Um estudo publicado na revista JAMA Network Open, em 12 de dezembro de 2024, trouxe novas perspectivas sobre o impacto da diabetes gestacional na composição do leite humano e suas implicações no crescimento e na composição corporal de bebês nos primeiros seis meses de vida. Este estudo é particularmente relevante devido ao aumento significativo da prevalência da diabetes gestacional, que agora afeta mais de 8% das gestações nos EUA.
A pesquisa destacou diferenças notáveis no metaboloma do leite humano de mães com diabetes gestacional. Identificou-se nove metabolitos cuja abundância varia significativamente com a condição, sendo três desses associados diretamente a padrões de crescimento e de composição corporal dos infantes. Entre as descobertas, destacam-se:
- 2-HB (Ácido 2-hidroxibutírico): Encontrado em maior quantidade em mães com diabetes gestacional, este metabolito está negativamente associado ao aumento percentual de gordura corporal do bebê entre o primeiro e terceiro mês.
- Ácido fenilacético: Negativamente associado à , diabetes gestacional porém positivamente relacionado ao crescimento linear (aumento do escore LAZ) do bebê de zero a seis meses.
- Estearoilcarnitina: Apresentou menor abundância em mães com diabetes gestacional e foi associada a uma maior probabilidade de ganho de peso rápido nos bebês.
Contrariamente a outros estudos que associam a diabetes gestacional a um aumento na adiposidade e no ganho de peso acelerado pós-natal, as descobertas deste estudo sugerem que as diferenças na composição do leite materno em casos de diabetes gestacional podem moderar de forma sutil, porém benéfica, o crescimento dos infantes. Estes resultados destacam a importância do aleitamento materno, mesmo em casos de diabetes gestacional, como um moderador potencial dos riscos de obesidade na infância.
O estudo também revelou que alterações metabólicas características da diabetes gestacional, como resistência à insulina e mudanças no metabolismo de lipídios, podem influenciar a composição do leite humano. Curiosamente, a pesquisa apontou que enquanto a estearoilcarnitina, envolvida no transporte de ácidos graxos para oxidação no mitocôndrio, estava reduzida no leite de mães com diabetes gestacional, ela está associada a um aumento na chance de ganho de peso rápido, sugerindo uma oxidação incompleta de ácidos graxos.
O estudo representa um avanço significativo no entendimento de como condições metabólicas maternas, como a diabetes gestacional, podem afetar diretamente o metabolismo infantil através da amamentação. As descobertas reforçam os benefícios do aleitamento materno, indicando que a composição do leite humano pode ter um papel crucial em moderar o risco de obesidade infantil entre bebês expostos à diabetes gestacional.
A pesquisa sugere a necessidade de diretrizes clínicas que considerem a composição do leite materno no manejo da diabetes gestacional e no suporte ao aleitamento materno, como parte integrante da estratégia de saúde pública para combater as consequências a longo prazo da diabetes gestacional tanto para as mães quanto para seus filhos.
Referência:
Nagel EM, Peña A, Dreyfuss JM, et al. Gestational Diabetes, the Human Milk Metabolome, and Infant Growth and Adiposity. JAMA Netw Open. 2024;7(12):e2450467. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.50467