O protocolo SPIKES, desenvolvido por Robert Buckman (Breaking bad news: a guide for health care professionals. Baltimore: John Hopkins University Press, 1992) é uma das técnicas utilizada para o treinamento em “dar más notícias”. Ele se baseia em 6 passos, que encadeados sequencialmente possibilitam uma melhor compreensão entre as partes (médico-paciente/familiares), bem como aumento da empatia e conseguinte confiança no tratamento proposto.
S - setting up ("preparando")
É a preparação mental do médico para a conversa, buscando um ambiente o mais acolhedor possível, sem fatores de interrupção (celulares, demandas da equipe, etc). Avaliar adequadamente a situação do paciente (resultados de exames, tratamentos feitos), para uma explicação clara e completa do cenário, planejar a maneira como abordará as questões que poderão ser levantadas;
P - perception ("percepção")
Descobrir o que o paciente sabe, qual sua opinião e sentimentos sobre a doença. A partir do que for apresentado pelo paciente se desenvolverá a explicação médica. Muitas vezes o paciente vem de vários profissionais que abordaram a doença de maneiras distintas, causando grande confusão para o paciente. Cabe ao médico deixar que o paciente expresse exatamente o que entendeu, sem correções ou julgamentos;
I - invite ("convite")
É o momento de introduzir que o tema da conversa não será bom, através de expressões que denotem a gravidade do quadro, bem como identificar, através de perguntas diretas (caso o paciente não tenha manifestado antes) o que o paciente deseja saber sobre sua doença.
K - knowledge ("conhecimento")
A apresentação do problema, seja o diagnóstico de uma doença grave, a piora do quadro, falência do tratamento prévio, etc. Adequar sempre o linguajar à maneira que seja mais compreensível ao paciente. Olhar sempre nos olhos e evitar expressões faciais exageradas, manter a calma e serenidade;
E - emotions ("emoções")
Ser empático com os sentimentos que o paciente expresse, tentando entender, através de questionamentos simples o que causou aquele sentimento. Toques corporais podem ser utilizados, como segurar as mãos, tocar o ombro, ou mesmo um abraço, a depender da receptividade do paciente. Tentar sempre esclarecer como o paciente sentiu-se com a notícia, antes de passar para o próximo passo;
S - strategy and summary ("estratégia e resumo")
Após a compreensão dos sentimentos do paciente em relação à situação, apresentar sua proposta de cuidados para as próximas fases da doença. Fazer o paciente se sentir acolhido, mesmo diante da gravidade/complexidade/irreversibilidade do quadro. Demonstrar que ainda que os próximos passos não sejam curativos, nunca “não há nada para fazer”. Deixar claro que o paciente seguirá sendo acompanhado pela equipe, assim como reforçar a importância do seu bem-estar e das suas vontades nessa nova fase.
Dar notícias ruins é sempre um momento delicado, tanto para o médico, que vivencia um momento de imensurável solidão ao perceber que o quadro clínico não é o que ele gostaria , quanto para o paciente, que pode expressar as mais diversas reações. Desta maneira, é importante estar bem preparado para dar o máximo suporte que o paciente imediatamente necessitará.
Da curadoria: O livro citado no início desse texto, Breaking bad news: a guide for health care professionals, de Robert Buckman, está disponível na Amazon neste link.
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