Há 70 anos a humanidade foi acometida por uma das armas mais letais já fabricadas e manejadas pelo homem moderno: a bomba atômica. À época foi um grande choque, visto que a devastação material e de vidas ceifadas foram de grande monta. Na verdade, esse era o intuito do agressor, e acabou conseguindo com veemência.
A primeira utilização desta arma foi no Japão em agosto de 1945, nas cidades de Hiroshima e Nagasaky, forçando desta forma a rendição do país oriental e finalizando a 2ª Guerra Mundial. Estima-se que houve 100 mil mortes instantâneas no momento da explosão das bombas. Para se ter uma noção da potência de ação, a explosão ocorreu a 570 metros do chão, alcançando a incrível marca de 300 mil graus Celsius de temperatura, um alcance de 5 km de raio e uma nuvem radioativa em forma de cogumelo de altura de 18 km.
Em território brasileiro, no ano de 1987, tivemos um acidente com material radioativo na cidade de Goiânia com o Césio 137, um material azul brilhante descartado de forma irregular e que chamou muita atenção da população que entrou em contato. Mal sabiam eles o perigo que estavam correndo. E assim aconteceu: várias pessoas mortas e ainda com seqüelas atualmente.
Na geopolítica atual temos alguns países que ainda realizam testes nucleares, entre eles a Coréia do Norte, que recentemente assustou o mundo por afirmar que possui a bomba de hidrogênio, 100 vezes mais potente que a bomba atômica. Em posse desses dados, podemos estabelecer e quantificar os efeitos mecânicos, radioativos e térmicos que essa arma letal causou (e causa!) nos sobreviventes.
Podemos subdividir os principais sinais e sintomas por períodos pós exposição radioativa, visto que conforme os dias foram se passando, novas afecções foram surgindo, assim como a mortalidade:
- duas primeiras semanas: queimaduras de 2° e 3° graus ativas, além de politraumas devido a fragmentos de estruturas que colapsaram;
- terceira até oitava semanas: os efeitos da radiação tornaram-se mais preponderantes, como perda de cabelos, anemia, hemorragias, diarréias,etc.
- terceiro e quarto meses: ocorreu uma falsa melhora em relação à ação de queimaduras e da radiação, porém em seguida vieram deformações físicas com a formação de cicatrizes hipertróficas e quelóides de modo desordenado, esterilidade, anormalidades em componentes sanguíneos e desordens psicossomáticas.
- período atual: mesmo após 70 anos após este triste acontecimento, alguns sobreviventes apresentam resquícios dos efeitos radioativos em seu organismo como diversas neoplasias malignas da linhagem hematopoiética, principalmente a leucemia, neoplasias de órgãos sólidos como pulmão, tireóide, mama, glândulas salivares, além das cicatrizes desfigurantes.
A nível celular os efeitos radioativos são devastadores e justificam o aparecimento dos sintomas e sinais supracitados. Além de causar necrose de uma porção de células, as que permaneceram têm suas membranas e material genético no core (núcleo) modificados, levando a divisão descontrolada, mutações e apoptose. As células mais sensíveis a tais transformações são as da linhagem jovem medular, espermatócitos, ovulócitos, linfócitos, dos folículos pilosos e de vários tipos de mucosa, principalmente a intestinal.
Fica fácil neste momento entender os principais sintomas e sua evolução ao longo do tempo, principalmente as neoplasias e alterações cromossômicas que podem ser transmitidas para outras gerações, originando fetos com deformidades, microcefalia e retardo mental. Soma-se a isso a susceptibilidade a infecções generalizadas, pois a produção de células de defesa está sobremaneira afetada.
É importante termos o conhecimento das medidas utilizadas para aferir quantitativamente o nível de radiação no ambiente ou em certo organismo. A unidade mais utilizada atualmente é o Gray (Gy), que corresponde a quantidade de energia absorvida por um quilograma de matéria, estipulada em J/Kg (joules por quilo). Há também a medida denominada rad, porém menos utilizada que o Gy. A relação entre as medidas se faz da seguinte forma:
1 Gy = 100 rad = 1 J/Kg
Para facilitar, os americanos e nós utilizamos o cGy (centigray), equivalente a 1 rad portanto:
1 cGy = 1 rad = 0,01 J/Kg
A importância em analisarmos a física médica recai sobre a associações dos níveis de radiação absorvidos pelo organismo e as principais manifestações clínicas. Uma exposição a 3 Gy causa vômitos e diarréia em 100 % das pessoas e, de 6 a 8 Gy já causam destruição das células caliciformes do sistema digestório , levando a quadro hemorrágico. Acima de 10 Gy os efeitos já podem se tornar catastróficos, principalmente com alterações na linhagem celular medular. A nível de conhecimento, o nível aferido de raios gama em Hiroshima na época do lançamento da bomba atômica foi de 103 Gy, ao passo de que a energia dos nêutrons foi de 141 Gy; já em Nagasaki, os raios gama atingiram a marca de 251 Gy e de nêutrons, 39 Gy. Percebe-se então a quantidade exorbitante de radiação a qual a população foi exposta, justificando o número de óbitos e de doentes graves naquelas cidades.
Como já citado no artigo pregresso ( efeito das armas químicas no organismo), há no Brasil o Batalhão DQBRN (Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear), o qual é responsável pelo atendimento médico em catástrofes oriundas de armas nucleares, químicas e biológicas, e é subordinado ao Exército Brasileiro. Abaixo algumas fotos de algumas lesões provocadas pelos efeitos da radiação estão alocadas logo abaixo. Espero ter contribuído desta forma para um apanhado geral sobre o tema.
Fase aguda - Queimaduras de 2° e 3° Graus
Fase aguda com queimaduras de terceiro grau em boa parte do corpo
Fase aguda - queimadura em face
Queimadura em face provocada por radiação da bomba de Hiroshima
Fase tardia - Formação de queloides
Consequência natural das queimaduras de segundo e terceiros graus, o queloide é gerado pelo processo de cicatrização desordenado da pele e anexos.