Em uma revisão publicada na revista Current Opinion in Psychology, os professores Michael Inzlicht, da Universidade de Toronto, e Brent Roberts, da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, propõem uma reavaliação do conceito de autocontrole na ciência psicológica. Tradicionalmente, o autocontrole tem sido descrito tanto como um traço de personalidade — incorporando características como consciência, perseverança e adiamento de gratificação — quanto um estado momentâneo, mais comumente associado à força de vontade.
Segundo os pesquisadores, essa dualidade na definição pode estar mais para confundir do que para esclarecer. Eles argumentam que indivíduos com alto nível de consciência não se engajam necessariamente mais em exercícios de força de vontade do que outros menos conscientes. De fato, estudos indicam que essas pessoas passam menos tempo reprimindo impulsos. Essa constatação, descoberta há mais de uma década, foi uma surpresa para o campo da psicologia e sugere que a ênfase na força de vontade pode ter direcionado mal as intervenções destinadas a fortalecer o autocontrole.
Os autores observam que outros aspectos do controle de si como traço, como diligência e habilidades organizacionais, são provavelmente mais relevantes para os benefícios duradouros associados a essa característica. Pessoas com altos níveis de consciência tendem a superar seus pares em termos acadêmicos e financeiros, e geralmente levam vidas mais saudáveis. "Talvez seja a capacidade de persistir na busca de um objetivo, ou suas habilidades organizacionais, que realmente contribuem para o sucesso," reflete Inzlicht.
A revisão sugere que termos como "planejamento" ou "consideração das consequências futuras" poderiam ser alternativas mais precisas e úteis para descrever este traço. "O sucesso na vida pode ser mais uma questão de cálculo antes de uma tentação ser encontrada, do que de um exercício constante de força de vontade," acrescentam os pesquisadores.
Inzlicht e Roberts concluem que é necessário expandir a conceptualização do autocontrole na pesquisa psicológica e nas intervenções relacionadas, potencialmente levando a métodos mais eficazes e sustentáveis para cultivar essa qualidade. Esta perspectiva abre novos caminhos para o entendimento e a aplicação do autocontrole, tanto na teoria quanto na prática psicológica.
Referência:
University of Illinois at Urbana-Champaign, News Bureau. "Conscientiousness, not willpower, is a reliable predictor of success." ScienceDaily. ScienceDaily, 10 September 2024. <www.sciencedaily.com/releases/2024/09/240910121026.htm>.