Passei a manhã em visita domiciliar. Estava voltando para casa como de costume. Desci num terminal e fui aguardar o ônibus. Decidi não embarcar no primeiro, pois estava muito cheio. Quando saiu, vi a senhora ao meu lado sendo sentada dentro da estação tubo. Apagou.
Peguei uma pasta que carregava e comecei a abana-la. Ela começou a retomar seus sentidos, mas era visível que estava fraca. Vomitou. Pedi que continuassem a fazer vento e liguei para o SAMU.
Identifiquei-me como estudante de medicina, passei o caso e recebi a informação que uma ambulância seria enviada ao local. Desliguei o telefone e, pela segunda vez, ela vomitou.
Disse para que ficasse calma que uma ambulância já estava a caminho. Liguei para seu filho, e conversei com ele que disse que iria ao local. Perguntei seu nome, idade, e como havia iniciado seu mal-estar. Ela contou-me que não havia tomado café da manhã e que havia almoçado rápido na casa da filha, pois não queria atrapalhar. Pedi que deixasse o braço solto para que eu pudesse verificar sua pressão. 10 x 6. Disse a ela que estava baixa, mas que era melhor do que quando ela desmaiou.
Com a ajuda do vigilante a sentamos num banquinho. Ela estava melhorando. Pediu desculpas por estar suja e por ter atrapalhado meu dia. Disse a ela que foi isso o que eu escolhi e que para mim era um prazer poder ajudar. Ela disse estar melhor e que eu podia ir embora, pois não queria me atrapalhar mais.
Disse a ela que não era atrapalho e que ficaria com ela até a ambulância ou os familiares chegarem, pois não podia deixá-la sozinha. Ela agradeceu e pediu que passasse meu número para seu filho pois queria me receber em casa com um café para me agradecer. Conversamos até seu filho chegar.
Quando chegou, passei o caso para ele, disse-lhe minha principal hipótese diagnóstica e sugeri que a levasse até um centro médico onde pudesse passar por uma avaliação clínica um pouco mais detalhada. Não deu tempo de passar meu número a ele. Quando o carro partiu liguei novamente para o SAMU para solicitar o cancelamento da ambulância.
Dona Ana é uma daquelas pessoas que cruzam nosso caminho e se tornam inesquecíveis. Terei o maior prazer em abraçá-la se algum dia desses cruzar com ela novamente.