Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), fizeram um avanço significativo no diagnóstico precoce da esclerose múltipla (EM), uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central que afeta quase um milhão de americanos. O estudo, publicado na revista Nature Medicine, e divulgado em GEN News, revela que um conjunto específico de autoanticorpos pode ser encontrado no sangue de pessoas que posteriormente desenvolveram EM, anos antes dos primeiros sintomas aparecerem.
Esta descoberta promete transformar o modo como a EM é diagnosticada e tratada, possibilitando intervenções mais precoces e potencialmente mais eficazes. O neurologista Michael Wilson, MD, autor sênior do estudo e sua equipe, utilizaram uma técnica avançada chamada Phage Display Immunoprecipitation Sequencing (PhIP-Seq), que identifica autoanticorpos contra mais de 10.000 proteínas humanas. Esse método permite uma ampla investigação de diversas doenças autoimunes.
A equipe de Wilson, em colaboração com Joe DeRisi, PhD, presidente do Chan Zuckerberg Biohub SF e também autor sênior do trabalho, analisou amostras de sangue de 250 pacientes com EM coletadas após o diagnóstico, bem como amostras coletadas cinco anos ou mais antes, quando esses indivíduos se alistaram no exército. Também foram analisadas amostras de 250 veteranos saudáveis para comparação.
Os resultados mostraram que 10% dos pacientes com EM tinham uma abundância marcante de autoanticorpos anos antes do diagnóstico. Esses autoanticorpos se ligavam a um padrão químico semelhante ao encontrado em vírus comuns, como o Vírus Epstein-Barr (VEB), conhecido por infectar mais de 85% da população mundial e considerado um fator contribuinte para o desenvolvimento da EM.
Além disso, os pacientes com esses autoanticorpos apresentavam níveis elevados de neurofilamento leve (Nfl), uma proteína liberada durante a degradação dos neurônios, indicando uma guerra imunológica no cérebro anos antes do diagnóstico clínico de EM. Este achado foi corroborado por uma análise subsequente de amostras de sangue do estudo ORIGINS da UCSF, onde 10% dos pacientes diagnosticados com EM apresentaram o mesmo padrão de autoanticorpos, sendo esse padrão 100% preditivo de um diagnóstico de EM.
O Dr. Stephen Hauser, diretor do Instituto Weill de Neurociências da UCSF e autor sênior do estudo, destacou a importância dessa descoberta para a mudança de paradigma no tratamento da EM, passando da supressão para a busca da cura.
Este estudo não apenas abre novos caminhos para o entendimento e tratamento da EM, mas também oferece uma esperança real de diagnóstico precoce, permitindo discussões concretas sobre o início do tratamento antes mesmo dos pacientes apresentarem sintomas clínicos. Com o desenvolvimento contínuo dessa pesquisa, futuramente poderemos ver testes de sangue simples sendo utilizados para identificar precocemente a EM, revolucionando o manejo da doença e melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Referência:
Genetic Engineering & Biotechnology News. (2024, April 17). Blood Biomarker Reveals Signs of Multiple Sclerosis Years Before. Genetic Engineering & Biotechnology News. https://www.genengnews.com/topics/translational-medicine/blood-biomarker-reveals-signs-of-multiple-sclerosis-years-before/