Segundo um levantamento realizado pelo CFM, a pandemia causou uma queda significativa no volume de atendimentos eletivos ambulatoriais em 2020. Porém, o Ministério da Saúde indica que houve um aumento de 20% nesse tipo de atendimento em comparação com o ano passado, isso somente no primeiro semestre, apesar de apresentar em queda de 14% comparado ao mesmo período de 2019.
O número de cirurgias eletivas também demonstra recuperação neste ano, principalmente nos meses de abril, maio e junho. Porém, esse aumento no primeiro semestre foi de apenas 1,5% em relação ao ano anterior, não alcançando os números apresentados no ano passado.
O CFM está preparando uma estratégia nacional para estimular a população a buscar atendimento médico para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, observando as normas de segurança, levando sempre em consideração o alerta feito pelas Sociedades de especialidades.
Será um desafio, por isso o CFM acredita que fazendo ações para estimular os pacientes, principalmente os com doenças crônicas, a não abandonarem seus tratamentos, será possível reverter e melhorar os números.
Confira abaixo algumas destas iniciativas:
Cardiologia – Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgias Cardiovasculares (SBCCV), mais de 60 mil brasileiros estão na fila de espera por atendimento cardiológico devido à falta de insumos. A pesquisa, realizada a partir de relatos de 27 hospitais de nove estados brasileiros, constatou que 52% dos serviços de cirurgia cardiovascular já apresentam problemas graves de desabastecimento.
De acordo com a SBCCV, a falta de insumos fez com que, em 2020, menos de 40 mil pacientes fossem operados. Em um ano sem pandemia, aproximadamente 100 mil operações são realizadas no País. A especialidade relata significativa falta de válvulas cardíacas, oxigenadores, materiais especiais e cânulas, usados em cirurgias de ponte de safena, correção de defeitos congênitos, correção de aneurismas e trocas de válvulas cardíacas.
Para os cardiologistas, o represamento dessas cirurgias, além de aumentar o número de mortes por problemas cardiovasculares, deve gerar uma busca ainda maior ao sistema de saúde pós-pandemia. Segundo o ‘cardiômetro’, indicador dos óbitos por doenças do coração criado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), essa é a doença que mais mata no Brasil, chegando a atingir mais de 400 mil pessoas por ano.
Oncologia – Preocupada com o panorama do câncer em tempos de pandemia, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lançou em setembro do ano o resultado de pesquisa entre seus associados para entender os impactos da covid-19 no Brasil. Segundo o levantamento, mais de 74% dos entrevistados informaram que tiveram um ou mais pacientes que interromperam ou adiaram o tratamento por mais de um mês durante a pandemia.
Em campanha, a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) também levantou durante o “Março Azul” que, em 2020, só no SUS o número de exames de sangue oculto nas fezes caiu 23% em relação a ano anterior – 350 mil exames a menos. Apesar de ser um procedimento simples, este exame pode ser decisivo para salvar a vida de paciente com suspeita de câncer colorretal.
Já a colonoscopia, também indicado aos pacientes em que existe uma suspeita diagnóstica, apresentou uma queda percentual ainda mais significativa no ano da pandemia, de acordo com a Sobed. Foram menos 106.030 procedimentos, em comparação com 2019 – uma redução de 31%.
Oftalmologia – Dados levantados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) também refletem o afastamento dos pacientes por cuidados com a saúde ocular. Em maio de 2020, mês de prevenção e combate ao glaucoma, a especialidade mostrou que quase 1,6 milhão de exames para detecção precoce da doença deixaram de ser realizados no SUS. A queda prejudicou a investigação de possíveis casos novos desta doença, considerada principal causa de cegueira evitável no mundo, contribuindo para o atraso no tratamento e o acompanhamento de situações confirmadas.
Os oftalmologistas também indicaram que pelo menos 6,5 mil cirurgias que são indicadas para tratar ou reverter o glaucoma também deixaram de ser realizadas no SUS no ano passado. A queda, segundo números analisados pelo CBO, foi de 22%. Com a flexibilização do isolamento social na maior parte do País e a retomada das operações, os especialistas temem alta expressiva da demanda e pacientes com a doença em estágio agravado.
Urologia – Quem também alertou para os efeitos da pandemia na saúde dos brasileiros foi a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que em julho do ano passado divulgou resultado de pesquisa com associados. Cerca de 90% dos participantes informaram ter tido redução igual ou maior que 50% nas cirurgias eletivas e 55% relataram diminuição de pelo menos metade no número de cirurgias de emergência.
Referência
Portal CFM publicado em 13/09
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