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Dignidade Médica: uma experiência social

Dignidade Médica: uma experiência social
Fernando Carbonieri
jan. 15 - 8 min de leitura
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Desde o advento das redes sociais online, médicos brasileiros têm se reunido para discutir os mais variados aspectos de sua profissão. Acima de tudo, esta atividade predispõe ao entendimento de como vai a nossa profissão e o que podemos fazer para melhorá-la.

Obviamente, quando nos colocamos em um ambiente social, a atividade política de cada um de seus indivíduos deveria proporcionar um ambiente onde a preservação dos direitos individuais do livre arbítrio, do contraditório e da Dignidade deveriam ser superiores aos dogmas, ao fanatismo e ao Ego. De fato os componentes de um jogo social e político que envolvem a categoria devem sempre provocar a reflexão de cada um dos membros da categoria médica.

Vejo até um meme daqueles Expectativa versus Realidade ao tratar desse assunto. E minhas ponderações vão em cima da atividade do grupo "Dignidade Médica" do Facebook (presente em outras redes também). 

É inegável a importância dessa organização. Este grupo em específico, reúne mais de 98 mil médicos e estudantes de medicina de todo o país e se posta como defensor da Dignidade da Profissão Médica aqui no país. Porém, infelizmente, não preserva os valores que edificam a Dignidade da pessoa humana. Explico o porque desta afirmação.

Como alguns sabem, rodo o país com diversas iniciativas: palestras, ações para o Hacking Health e relativas à Comissão de Integração do Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina, além de atividades como diretor do Academia Médica. Isso proporciona um network bastante grande com médicos e acadêmicos de medicina de todos os cantos, que buscam entender a nossa profissão e a criação de um caminho do meio para as diversas naturezas da prática médica.

Há uns 5 anos fui banido da tal comunidade Dignidade Médica, provavelmente pela péssima mania que tenho de tentar explorar a fundo as questões que são elevadas a dogmas da categoria médica. Nesse tempo, continuei a produzir a Academia Médica, o que fez a comunidade crescer e, cada vez mais, ser um ambiente no qual os colegas médicos podem trazer conhecimentos, pontos de vista, crônicas, artes, práticas... Ou seja, falar o que a faculdade esqueceu de contar, pelos próprios pares, para os próprios pares. Há 1 ano atrás fui recolocado na comunidade em questão e motivadora desse textão. Peço desculpas por isso, principalmente aos mais objetivos.

E durante esse período pude acompanhar diversas discussões bastante interessantes sobre a prática médica, sobre bioética clínica, sobre política médica. Mas sempre com uma pulga atrás da orelha quando o assunto era a preservação do contraditório. 

Nessas andanças por aí (foram mais de 40 viagens Brasil afora em 2017), nas rodas de discussão que eram formadas em happy hours, os assuntos, por vezes, envolviam uma discussão premente no "Dignidade Médica" e os diálogos, por vezes, foram assim:

- Você viu isso no Dignidade Médica?
-Não, estou banido de lá há anos.

Isso gerou uma dúvida e na manhã do dia 12 de janeiro de 2018 resolvi buscar a respostas na própria comunidade. Publiquei a seguinte mensagem:

Não trarei os prints da discussão porque não deu nem tempo. O julgamento foi rápido e a cabeça rolou antes que eu pudesse documentar o ocorrido. 

Não demorou 1 minuto para aparecerem as primeiras mensagens :

- Qual o seu objetivo com essa postagem? Você não pode afirmar que muitos foram banidos porque você não tem acesso a estes números. Claro que existe espaço para o contraditório, pois muitos posts aqui são provocativos. E, ao analisar seu perfil, eu diria que você se enquadra como esquerda light.

"Esquerda Light?" Isso me doeu profundamente. Quem me acompanha aqui e nas minhas redes pessoas sabe muito bem que eu sou avesso à esquerda, assim como sou contra tudo o que é fanático ou dogmático.

Segui minha saga de responder o que foi surgindo e em uma das respostas soltei:

- Fico com a impressão de que você só é bem-vindo nas discussões deste grupo se você, em algum momento, favorece o espaço para alguém bradar: BOLSONARO 2018

As respostas que seguiram foram comentários de que esta seria a única opção para um choque de moralidade no país e que era dever os integrantes do grupo se posicionarem neste sentido.

Segui falando que mesmo sabendo do lodo que estamos, o extremismo não pode ser o caminho, pois ideias dogmáticas são contraproducentes. Por esse motivo não tem um nome de presidenciável ou partido ao qual eu permitiria o vínculo do meu nome. Simplesmente não dá pra confiar em ninguém (às vezes nem em nós mesmos). Fiz campanha para o Aécio em 2014 e me arrependo profundamente por estar tão enganado naquela época. 

Ainda contestando algumas atividades, principalmente as de moderação do grupo, fui vendo uma tropa de choque se formando para subjugar minhas opiniões. Truquei ao falar do tamanho do Academia Médica, que atingimos mais de 200 mil pessoas que concordam, discordam e rebatem as ideias aqui colocadas. Aqui buscamos sim ser um ambiente de discussões, aberto, integral, que aproximem pares de outros pares. Aliás, você pode fazer isso, clicando em NOVO POST ali em cima à direita da tela (computadores).

Recebi um 6 na cara na hora em que uma moderadora falou que eu "me achava" e tudo mais. 

Subi pra 9 quando agradeci a opinião dela, mas afirmei que era irrelevante para o assunto em questão.

Recebi um 12 através de um "cala boca, aqui você não fala mais" quando fui banido novamente do grupo Dignidade Médica.

Emocionado, provei minha experiência social ao ser banido do grupo. Há uma jocosa liberdade neste texto. Penso estar me expondo ao ridículo ao colocar a minha opinião frente a minha versão da história. As conclusões a que chego, entretanto, podem proporcionar a reflexão de muitos, e por isso me exponho aqui para listá-las:

"Aqueles que se julgam inteligentes demais para se engajarem politicamente, serão governados por seus inferiores." - Platão

Apesar de não ser perfeita, a Democracia é o melhor sistema que possuímos. Deixar deliberadamente que a nossa moral seja misturada com a moral de uma minoria que exerce a política é algo perigoso, pois sempre cairemos nas generalizações da opinião pública e midiática.

"Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la" - Voltaire

Realmente não há caminho sem o diálogo ou o contraditório. A construção de caminhos que busquem o melhor para todos (e não a satisfação dos lados), é algo que devemos sempre reproduzir como pertencentes à categoria médica e à sociedade em geral.

"A dignidade não consiste em possuir honras, mas em merecê-las" - Aristóteles

Quem conquista a Dignidade são as pessoas que participam de uma comunidade. A medicina tem sua dignidade devido ao seu histórico perante a humanidade, que foi obtido sem o cerceamento de atividades, pensamento ou ciência. Calar a boca de um par, concluindo, é algo não dignificante, pois fere a honra e a grandeza que a profissão médica resiste em manter. 

 A vida profissional, científica e pessoal de cada um de nós depende do como agimos sobre o meio. O que você está fazendo para manter a sua dignidade?

Por favor, comente abaixo para evoluir essa discussão. Discorde, concorde, reflita, escreva um texto resposta para ser publicado aqui na comunidade do Academia Médica. Vamos expandir nossos horizontes!


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