe e dar condições de que o aleitamento materno seja praticado. Para isso, algumas “dicas” visando à boa manutenção da relação médico-paciente são:

  • praticar a comunicação não verbal, mostrando-se interessado, prestando atenção e dedicando tempo para ouvir a paciente;
  • fazer perguntas abertas, dando, assim, mais espaço para a paciente se expressar;
  • demonstrar empatia e que os sentimentos expressados são compreendidos;
  • evitar palavras como “bem”, “mal”, “certo” ou “errado”, as quais denotam julgamento;
  • aceitar os sentimentos e opiniões da paciente, lembrando que nem sempre é preciso concordar ou discordar delas;
  • reconhecer e elogiar o que mãe e bebê estão fazendo de forma adequada, criando, assim um sentimento de confiança da mãe;
  • usar linguagem simples e acessível;
  • fazer sugestões ao invés de dar ordens;
  • encorajar a continuidade do processo.

Além disso, é preciso estar atento a sinais (maternos e da criança), relatados pela paciente ou observados no momento da consulta (por que não aproveitarmos esse momento para, se possível, conversar com a mãe enquanto ela amamenta?)  que podem nos indicar de que a técnica de amamentação não esteja adequada, como mama aparentando estar esticada ou deformada durante a mamada, mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando o bebê solta a mama, bochechas do bebê encovadas a cada sucção, ruídos de língua e dor durante a amamentação.

Em alguns casos, porém, não será possível a realização desse processo. São os casos em que o aleitamento materno é contraindicado, sendo possível dividi-los em dois grupos:

CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS:

  • Maternas: câncer de mama que foi tratado ou está em tratamento, mulher portadoras do vírus HIV, HTLV1 e HTLV2, mulheres portadoras de distúrbios da consciência ou de comportamento grave.
  • Neonatais: galactosemia, fenilcetonúria (necessita acompanhamento), intolerância à glicose, malformações fetais da orofaringe, esôfago e traqueia e intolerância a algum componente do leite materno são alguns exemplos.

CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS:

  • Maternas: infecção herpética, quando há vesículas localizadas na mama (devendo a amamentação ser mantida na mama sadia), varicela (se a mãe apresentar vesículas na pele cinco dias antes do parto até dois dias após o parto, é recomendado que fique isolada até que as lesões adquiram a forma de crosta), abcesso mamário (devendo o aleitamento ser mantido na mama sadia e uso de drogas ilícitas são alguns exemplos.

Como comentamos anteriormente o aleitamento materno traz inúmeros benefícios, não apenas à criança, mas também a mãe, sendo por isso, recomendado até os dois anos de idade ou mais. Ao longo desse processo é comum que as crianças deem alguns sinais de que estão prontas para o desmame, sendo que em média isso ocorre entre os 2 e 4 anos, como um menor interesse nas mamadas, boa aceitação de outros alimentos, segurança em sua relação coma mãe, boas aceitação sobre não ser amamentada em determinadas ocasiões e locais, dormir sem mamar no peito e preferência por brincar e fazer outras atividades com a mãe ao invés de mamar são alguns deles.

É necessário, aqui, diferenciar esse processo natural de desmame da “greve de amamentação”, a qual ocorre geralmente em crianças menores de 1 ano de idade, sendo que nesse caso é possível identificar um fator que leva essa criança a não querer mamar, como processo de dentição, estresse, excesso de mamadeira ou chupeta, doença, entre outros, cabendo ao profissional a correta investigação clínica.

O processo de amamentação contínuo e construído diariamente pela mãe, criança, pessoas próximas e profissionais de saúde. Sua importância é refletida por dedicarmos a ele um mês inteiro de campanhas, ações e atividades. No entanto, é preciso lembrar que não podemos restringir sua discussão apenas aos 31 dias de agosto, sendo preciso expandi-la para os outros meses. Tratar o assunto de forma aberta, clara, transparente, com o objetivo de melhorar, cada vez mais, a qualidade de vida de nossas pacientes.

Deixo como indicação a página da SBP sobre o Agosto Dourado, onde é possível encontrar diversos materiais sobre o tema, tanto para nossa atualização profissional, quanto para empoderarmos nossa população. E te convido para compartilhar aqui embaixo suas experiências sobre esse assunto.

Vamos conversar? Comenta o que achou nos comentários abaixo.

 


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REFERÊNCIAS:

GIUGLIANI, Elsa Regina Justo. Tópicos básicos em aleitamento materno. In: BURNS, Denis Alexander Rabelo (org.). Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2017. v. 1, cap. 1, p. 315-321.

https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/quando-amamentar-e-contraindicado/ (Acesso em 18 de agosto de 2020).

https://aps.bvs.br/aps/quando-o-aleitamento-materno-deve-ser-suspenso-e-quais-as-situacoes-mais-comuns/ (Acesso em 18 de agosto de 2020).

https://www1.imip.org.br/imip/noticias/agosto-dourado-2020-destaca-impacto-da-alimentacao-infantil-no-meio-ambiente.html (Acesso em 18 de agosto de 2020).

https://www.sbp.com.br/especiais/agosto-dourado/ (Acesso em 18 de agosto de 2020).


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