Um estudo publicado no JAMA em janeiro de 2024 destacou uma preocupante associação entre o uso de denosumab e a ocorrência de hipocalcemia grave em mulheres idosas dependentes de diálise. A hipocalcemia grave é uma condição médica caracterizada por níveis anormalmente baixos de cálcio no sangue, o que pode levar a sintomas que ameaçam a vida, como convulsões e arritmias cardíacas. Esse estado é especialmente preocupante em pacientes com doença renal crônica avançada, onde a regulação do cálcio já é comprometida.
A osteoporose é uma condição comum entre mulheres na pós-menopausa, caracterizada pela perda de densidade óssea, fragilidade e aumento do risco de fraturas. Em pacientes com doença renal crônica avançada submetidos à diálise, há uma alta prevalência de distúrbio mineral e ósseo relacionado à doença renal (DMO-DRR), tornando-os ainda mais suscetíveis à baixa densidade mineral óssea.
O estudo, que incluiu uma amostra considerável de pacientes, revelou uma incidência significativamente maior de hipocalcemia grave em pacientes tratadas com denosumab em comparação com bisfosfonatos orais. A diferença de risco ponderada foi de 39,1% nas 12 semanas seguintes ao início do tratamento. É importante destacar que pacientes com hipocalcemia leve a moderada no início do estudo apresentaram maior risco de hipocalcemia grave com o uso de denosumab.
A incidência de hipocalcemia grave entre pacientes tratados com denosumab e bisfosfonatos orais, é representado no gráfico a seguir:
Fonte: Bird ST, Smith ER, Gelperin K, et al., 2024
Já no gráfico a seguir, é possível visualizar uma comparação dos níveis totais de cálcio sérico corrigidos pela albumina seis meses antes e depois do início do tratamento com denosumab ou bisfosfonato oral:
Fonte: Bird ST, Smith ER, Gelperin K, et al., 2024
A hipocalcemia grave é uma condição séria que pode resultar em sintomas que ameaçam a vida, como convulsões e arritmias cardíacas. Surpreendentemente, aproximadamente 5% dos pacientes tratados com denosumab e que desenvolveram hipocalcemia grave apresentaram esses sintomas, apesar das advertências presentes nas bulas dos produtos sobre a hipocalcemia e da necessidade de monitoramento durante a diálise.
Um aspecto crucial destacado pelo estudo é a necessidade de uma cuidadosa seleção de pacientes e um monitoramento rigoroso ao prescrever denosumab para pacientes dependentes de diálise. Dado o alto risco de hipocalcemia grave associado ao denosumab nesse grupo de pacientes, é importante que os médicos avaliem cuidadosamente os benefícios e riscos antes de iniciar o tratamento.
Este estudo apresenta algumas limitações, como a falta de dados sobre a decisão de prescrever denosumab versus bisfosfonatos orais e a ausência de dados laboratoriais sobre os níveis de vitamina D, fosfatase alcalina ou hormônio paratireoidiano. Além disso, a generalização dos resultados pode ser limitada em cenários onde as práticas relacionadas à seleção e cuidado de pacientes recebendo denosumab diferem daquelas nos Estados Unidos.
Em suma, os resultados destacam a importância de uma avaliação criteriosa do risco-benefício ao prescrever denosumab para pacientes idosas dependentes de diálise e a necessidade de um acompanhamento próximo para detectar e tratar precocemente a hipocalcemia grave.
Para mais detalhes sobre essa pesquisa, disponibilizamos aqui o link de acesso.
Referência:
Bird ST, Smith ER, Gelperin K, et al. Severe Hypocalcemia With Denosumab Among Older Female Dialysis-Dependent Patients. JAMA. 2024;331(6):491–499. doi:10.1001/jama.2023.28239