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Como identificar o "coração de atleta"

Como identificar o "coração de atleta"
Marcos Aurélio S. Oliveira
jul. 11 - 6 min de leitura
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As práticas de esportes exigem do corpo um aumento na capacidade de trabalho muito maior que o normal, para munir o processo metabólico. Essa prática constante pode causar adaptações fisiológicas. No coração, essas mudanças podem depender do tipo de exercício realizado, variando entre exercícios de força ou resistência.

Atletas de alta performance tendem a se adaptar a determinadas situações. Por exemplo, a oxigenação periférica de todos os órgãos e músculos desses indivíduos ficam muito acima do normal e consequentemente o coração necessita se adaptar. Quanto maior o coração, maior o volume de sangue que irriga e abastece o corpo.

Para suprir essa constante necessidade causada por exercícios intensos, notamos uma remodelação causada no ventrículo esquerdo desse atleta, podendo ela ser uma hipertrofia concêntrica ou excêntrica.

O conhecido "coração de atleta" se dá pela alteração das paredes do ventrículo esquerdo, que são mais espessas para reagir rapidamente ao aumento repentino da pressão sanguínea necessária quando se faz um exercício. Em descanso, o coração de uma pessoa normal geralmente bombeia 5l de sangue por minuto, podendo chegar a 30l sob qualquer tipo de esforço físico. Depois de um tempo, o órgão dificilmente conseguirá manter esse ritmo.  Porém, alguns atletas conseguem que seu coração bombeie cerca de 40l de sangue por minuto durante horas.

Figura 1. Adaptações do coração de atleta. Fonte: Material and Methods (ufrgs.br)

Adaptações fisiológicas

As modificações cardíacas estruturais e fisiológicas que acontecem com atletas de alta performance são um fenômeno conhecido por “coração de atleta”. O aumento do desempenho cardiovascular objetiva encarregar-se do trabalho metabólico de exercícios extenuantes. Com a constância,os exercícios podem ocasionar a remodelação cardíaca.

A hipertrofia depende do aumento de volume dos cardiomiócitos que ocorre paralelamente ao aumento do número de fibroblastos, das fibras colágenas e de células endoteliais que formarão novos capilares (VASSALO; LIMA, 1993)

O crescimento dos miócitos na hipertrofia cardíaca ocorre pela síntese de novos componentes, com aumento da espessura das miofibrilas, do seu número ou do seu comprimento. Ocorrem também modificações nas proporções dos diferentes tipos de actina e miosina produzidas, tentando adequar a velocidade e a força de contração necessárias ao processo de adaptação em face do estímulo que gerou a hipertrofia. (MORGAN; BAKER, 1991).

 

Figura 2. Adaptações fisiológicas. Fonte: 10.1152/ajpheart.00899.2014

Hipertrofia excêntrica

Os exercícios físicos de resistência (como ciclismo, natação, funcional e corrida) demandam um certo esforço pelo maior tempo possível e, com isso, envolvem diretamente o sistema cardíaco e respiratório. Eles necessitam de um maior suprimento de oxigênio para os músculos e - por necessitarem de contrações rítmicas dos músculos esqueléticos - quando realizados por um longo prazo (30 a 60min), apontam uma eficiente melhora no retorno venoso, consequentemente aumentando o volume sanguíneo no ventrículo esquerdo antes da contração e da ejeção para a circulação sistêmica. 

A adição de sarcômeros, em série, permite que a célula aumente de comprimento, ocorrência principal nas hipertrofias excêntricas, e a adição em paralelo aumenta a secção transversal das células, o que ocorre principalmente nas hipertrofias concêntricas (RUSSEL; MOTLAGH; ASHLEY, 2000, apud MILL; VASSALO, 2001).

Figura 3. Hipertrofia excêntrica. Fonte: Coração de atleta: o que é e quais as vantagens | Hospital Proncor

A hipertrofia cardíaca fisiológica gerada por exercícios físicos tem efeitos considerados cardioprotetores ao contribuir com uma adaptação que melhora a força contrátil do miocárdio e, dessa forma, contrações mais fortes no coração.

Podemos ressaltar como principais adaptações fisiológicas cardíacas, causadas pelos exercícios de resistência:

  • Aumento da cavidade do VE.

  • Alteração da função diastólica.

  • Aumento de biomarcadores cardíacos (CK-MB, cTnT, cTnl, NT- proBNP).

  • Aumento da FC após a execução do exercício.

  • Bradicardia sinusal.

  • Redução de PA sistólica e diastólica.

  • Alterações ao ECG em repouso.

Hipertrofia concêntrica

Os exercícios físicos de força - como cross-fit, judô e treinamentos de levantamento de peso - têm uma menor relação da massa muscular em relação aos exercícios de resistência, mas a contração isométrica com cargas mais pesadas estimula uma obstrução mecânica da circulação sanguínea muscular, causando o aumento da resistência vascular sistêmica e da pressão arterial. 

A hipertrofia concêntrica é gerada pela sobrecarga de pressão que ocorre no ventrículo esquerdo, caracterizada pelo elevado pico de tensão sistólica. Em resposta a essa sobrecarga hemodinâmica, ocorre aumento no diâmetro dos miócitos pela adição de novos sarcômeros em paralelo, o que leva a um aumento na espessura da parede do ventrículo esquerdo.

Os exercícios de força são eficazes na redução da rigidez arterial periférica e têm melhorias na estimulação da produção de substâncias vasoativas e função endotelial. Podemos ressaltar como principais alterações fisiológicas cardíacas dos atletas de força:

  • Aumento da resistência vascular sistêmica.

  • Aumento da PA sistólica.

  • Aumento da espessura do VE e do septo interventricular. 

Conclusão 

Existe necessidade da identificação e diferenciação por profissionais da saúde a respeito das alterações fisiológicas do "coração de atleta" e alterações patológicas, ressaltando o aumento da espessura da parede do ventrículo esquerdo e cardiomiopatia hipertrófica, apesar das barreiras entre o fisiológico e o patológico não serem bem limitadas.

As identificações do coração de atleta podem ser feitas através dos seguintes exames:

  • ECG,

  • Ecocardiograma,

  • Ressonância magnética.

Estes identificam adaptações cardíacas  morfológicas, como hipertrofias; funcionais, como alterações na frequência cardíaca; e bioquímica, como o aparecimento de biomarcadores de lesão cardíaca. O conhecimento médico a respeito deste tema pode ajudar em um diagnóstico mais rápido de uma CMH (Cardiomiopatia Hipertrófica) e também um acompanhamento mais eficaz do atleta.

Referências bibliográficas:

- Hipertrofia cardíaca em decorrência da obesidade e do exercício físico.

- Material and Methods (ufrgs.br)

- :10.25248/reas.e3999.2020

 


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