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Estudo Mostra Camadas do Cérebro que se Fortalecem com a Idade

Estudo Mostra Camadas do Cérebro que se Fortalecem com a Idade
Comunidade Academia Médica
ago. 19 - 4 min de leitura
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Pesquisadores do Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas (DZNE), da Universidade de Magdeburgo e do Hertie Institute for Clinical Brain Research (Universidade de Tübingen) desafiaram um dos dogmas mais estabelecidos da neurociência: o de que o envelhecimento cerebral é marcado apenas pela perda de volume e função.

O estudo, publicado na Nature Neuroscience, mostra que o córtex somatossensorial primário, área do cérebro responsável por processar o tato e o feedback do corpo no ambiente, não envelhece de forma uniforme. Utilizando ressonância magnética de ultra-alta resolução (7 Tesla), os cientistas descobriram que, enquanto algumas camadas desse córtex sofrem afinamento com a idade, outras se mantêm estáveis ou até se tornam mais espessas. Essa adaptação é considerada evidência de neuroplasticidade ao longo da vida.

Principais descobertas

Envelhecimento em camadas

O córtex cerebral  é composto por múltiplas subcamadas. A equipe descobriu que:

  • Camadas médias e superiores: mantêm-se estáveis ou aumentam em espessura com a idade, sugerindo que continuam sendo estimuladas e preservam sua funcionalidade.

  • Camadas profundas: afinam com o envelhecimento, reduzindo sua capacidade de modulação de estímulos táteis.

Essa diferença explica por que algumas funções sensoriais e motoras permanecem preservadas por décadas, enquanto outras se deterioram.

Plasticidade e uso contínuo

As camadas mais expostas a estímulos externos (médias e superiores) parecem se beneficiar da regra biológica do “use-o ou perca-o”. Habilidades praticadas repetidamente, como digitar ou segurar objetos permanecem estáveis, mesmo em idades avançadas. Já funções que dependem da modulação mais refinada das camadas profundas sofrem mais impacto, especialmente em contextos com estímulos concorrentes (como ambientes barulhentos).

Evidências de compensação

Surpreendentemente, embora as camadas profundas do córtex se tornem mais finas com a idade, sua quantidade de mielina aumenta. Esse fenômeno foi observado tanto em humanos quanto em modelos murinos. O acréscimo de mielina está ligado ao aumento de neurônios especializados em afiar e regular os sinais, funcionando como um mecanismo compensatório natural contra o declínio funcional.

Estudo em humanos e em animais

  • Participantes humanos: cerca de 60 pessoas entre 21 e 80 anos foram avaliadas com imagens de ressonância magnética de alta precisão e testes de sensibilidade tátil e habilidade motora.

  • Estudo comparativo em camundongos: confirmou os achados, incluindo o aumento de mielina nas camadas profundas com a idade, embora o efeito compensatório desapareça em idades muito avançadas.

Implicações clínicas e preventivas

Esses resultados oferecem uma visão otimista sobre o envelhecimento cerebral:

  • Nem todas as funções deterioram com a idade, algumas podem até se fortalecer.

  • Estímulos contínuos e prática sensório-motora podem ajudar a preservar habilidades por mais tempo.

  • Estratégias de prevenção poderiam, futuramente, estimular os mecanismos compensatórios de mielinização para retardar o declínio cognitivo e sensorial.

Um exemplo curioso relatado foi o de um participante de 52 anos, que nasceu sem um dos braços. A camada cortical correspondente ao membro ausente era mais fina, reforçando a ideia de que o cérebro preserva e fortalece aquilo que é estimulado e utilizado com frequência.

O estudo sugere que o cérebro humano não se deteriora com a idade, mas também se adapta e reorganiza em resposta ao uso contínuo. O envelhecimento cerebral é mais dinâmico do que se imaginava: enquanto algumas camadas perdem espessura, outras se reforçam, preservando funções essenciais para a interação com o ambiente.

Segundo a pesquisadora Esther Kühn, “é um pensamento otimista imaginar que podemos influenciar nosso processo de envelhecimento cerebral por meio de estímulos e prática constantes”.



Referência:

DZNE - German Center for Neurodegenerative Diseases. "Scientists discover brain layers that get stronger with age." ScienceDaily. ScienceDaily, 12 August 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/08/250811104229.htm>.



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