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Campanhas contra o câncer: quais são os impactos?

Campanhas contra o câncer: quais são os impactos?
Gustavo Schvartsman
dez. 14 - 4 min de leitura
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Campanhas contra o câncer: quais são os impactos?

Chegamos ao final do ano com muitas notícias, postagens nas redes sociais e ações midiáticas sobre as campanhas de conscientização acerca dos diferentes tipos de câncer em diferentes meses – o “Outubro rosa” contra o câncer de mama, o “moustache November” (ou “Movember”) contra o câncer de próstata, entre outros diversos menos badalados.

O propósito inicial das campanhas foi de aumentar a conscientização sobre o câncer e assim estimular as pessoas a realizar exames para detecção precoce da doença – os famosos exames de rastreamento que ninguém gosta de fazer, como mamografia, Papanicolau, colonoscopia, entre outros.

Seu objetivo foi parcialmente atingido: um estudo publicado em 2013 no Journal of Clinical Oncology mostrou que, de 2004 a 2009, das campanhas contra cânceres de colo de útero (janeiro), colorretal (março) e câncer de mama (outubro), apenas a contra o câncer colorretal se correlacionou com o número de diagnósticos da doença no seu mês. Adicionalmente, a mesma e a campanha contra câncer de mama ocasionaram um aumento no número de buscas no Google em seus respectivos meses, enquanto a campanha contra câncer de colo de útero não surtiu efeito em nenhum desses dois quesitos.

Com base nesse estudo, podemos concluir que, apesar de modesto, as campanhas surtiram um efeito. Mesmo que não tenham contribuído de forma significativa para redução de mortalidade, geraram uma conscientização e solidariedade por parte da população saudável, além de uma inclusão social para os acometidos pela doença. Muitos pacientes com câncer, inclusive, compartilharam suas experiências para estimular o rastreamento, seja com histórias vitoriosas ou com desfechos não tão favoráveis. Esperamos ver, cada vez mais, as primeiras.

Esses meses específicos, ainda, geram todo ano programas de promoção de saúde por empresas, investimentos governamentais, aumento de doações e ações de integração e confraternização, mesmo em setores não vinculados à saúde.

Há, então, lado negativo dessas campanhas?

Por conta do sucesso de algumas delas, todos os meses acabaram sendo preenchidos por cores e doenças. Alguns meses até tem mais de um tipo de câncer. Isso pode gerar uma falsa necessidade de rastreamento e diagnóstico precoce de todos os tipos de câncer – o que acarretaria em elevação de gastos com exames, saturação do sistema público (que já não supre a demanda como está) e oferecendo risco ao paciente por meio de biópsias e cirurgias que não trariam benefício evidente e com potencial de causar danos irreversíveis.

O United States Preventive Services Task Force (USPSTF), uma entidade americana independente do governo e de sociedades médicas que compila e analisa evidências referentes a medidas de prevenção em saúde, sugere rastreamento de rotina para apenas 4 tipos de câncer: mama, colorretal, colo de útero e, mais recentemente, pulmão para fumantes. Dessas doenças, ainda assim somente para grupos específicos de idade. Note que o câncer de próstata não faz mais parte dessa lista desde 2012, justamente por ter baixa mortalidade e crescimento lento.

Concluindo: as campanhas contra o câncer são muito bem vindas, mas devem ser veiculadas com responsabilidade. Seus objetivos devem ser expostos claramente para maximizar seus resultados e evitar uma rotina diagnóstica desnecessária.

Para saber mais sobre as recomendações do USPSTF: http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Name/recommendations


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