Brasileiros MD - Dr. Adib Jatene
Esta seção do Academia Médica não poderia começar sem a presença do grande Dr. Adib Jatene. Este homem, nascido em 1929, no Acre, é um dos mais respeitados médicos brasileiros por inúmeros motivos.
Filho de imigrantes, o pai, um seringueiro libanês que morreu de febre amarela quando ele tinha apenas dois anos. A mãe, logo depois da morte do marido, mudou-se para Uberlândia. Com o pouco dinheiro que tirava na modesta loja de armarinhos, mandou o filho para São Paulo fazer o segundo grau. A competência do jovem Adib o levou à Faculdade de Medicina da USP em 1948, vestibular que passou sem fazer cursinho. Veio a formar-se médico em 1953, com 23 anos de idade. Mais tarde, especializou-se em cirurgia torácica, sendo aluno do ilustre Dr. Zerbini, no Hospital das Clínicas, sendo considerado seu aluno preferido na Faculdade de Medicina da USP. Valeu a pena. As delicadas mãos do médico já operaram, sozinhas, quase 20 mil corações. Chefiando equipes, o número de cirurgias já passa dos 100 mil.
De agosto de 1955 até dezembro de 1957, Jatene foi trabalhar em Uberaba, MG, onde era Professor de Anatomia Topográfica da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Com seu pioneirismo, iniciou a cirurgia torácica na Região e foi lá também que construiu seu primeiro modelo de coração-pulmão artificial.
Em 1958, Dr. Adib Jatene voltou a São Paulo, para o Hospital das Clínicas da USP e para o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, onde atuava como cirurgião. Nessa época, organizou um laboratório experimental e de pesquisa, onde desenvolveu e construiu o primeiro aparelho coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas e que evoluiu para um grande Departamento de Bioengenharia. Entre as várias contribuições originais na área de bioengenharia, incluem-se os oxigenadores de bolhas e de membrana, a válvula de disco basculante, dos quais possui a patente. Estão sendo produzidos industrialmente sob licença e utilizados no País e exterior.
Tem também importantes contribuições no campo da cirurgia de revascularização do miocárdio e da cirurgia de cardiopatias congênitas. Ainda descreveu a técnica de correção de transposição dos grandes vasos da base, conhecida hoje como cirurgia de Jatene, sendo amplamente utilizada em todo o mundo.
Tornou-se professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP também e chegou a ser diretor da Faculdade de Medicina da instituição até pouco tempo atrás. Foi Ministro da Saúde por duas vezes e também Secretário da Saúde de São Paulo. Quando Ministro no governo Collor, criou a CPMF, o imposto destinado a reverter sua arrecadação para a saúde. Mais tarde, decepcionado com o clima da política, disse a célebre frase, deixando o cargo:
"Não dá para ficar. Meia dúzia de empreiteiras mandam neste país."
Como Secretário de Saúde de SP, criou o Plano Metropolitano de Saúde, que expandiu-se e se tornou no SUS, o maior plano de saúde gratuito do mundo, sendo exemplo para diversas nações. A preocupação com a saúde pública sempre foi um dos expoentes do pensamento e da filosofia deste médico. A união do conhecimento social ao científico é um dos maiores legados que este homem pode deixar para a nossa sociedade e para o mundo.
Seu pioneirismo na bioengenharia e no desenvolvimento de novas tecnologias na área médica, tem continuidade hoje com a Fundação Adib Jatene, que já ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais na área de tecnologia médica.
Homem de uma imensa sabedoria e disposto de uma enorme paciência, procura conversar com todos que o procuram, dá ouvidos a cada queixa, e seguimento a cada conversa. De fácil acessibilidade, conversou conosco durante o COBEM, em Outubro de 2012. Com seus 83 anos e muita disposição, lucidez e de espantosa inteligência, suas palavras e seus feitos são um grande patrimônio do nosso país e têm padrão internacional de qualidade e reconhecimento.
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