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A Saúde na Era da Disrupção Tecnológica

A Saúde na Era da Disrupção Tecnológica
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fev. 19 - 7 min de leitura
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O artigo Why the Tech Industry Won´t Disrupt Health Care, publicado em 16 de fevereiro de 2024 em Harvard Bussiness Review, faz uma análise criteriosa sobre os desafios enfrentados pela indústria tecnológica ao tentar revolucionar o setor de saúde. A premissa é que, embora tenhamos visto a tecnologia transformar radicalmente setores como o varejo e a mídia, o setor de saúde tem mostrado uma resiliência notável contra uma disrupção semelhante.

Resistência à Disrupção Tecnológica

O artigo começa destacando como diversas indústrias foram profundamente transformadas ou até mesmo extintas pela inovação digital, citando exemplos notáveis como o declínio da Kodak diante da fotografia digital e a adaptação de gigantes como o Walmart ao comércio eletrônico. No entanto, o setor de saúde, apesar de ser altamente dependente de dados e aparentemente atrasado na adoção de novas tecnologias, tem resistido a esse tipo de disrupção.

Barreiras à Inovação

Os autores identificam vários obstáculos fundamentais que impedem a disrupção tecnológica na saúde:

✅Complexidade e Fragmentação

O setor de saúde é marcado por uma intrincada teia de relações entre pacientes, provedores, seguradoras, e entidades regulatórias. Esta complexidade é agravada pela diversidade de sistemas de pagamento, protocolos de tratamento e requisitos regulatórios em diferentes regiões e países.

A inovação tecnológica requer uma compreensão profunda de todos esses elementos para criar soluções que sejam verdadeiramente eficazes e adotáveis em grande escala. Além disso, a fragmentação do setor muitas vezes resulta em silos de dados, dificultando a interoperabilidade e a troca eficiente de informações de saúde, um elemento crucial para a aplicação efetiva da tecnologia.

✅Modelo de Negócios Ambíguo

A saúde opera em um espaço único entre o lucro e a missão social. Enquanto algumas instituições visam o lucro, muitas operam sob modelos de negócios sem fins lucrativos, com objetivos que vão além da simples geração de receita. Essa dualidade cria desafios para inovadores tecnológicos que buscam introduzir modelos de negócios disruptivos baseados em eficiência e escalabilidade. A necessidade de equilibrar a rentabilidade com a obrigação de fornecer cuidados sociais e de emergência adiciona outra camada de complexidade na adoção de novas soluções tecnológicas, especialmente aquelas que buscam substituir ou automatizar serviços existentes.

✅Lealdade à Marca Local e Tempo

Muitos sistemas de saúde possuem uma forte base de lealdade dentro de suas comunidades, construída ao longo de décadas ou até séculos. Esta lealdade é reforçada por fatores culturais, a reputação de instituições específicas, e relações pessoais entre profissionais de saúde e pacientes. Para novos entrantes tecnológicos, superar esta lealdade requer não apenas oferecer soluções tecnologicamente superiores, mas também ganhar confiança e demonstrar um valor claro e tangível para os pacientes e profissionais de saúde.

Além disso, o processo de adoção de inovações no setor de saúde é notoriamente lento, com a necessidade de extensas provas de eficácia clínica, aprovações regulamentares e, eventualmente, a aceitação por parte de órgãos profissionais e pagadores. Este longo ciclo de adoção desacelera a capacidade de inovação rápida, característica de muitos empreendimentos tecnológicos, impondo um ritmo mais cauteloso e considerado.


Caminho para a Integração da Tecnologia

Apesar desses desafios, os autores argumentam que há um caminho a seguir para os sistemas de saúde que desejam integrar tecnologia de forma eficaz:


🚀Parcerias Estratégicas

As parcerias estratégicas entre sistemas de saúde e gigantes tecnológicos podem assumir várias formas, desde o desenvolvimento conjunto de soluções de saúde digital até a adoção de plataformas de dados em nuvem para melhorar a eficiência operacional e a análise de dados. Um exemplo notável pode ser a colaboração para integrar inteligência artificial em diagnósticos, melhorando a precisão e a rapidez, enquanto se reduz a carga de trabalho dos profissionais de saúde. Tais parcerias também podem explorar o desenvolvimento de tecnologias wearable para monitoramento remoto de pacientes, permitindo cuidados preventivos e personalizados.

Estas colaborações são projetadas para combinar o conhecimento clínico e operacional dos sistemas de saúde com a expertise tecnológica dos parceiros, visando inovações que sejam tanto escaláveis quanto diretamente aplicáveis ao cuidado do paciente.

🚀Inovação em Saúde Digital

Para nutrir a inovação internamente, os sistemas de saúde estão cada vez mais investindo em saúde digital e criando incubadoras para startups focadas em tecnologia de saúde. Estas iniciativas visam acelerar o desenvolvimento e a implementação de soluções inovadoras, oferecendo recursos como financiamento, mentoria, acesso a redes de especialistas e oportunidades de teste em ambientes clínicos reais.

Um aspecto crítico aqui é a capacidade de abordar desafios específicos do setor, como a melhoria do acesso ao cuidado em áreas remotas através de telemedicina, otimização de processos internos com soluções de automação, ou aprimoramento da experiência do paciente com interfaces digitais mais intuitivas. Ao investir em inovação digital, os sistemas de saúde podem se tornar líderes na transformação da prestação de cuidados, ao invés de meros seguidores das tendências tecnológicas.

🚀Adoção de Novos Modelos de Negócios

A transformação digital no setor de saúde exige mais do que apenas a introdução de novas tecnologias; requer uma reavaliação e, muitas vezes, uma reestruturação dos modelos de negócios existentes. Isso pode incluir a adoção de modelos baseados em valor, que focam na qualidade e nos resultados do cuidado ao invés de na quantidade de serviços prestados. Outra abordagem pode ser o desenvolvimento de serviços integrados de saúde que combinem cuidados presenciais e digitais, oferecendo uma experiência de cuidado mais coesa e conveniente para os pacientes.

Além disso, modelos de negócios inovadores podem explorar parcerias com seguradoras para oferecer pacotes de cuidados que incentivem a prevenção e o gerenciamento proativo da saúde. Estas estratégias requerem uma mentalidade aberta à mudança e a disposição para experimentar e adaptar-se em um setor tradicionalmente conservador.


O artigo conclui que, embora seja improvável que a indústria tecnológica  disrupta o setor de saúde de maneira radical, há uma grande oportunidade para que as tecnologias digitais melhorem significativamente a eficiência, a qualidade e o acesso aos cuidados de saúde. Isso requer uma abordagem colaborativa, onde os sistemas de saúde aproveitam suas forças históricas e integram novas tecnologias e modelos de negócios para enfrentar os desafios contemporâneos.


Referência: 

Glaser, J., Vaezy, S., & Guptill, J. (2024, February 16). Why the tech industry won’t disrupt health care. Harvard Business Review. https://hbr.org/2024/02/why-the-tech-industry-wont-disrupt-health-care


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