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Do médico de luxo à consulta expressa

Do médico de luxo à consulta expressa
Octávio Augusto Oliveira
mar. 21 - 11 min de leitura
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Do médico de luxo à consulta expressa

Houve um tempo em que o médico não frequentava os hospitais. O acesso a esse profissional era difícil e na maioria das vezes o atendimento era somente particular. Com todas as mudanças e evoluções sociais, tecnológicas e da saúde, hoje o médico esta na palma da mão! Com aplicativos semelhantes ao Uber é possível chamar o médico mais próximo para atendimento em seu domicilio.

Até o início do século XX os hospitais não eram vistos como local de tratamento e cura efetiva de doenças. Muitos deles eram mantidos por entidades filantrópicas ou religiosas que acolhiam a parcela mais pobre da população, os moradores de rua e de cortiços ou os portadores de doenças raras E má formações, condições estas repulsivas à sociedade da época. Frequentar estes estabelecimentos era considerado até perigoso! As condições sanitárias precárias, superlotação e alto índice de mortalidade tornavam a chance de se contrair uma doença infecto-contagiosa muito alta. Os poucos médicos que iam aos hospitais prestar atendimento eram muito bem vistos! Recebiam presentes dos pacientes e dos mantenedores dos hospitais pelo fato de orientar o tratamento dos doentes, quase como uma caridade. Era um verdadeiro luxo poder contar com o Doutor alí, tão prestativo e atencioso, dedicando seu tempo àquelas pessoas.

A atuação do médico não era centrada nesse estabelecimento, mas sim nos consultórios, clinicas particulares ou atendimentos domiciliares para a pequena parcela da população que podia pagar pelo atendimento.  Além disso, o médico com o seu saber, competia com outros profissionais como o barbeiro-cirurgião, curandeiros, parteiras, dentre outros que se aventuravam na arte da terapêutica clínica.

As evoluções técnico-científicas, sobretudo no campo da anestesia, antibioticoterapia,  cirurgia e a necessidade de maior contingente de doentes para treinamento em serviço, acabaram colocando de fato o médico dentro do hospital e este como centro do atendimento dos sistemas de saúde.

O início de uma maior aproximação e acesso mais facilitado dos pacientes com os médicos aqui no Brasil veio depois de 1923 quando as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) foram criadas. Essas CAPs representaram os primórdios da atual Previdência Social. Os donos das empresas firmavam parcerias e acordos de atendimento médico para seus funcionários diretamente com os médicos ou as clinicas das cidades. Dessa forma, os funcionários de um determinado setor econômico que contribuíam para uma CAP e que necessitavam de atendimento médico, seja por doenças clinicas ou acidentes e doenças do trabalho, poderiam utilizar esses médicos e/ou clinicas parceiras do patrão. Com as CAPs temos então um início precoce de privatização em saúde no Brasil.

Ao passo que isso ocorria e juntamente com a evolução das CAPs em IAPs, INPS e INAMPS, era comum as casas dos médicos das cidades possuírem placas identificando o Doutor que alí morava e também sua especialidade.  Com uma relação de maior confiança na ciência médica e na terapêutica, a população passou a procurar mais esse profissional, ajudando a criar assim o prestígio social dessa profissão. Durante décadas o médico, além de atender em seu consultório ou em domicilio, recebia também os pacientes em sua casa. Algumas placas assim ainda podem ser vistas em casas antigas do interior ou até mesmo aqui na capital paulista.

Entre meados da década de 70 e os dias atuais surgiram as modalidades privadas em saúde: convênios empresariais, convênios de hospitais, medicina de grupo e os planos e seguros de saúde. Tais modalidades de atendimento, com preços atrativos para população, permitiram maior aproximação e acesso dos pacientes com seus médicos. O trabalho médico nesse sistema perde relativamente sua autonomia e encaixa-se nas regras de funcionamento dos planos/seguro de saúde.

O SUS também representou uma grande mudança na acessibilidade da população aos serviços médicos básicos. Normatizado pelo governo federal via lei orgânica da saúde 8080 em 1990, o SUS, com toda sua complexidade, dificuldades e limitações unificou os serviços prestados por estados e municípios e tem a intenção de oferecer universalidade no atendimento médico. Para agendar uma consulta ou ser atendido na emergência, basta estar cadastrado no SUS e procurar a unidade de saúde básica ou hospital de referência mais próximo de casa.

Entretanto, é nítido que há muitas dificuldades ou limitações de atendimento médico, seja pelo SUS ou pelos convênios/seguros de saúde. É nítida a dificuldade e demora de agendamento para realização de exames complementares ou “liberar” procedimentos e/ou exames pelos convênios/seguros saúde. É nítida e também alvo de reportagens de TV a demora (até de meses) para agendamento de consultas, bem como para atendimento nos pronto-socorros dos hospitais da rede pública ou privada. Além disso, vários estudos apontam que a maioria das patologias atendidas em pronto-socorros não necessariamente são urgências ou emergências e poderiam ser atendidas em unidades básicas de saúde ou em ambulatórios.

