Um estudo publicado na JAMA Network Open em 08 de novembro de 2024, revela importantes descobertas sobre os padrões de desenvolvimento conjuntos do comportamento de autolesão não suicida (NSSI, em inglês) e o uso de substâncias em adolescentes e jovens, enfatizando a necessidade de estratégias terapêuticas integradas para o tratamento da patologia da personalidade borderline.
O estudo observou adolescentes e jovens que inicialmente apresentaram comportamentos de autolesão não suicida e receberam tratamento especializado. Os resultados indicam que, embora haja uma redução média desses comportamentos após o tratamento especializado, frequentemente há um aumento concomitante no uso de substâncias. Este fenômeno sugere uma "mudança de sintomas", onde os pacientes podem substituir uma forma de comportamento autolesivo por outra potencialmente nociva, como o uso de substâncias, que pode incluir álcool e drogas ilícitas.
O estudo identificou diferentes trajetórias conjuntas de comportamento de autolesão não suicida e uso de substâncias. Duas trajetórias principais destacaram-se:
- Redução Concomitante: Uma trajetória mostrou uma diminuição no uso de substâncias juntamente com uma redução no comportamento de autolesão não suicida, sugerindo um desengajamento geral de estratégias de regulação emocional mal adaptativas.
- Aumento Substancial no Uso de Substâncias: Outra trajetória foi caracterizada por um aumento significativo no uso de substâncias, mesmo com a diminuição do autolesão não suicida, indicando a possibilidade de patologia da personalidade borderline emergente ou persistente.
O estudo sugere que a simples observação da redução de comportamentos de autolesão não é suficiente para avaliar o sucesso do tratamento. Em vez disso, é crucial monitorar de forma integrada o desenvolvimento do uso de substâncias e comportamentos de autolesão. Esta abordagem pode ajudar a identificar precocemente os pacientes que substituem um comportamento autolesivo por outro, permitindo intervenções mais direcionadas e possivelmente prevenindo transtornos psiquiátricos crônicos.
Os autores sugerem que pesquisas futuras deveriam explorar mais a fundo as percepções dos adolescentes sobre suas próprias trajetórias comportamentais e os motivos relacionados. Além disso, investigações adicionais poderiam ajudar a esclarecer os papéis específicos da disfunção auto e interpessoal nas trajetórias conjuntas de comportamento de autolesão não suicida e uso de substâncias.
O estudo sublinha a complexidade dos padrões de comportamento de autolesão e uso de substâncias em adolescentes, desafiando os profissionais de saúde mental a considerarem abordagens integradas e personalizadas no tratamento de jovens com esses comportamentos. Monitorar essas trajetórias conjuntamente não apenas ajuda a entender melhor a evolução do paciente, mas também pode ser decisivo para o sucesso terapêutico e a prevenção de danos futuros.
Referência:
Steinhoff A, Cavelti M, Koenig J, Reichl C, Kaess M. Symptom Shifting From Nonsuicidal Self-Injury to Substance Use and Borderline Personality Pathology. JAMA Netw Open. 2024;7(11):e2444192. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.44192