O aumento alarmante da taxa de suicídio entre crianças e jovens no Brasil é um fenômeno que exige atenção imediata e ações coordenadas de prevenção e apoio. De acordo com um estudo conduzido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard e publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, houve um crescimento anual de 6% nas taxas de suicídio entre jovens de 2011 a 2022, enquanto as notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos aumentaram 29% ao ano.
Estes números são significativamente mais altos do que os registrados na população em geral, ressaltando uma crise de saúde mental emergente entre o público mais jovem, conforme divulgado em Agência Brasil de 24 de fevereiro de 2024.
O estudo, que analisou quase 1 milhão de dados de três diferentes bases do Ministério da Saúde, revela um aumento consistente das taxas de notificação por autolesões em todas as regiões do Brasil. Este cenário é particularmente preocupante, considerando-se que, globalmente, o número de suicídios apresentou uma redução de 36%, enquanto nas Américas e no Brasil, em particular, as taxas aumentaram respectivamente em 17% e 43% entre 2000 e 2019.
Além disso, a pesquisa destaca o impacto desproporcional do suicídio e autolesões em diferentes grupos raciais e étnicos no Brasil, com a população indígena apresentando as maiores taxas de notificação. Isso sugere a existência de barreiras no acesso aos serviços de saúde de emergência para essas comunidades, exacerbando os riscos e as consequências da crise de saúde mental.
O cenário foi agravado pela pandemia da COVID-19, que, apesar de não alterar a tendência crescente de suicídios, intensificou as discussões sobre transtornos mentais como ansiedade e depressão devido às mudanças nas dinâmicas sociais. Este contexto reforça a necessidade de dados de qualidade para monitoramento e prevenção do suicídio, uma área em que o Brasil se destaca pela disponibilidade de múltiplas bases de dados.
O estudo da Fiocruz Bahia também associa o aumento das taxas de suicídio às crescentes desigualdades sociais, pobreza e prevalência de transtornos mentais, enfatizando a urgência de políticas e intervenções focadas na prevenção. Especialistas, como a psiquiatra Alessandra Diehl e a psicóloga Paula Zanelatto, sublinham a importância de abordagens multifatoriais e capilarizadas para a atenção à saúde mental infantojuvenil, combatendo estigmas e promovendo o diálogo aberto e o tratamento precoce.
Iniciativas como o projeto na Rocinha, que visa promover a saúde mental através do diálogo e da arte, e os serviços de apoio emocional oferecidos pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) e outros canais, são fundamentais nesse esforço conjunto. Estes esforços visam não apenas tratar, mas principalmente prevenir o suicídio, enfatizando a importância da informação, do suporte comunitário e do acesso a serviços de saúde mental.
À medida que enfrentamos essa crise de saúde mental, é crucial que a sociedade, os profissionais de saúde e os formuladores de políticas trabalhem juntos para criar um ambiente de suporte e prevenção, onde jovens em risco possam encontrar a ajuda de que necessitam antes que seja tarde demais. Este estudo serve como um chamado à ação para todos nós, destacando a necessidade urgente de abordar a saúde mental infantojuvenil com a seriedade e a atenção que merece.
Referência:
Gandra, A. (2024, Fevereiro 24). Fiocruz alerta para aumento da taxa de suicídio entre criança e jovem. Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-02/fiocruz-alerta-para-aumento-da-taxa-de-suicidio-entre-crianca-e-jovem