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Confira alguns pontos-chaves sobre a Apneia Obstrutiva do Sono

Confira alguns pontos-chaves sobre a Apneia Obstrutiva do Sono
GEPRAPS - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA RESPIRATÓRIAS NA APS
mar. 16 - 8 min de leitura
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O dia 17 de março é marcado pela conscientização da importância do sono, no Dia Mundial do Sono. Importante para a manutenção da homeostase de diversos sistemas fisiológicos (cardiovascular, neurológico, hormonal, gastrointestinal, dentre outros), o sono é alvo crescente de estudos, principalmente pela conscientização dos impactos que a chamada Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) têm demonstrando em inúmeros processos fisiopatológicos e no crescente aumento de prevalência mundial.

1º Ponto: Você sabe o que é a SAOS?

Para conseguirmos entender e definir SAOS, precisamos lembrar que nossas vias aéreas superiores são estruturas compostas por músculos e partes moles, sem arcabouço ósseo de proteção e que são responsáveis por algumas funções, tais como: fala, deglutição e ventilação. Essas três funções são fundamentais quando estamos ativos, em vigília, porém, no sono, essas mesmas estruturas ficam suscetíveis a colapsarem pelas alterações de pressões internas e externas.

Portanto, esses colapsos recorrentes durante o sono, que levam a obstrução da passagem de ar, acarretando despertares noturnos com fragmentação do sono, com ou sem dessaturação de oxigênio no sangue, a chamada SAOS.

2º Ponto: Qual a importância mundial disso? E no Brasil qual a prevalência?

Existe uma onda crescente de atenção para a necessidade de maior acesso ao diagnóstico e tratamento de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) pelo mundo. Sabe-se que, principalmente em países subdesenvolvidos, grande parte da população não consegue ter acesso a meios diagnósticos para o problema devido aos possíveis custos elevados dos procedimentos, mesmo que economistas especializados em saúde demonstrem o custo-benefício a longo prazo do tratamento com redução do impacto econômico de complicações em saúde.

Estimativas sugerem que quase 1 bilhão de adultos com idades entre 30 e 69 anos em todo o mundo podem ter apneia obstrutiva do sono. O número de pessoas com apneia obstrutiva do sono moderada a grave, para a qual o tratamento é geralmente recomendado, é estimado em quase 425 milhões.

Estudos apontam o Brasil como o 4º país no ranking de SAOS leve (49milhões de pessoas) e o 3º país no ranking de SAOS moderada/grave (25milhões de pessoas). Em São Paulo, no ano de 2010 foi publicado um estudo que avaliou 1042 voluntários, mostrando uma prevalência variando de 9-38% de SAOS leve (podendo chegar até 90% dependendo da analise de sexo, etnia e fatores de riscos). 

3º Ponto: Fatores de risco e suspeita clínica, como realizar uma triagem efetiva?

Sabe-se que a SAOS é mais prevalente em homens do que em mulheres na menacme ou em terapia de reposição hormonal (e sim, o risco se equivale na menopausa); idade acima de 65 anos; e etnia orientais (37%), negros (20%) e caucasianos (17%). Além disso, apresenta aumento da prevalência conforme o ganho de peso (aumento de 10% do peso corporal aumenta em até 600% o risco de SAOS Moderada/Grave); tabagismo e hipotireoidismo também compõe um perfil de risco para a síndrome.

Diante desse quadro, a avaliação com médico que tenha expertise para suspeitar da síndrome é fundamental, avaliando clinicamente a composição craniofacial e sistematicamente a orofaringe (utiliza-se a Classificação de Friedman – Escore de Mallampati modficiado e o tamanho da amigdala); pressão arterial sistêmica; peso corporal e IMC; e aplica-se questionários estruturados e validados para a população brasileira, sendo o mais comum: STOP-Bang

S (Snoring) – Ronco: Você ronca alto? (mais alto que falar ou alto o suficiente para ser ouvido através de portas fechadas)?

T (Tiredness) – Cansaço: Você se sente cansado, fatigado ou sonolento durante o dia?

O (Observed) – Observação: Alguém já observou que você para de respirar durante o sono?

P (Pressure) – Pressão Arterial: Você trata ou já tratou hipertensão arterial?

B (BMI) – IMC: IMC ≥ 30kg/m2

A (Age) – Idade: Idade ≥ 50 anos

N (Neck) – Pescoço: Circunferência de pescoço ≥ 40cm

G (Gender) – Gênero: Masculino

4º Ponto – Como realizar o diagnóstico de SAOS e qual o benefício?

