Uma recente descoberta no campo da arqueogenética, liderada por pesquisadores da Universidade de Zurique, está redefinindo a compreensão histórica das doenças treponêmicas, com implicações significativas para a história da medicina. Este avanço, relatado em uma publicação da revista Nature em 24 de janeiro de 2024, sugere que a família de micróbios responsáveis por doenças como a sífilis tem uma história muito mais antiga com a humanidade do que se acreditava anteriormente.
A pesquisa focou em restos humanos encontrados no Brasil, datados de quase 2.000 anos atrás. A análise desses restos revelou genomas do Treponema pallidum, bactéria responsável pela sífilis e outras doenças treponêmicas. Notavelmente, os genomas identificados mostraram maior semelhança com a subespécie causadora do bejel, uma infecção oral rara nas Américas atualmente, em contraste com as cepas comumente associadas à sífilis ou à bouba (conhecida internacionalmente como yaws)
Este achado não apenas reescreve a distribuição histórica dessas doenças, mas também estende a linha do tempo de sua associação com os seres humanos. Os pesquisadores concluíram que as linhagens de Treponema pallidum provavelmente começaram a divergir há cerca de 14.000 anos, contradizendo teorias anteriores que datavam sua origem em 10.000 anos mais recentes.
O estudo também levanta dúvidas sobre a teoria de que a sífilis foi introduzida na Europa pelos marinheiros que acompanharam Cristóvão Colombo. A presença de cepas diversas de Treponema na Europa do século XV, algumas anteriores ao retorno da expedição de Colombo, juntamente com o novo cronograma evolutivo do Treponema pallidum, sugere que a doença já existia no Velho Mundo.
As possibilidades de que as doenças treponêmicas tenham surgido na Eurásia ou na África e chegado às Américas com os primeiros humanos, ou de que a bactéria tenha saltado para os humanos de um hospedeiro animal, são agora exploradas. Este aspecto da pesquisa ressalta a complexidade do estudo das doenças treponêmicas e a necessidade de investigações contínuas para entender suas origens e evolução.
Esta descoberta, qualificada como "notável" por especialistas, não apenas expande o conhecimento sobre a história da sífilis, mas também ilustra a importância da arqueogenética na elucidação de enigmas históricos sobre doenças humanas. O estudo destaca que a busca pela origem da sífilis é, de fato, uma busca pela origem do próprio Treponema, um desafio que continua a motivar cientistas em todo o mundo. 🔬🦠
Referência:
Callaway, E. (2024, January 24). Syphilis microbe’s family has plagued humans for millennia. Nature. Recuperado de https://www.nature.com/articles/d41586-024-00191-9