Um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Marburg e Bochum, na Alemanha, trouxe novas perspectivas sobre o tratamento da doença de Parkinson, indo além das regiões cerebrais tradicionalmente abordadas. A pesquisa, publicada em Scientific Reports em 12 de abril de 2025, examinou os efeitos da estimulação da estrutura chamada colículo inferior, conhecida principalmente por seu papel na audição, sobre a mobilidade de indivíduos com Parkinson.
A estimulação cerebral profunda, também conhecida como “marca-passo cerebral”, é um recurso terapêutico usado em estágios avançados da doença de Parkinson, especialmente quando os medicamentos perdem eficácia. Tradicionalmente, o alvo desta estimulação tem sido o núcleo subtalâmico, uma estrutura dos núcleos da base, região afetada diretamente pela doença.
Porém, a equipe da Dra. Liana Melo-Thomas, da Philipps-Universität Marburg, demonstrou em estudos anteriores com roedores que a estimulação do colículo inferior, uma região não comprometida pelo Parkinson, também pode melhorar a mobilidade. A hipótese é que essa estimulação ativa uma região chamada região locomotora mesencefálica, responsável pelo controle da locomoção.
Neste novo estudo, os cientistas utilizaram optogenética, técnica que permite o controle preciso de células nervosas por meio de luz. Neurônios de animais geneticamente modificados foram programados para responder à luz, o que permitiu ativar ou inibir regiões específicas do cérebro com precisão milimétrica, superando as limitações da estimulação elétrica tradicional.
A equipe realizou medições eletrofisiológicas diretas durante a estimulação. Para isso, utilizaram um sistema de multi-eletrodos capaz de registrar simultaneamente a atividade de até quatro regiões cerebrais, reduzindo o número de animais utilizados e permitindo uma análise detalhada dos efeitos neurológicos e comportamentais da estimulação.
A estimulação optogenética do colículo inferior gerou aumento da atividade neuronal nessa região, como esperado. Mais interessante ainda, observou-se um aumento da atividade em grande parte dos neurônios da região locomotora mesencefálica, confirmando a existência de uma conexão funcional entre essas duas estruturas.
A ativação neuronal na região locomotora mesencefálica ocorreu, em média, 4,7 milissegundos após a estimulação do colículo inferior, sugerindo uma sinapse funcional direta entre as duas regiões. Além disso, cerca de 25% dos neurônios desta região foram inibidos, indicando um efeito complexo, mas potencialmente regulador, sobre o circuito motor.
A importância deste estudo vai além do uso experimental da optogenética. Ele reforça a necessidade de explorar vias motoras alternativas àquelas danificadas pela doença de Parkinson. Ao demonstrar que estruturas como o colículo inferior, tradicionalmente associadas à audição, podem ativar vias motoras preservadas, os pesquisadores abriram caminho para novas estratégias terapêuticas, possivelmente mais eficazes e com menos efeitos colaterais.
Este estudo marca um avanço importante na compreensão dos circuitos cerebrais relacionados à mobilidade e oferece esperança para pacientes com Parkinson que não respondem mais aos tratamentos tradicionais. A exploração de áreas cerebrais não afetadas pela doença e o uso de tecnologias de alta precisão, como a optogenética, podem redefinir o modo como tratamos distúrbios neurodegenerativos nos próximos anos.
Referência:
Ruhr-University Bochum. "How brain stimulation alleviates symptoms of Parkinson's disease." ScienceDaily. ScienceDaily, 27 May 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/05/250527124428.htm>.