Idealmente, o diagnóstico deve ser dado pelo padrão-ouro, ou seja, neste caso, a Polissonografia Tipo 1 (completa, em laboratório, assistida e ≥ 07 canais). Porém, sabe-se que com tal procedimento pode ocorrer variabilidade devido o indivíduo estar fora do seu ambiente de sono, além do procedimento não ser de fácil acesso.

Por isso, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, em 2022, publicou o Consenso Brasileiro em Distúrbios Respiratórios e do Sono, indicando a possibilidade da realização do diagnóstico com a Polissonografia do Tipo III (monitoramento portátil, em domicílio, não assistido e com 4-7canais), conforme fluxograma abaixo, para pacientes com alta-probabilidade de SAOS moderada/grave no teste de triagem e sem comorbidades graves descompensadas.

O benefício da realização desse diagnóstico passa pela redução da prevalência de complicações relacionadas a hipertensão arterial sistêmica, acidente vascular encefálico, arritmias cardíacas, cardiopatias isquêmicas, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, declínio cognitivo, depressão e acidentes de trabalho e automobilísticos por sonolência excessiva diurna. 1,2,3

5º Ponto – Como realizar o tratamento e o segmento desses pacientes?

Indivíduo com SAOS moderada/grave deverão ser submetidos a terapia com pressão positiva (CPAP ou BiPAP), idealmente com titulação manual da pressão até que se atinja o pleno controle de eventos obstrutivos noturnos. Porém, essa prática envolve maior custo e diversos empecilhos na prática real, podendo ser optado pelo ajuste automático de tal pressão (APAP), sendo a titulação realizada em domicílio ou em laboratório.

Os pacientes em uso de tais dispositivos devem ser monitorados com relação a adesão ao uso do aparelho; vazamento de ar do sistema e índice de apneia residual. Com o advento da tecnologia, os aparelhos emitem tais relatórios para o médico que faz o acompanhamento. A telemedicina encurtou as distâncias e tempos para tais reavaliações e benefícios da terapêutica, sendo fundamental um acompanhamento multidisciplinar  - com nutricionista, fisioterapia respiratória e motora, educador físico, fonoaudiologia, terapia ocupacional e odontologia - para diminuir os riscos relacionados a síndrome e aumentar o sucesso terapêutico do paciente.



Imagem 01: Fluxograma diagnóstico e terapêutico da SAOS. Fonte: Duarte RLM, Togeiro SMGP, Palombini LO, Rizzatti FPG, Fagondes SC, Magalhães-da-Silveiraa FJ, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-disordered Breathing. J Bras Pneumol. 2022;48(4):e20220106

Referências:

1. Benjafield AV, Ayas NT, Eastwood PR, Heinzer R, Ip MSM, Morrell MJ, Nunez CM, Patel SR, Penzel T, Pépin JL, Peppard PE, Sinha S, Tufik S, Valentine K, Malhotra A. Estimation of the global prevalence and burden of obstructive sleep apnoea: a literature-based analysis. Lancet Respir Med. 2019 Aug;7(8):687-698. doi: 10.1016/S2213-2600(19)30198-5. Epub 2019 Jul 9. PMID: 31300334; PMCID: PMC7007763.

2. Rundo JV. Obstructive sleep apnea basics. Cleve Clin J Med. 2019 Sep;86(9 Suppl 1):2-9. doi: 10.3949/ccjm.86.s1.02. PMID: 31509498.

3. Duarte RLM, Togeiro SMGP, Palombini LO, Rizzatti FPG, Fagondes SC, Magalhães-da-Silveiraa FJ, et al. Brazilian Thoracic Association Consensus on Sleep-disordered Breathing. J Bras Pneumol. 2022;48(4):e20220106

4. Tufik S, Santos-Silva R, Taddei JA, Bittencourt LRA. Obstructive Sleep Apnea Syndrome in the São Paulo Epidemiologic Sleep Study. Sleep Medicine. Volume 11, Issue 5, May 2010, Pages 441-446 https://doi.org/10.1016/j.sleep.2009.10.005

Autor: 


O GEPRAPS é um grupo interdisciplinar e multidisciplinar de profissionais da saúde, que desenvolvem trabalhos e reflexões sobre as situações relacionadas às Doenças Respiratórias Crônicas – DRCs no Brasil .O principal objetivo do grupo é apoiar as boas práticas assistenciais, a educação permanente, o desenvolvimento multiprofissional continuado e a pesquisa respiratória na Atenção Primária a Saúde, com enfoque nas linhas de cuidado das Doenças Respiratórias Crônicas e Tabagismo. Para mais informações, clique aqui. Ou acesse @gepraps

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