Diante dessas dificuldades, insatisfações e insegurança da população para um desfecho terapêutico efetivo, surge atualmente novas modalidades de acesso ao atendimento médico. Uma delas refere-se às clinicas populares.

Essas clínicas, em seus anúncios, prometem atendimento médico rápido, consultas expressas, sem burocracia, sem demora e sem letras miúdas. Oferecem atendimento em várias especialidades para as patologias mais comuns.  Elas existem em várias cidades do país e se localizam em locais de grande circulação de pessoas, próximos a grandes centros comerciais, terminais rodoviários ou até mesmo dentro dos metrôs de São Paulo.  Além de consultas em diversas especialidades, é oferecida uma gama de exames complementares, como: teste de gravidez, triglicerídeos, colesterol, glicemia e aferição de pressão arterial – cada item em média por R$ 19,00.  Vacinas, ultrassonografia e exames de raios-X também são oferecidos, bem como exames clínicos e exames de avaliação física. O agendamento das consultas ou exames pode ser feito na hora, mediante triagem de enfermagem ou se o paciente preferir, pela internet, aplicativos ou até mesmo via WhatsAPP.

Dez motivos que levam pacientes para a rede particular de baixo custo:

  • Mau atendimento prestado pelos planos de saúde. No ano passado, as operadoras foram alvo de mais de 100 mil queixas de consumidores
  • O Brasil tem 108 milhões de pessoas que necessitam de algum tipo de atendimento à saúde
  • Sete em cada 10 pessoas só conseguem agendar consulta na rede pública para mais de 45 dias
  • Em média, 63% dos usuários não conseguem atendimento no SUS
  • Os preços custam metade dos valores cobrados em clínicas particulares
  • As pessoas estão dispostas a pagar até R$ 120 por serviços médicos
  • Os brasileiros gastam, em média, R$ 420 por ano em clínicas populares
  • Por ano são feitos 10 milhões de atendimentos nesses estabelecimentos
  • Não faltam médicos, pois eles recebem em até 15 dias
  • Consultas custam entre R$ 50 e R$ 70, e exames podem ser parcelados
  • Fonte: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-09-19/

    Uma segunda modalidade recentemente disponível de acesso ao atendimento médico são os aplicativos que funcionam em plataformas semelhantes ao Uber, EasyTaxi ou 99Taxi. Com o localizador de seu celular ativado você pode localizar o profissional médico mais próximo da sua residência, entrar em contato e solicitar uma consulta em domicílio. O pagamento é efetuado diretamente em seu cartão de crédito. Funcionam com várias especialidades médicas, anunciam consultas em casa ou em qualquer lugar que você estiver com apenas um clique na tela e até 1 hora de espera para o atendimento. Anunciam também que funcionam como alternativas para atendimentos simples e de baixa complexidade, envolvendo inclusive  pacientes com dificuldade de locomoção. O preço do atendimento varia entre R$200 e R$400.

    Com relação à consultas por mídias sociais: whatsapp, e-mails, etc, o Conselho Regional de Medicina do Pará já se pronunciou a respeito e coloca suas conclusões no parecer-consulta 12/2015 CRM-PA:

    • Consulta por mídias sociais (WHATSAPP, e-mails, etc...) não se constitui ato médico completo.
    • Se realizada a anamnese e o exame físico, a critério do médico e em acordo prévio com o paciente/responsável, este poderá enviar resultados de exames ou novas informações por meio-eletrônico.
    • Como não se trata de ato médico completo, o profissional não poderá receber remuneração por suas orientações/prescrições, se o fizer.

    A medicina tem evoluído muito e em conjunto com as novas tecnologias tenta se reinventar diariamente. O binômio: demanda/acesso ao atendimento médico vai se adaptando às realidades regionais e às necessidades da população. Os pacientes tem na palma de suas mãos acesso às informações de saúde por fontes diversas como “Dr. Google”. Fazer uma consulta expressa a preço acessível ou até mesmo chamar o médico em sua casa já é uma realidade.  Em situações assim, ainda pairam dúvidas a respeito dos interesses e oportunismos comerciais em confronto com os ditames ético-profissionais da medicina.

    “Exercer a profissão médica é por em prática o amor ao próximo. O doente deve morrer de mãos dadas com seu médico e este necessita de tranquilidade e ferramentas ideais para um atendimento no qual possa oferecer o melhor do seu conhecimento, toda a sua atenção e, principalmente, todo o seu respeito. Ele precisa de tempo suficiente para conhecer o paciente, descobrir suas queixas, averiguar seu passado, seus anseios e suas angústias. E fazê-lo sair aliviado, com a perspectiva de ter seu problema solucionado.”  -Dr. Antônio Carlos Lopes.

    Vale destacar que em muitas regiões do país a consulta com um médico ainda é considerado um luxo.

     

    Referências:

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