Um estudo publicado na revista Nature, apresenta uma análise abrangente sobre os efeitos da restrição dietética como um potencial geroprotetor, uma intervenção que promete melhorar a saúde e aumentar a longevidade. Este estudo destaca a complexidade e as nuances dos efeitos da restrição calórica e do jejum intermitente em 960 camundongos fêmeas geneticamente diversas, explorando como essas práticas influenciam a longevidade e diversos aspectos fisiológicos.
A pesquisa divide os animais em cinco grupos, variando o regime alimentar entre uma dieta normal e intervenções que reduzem a ingestão calórica em 20% ou 40%, ou incorporam jejum intermitente de um ou dois dias consecutivos por semana. A equipe monitorou cerca de 200 características imunológicas, sanguíneas, metabólicas, funcionais e comportamentais, coletando dados ao longo do tempo.
Os resultados mostram que, de fato, a restrição dietética pode aumentar a longevidade dos camundongos. Contudo, a extensão desse benefício e os mecanismos subjacentes variam significativamente e revelam uma complexa interação entre dieta e genética. Interessantemente, mudanças metabólicas associadas à saúde, como redução da gordura corporal e diminuição dos níveis de açúcar no sangue em jejum, não necessariamente se correlacionaram com um aumento na longevidade. Além disso, restrições dietéticas severas impactaram negativamente a composição de subconjuntos de células imunes, o que poderia aumentar a susceptibilidade a infecções e comprometer a vida útil dos animais.
Um dos achados mais significativos foi que diferenças genéticas entre os camundongos explicaram aproximadamente três vezes mais variações na longevidade do que as intervenções dietéticas testadas (24% contra 7%). Isso indica que a longevidade e as respostas à restrição dietética são traços poligênicos, influenciados por vários genes que, individualmente, têm pequenos efeitos, mas coletivamente podem ter um impacto considerável.
Outro aspecto relevante do estudo é a maneira como os camundongos lidaram com as dietas. Por exemplo, os submetidos ao jejum intermitente recuperavam o peso perdido durante os períodos de alimentação normal, e aqueles sob restrição calórica consumiam rapidamente seu alimento quando disponível, prolongando os períodos sem comida. Esses comportamentos sugerem que há influências únicas na longevidade e respostas à restrição dietética que são independentes de outros efeitos.
O vasto conjunto de dados coletados nesse estudo levanta questões sobre as melhores práticas para compartilhar e analisar informações, de modo a minimizar o risco de resultados falsos positivos ou negativos. Além disso, a integração de resultados de diversos estudos é crucial para construir uma compreensão integrada e abrangente dos processos biológicos que governam a longevidade. Portanto, avançar na pesquisa sobre geroprotetores e longevidade demanda uma abordagem colaborativa e multidisciplinar, reunindo expertise de várias áreas para explorar efetivamente esses complexos sistemas biológicos.
Referência:
Schork, N. J. (2024, October 9). Dietary restriction can extend lifespan — but genetics matters more. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-03055-4