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Estática Fetal e Mecanismo de Parto: o que você precisa saber

Estática Fetal e Mecanismo de Parto: o que você precisa saber
Larissa Teixeira Borges
mai. 16 - 9 min de leitura
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Para entender o Mecanismo de Parto, é importante termos conhecimento prévio da Estática Fetal, que consiste em avaliar a situação, apresentação, posição, atitude e variedade de posição fetal, assim como os assinclitismos, para que possamos acompanhar a evolução do parto.

ESTÁTICA FETAL

SITUAÇÃO: relação do maior eixo do feto (a coluna) em relação ao maior eixo do útero.

Quando o maior eixo do feto coincide com o maior eixo do útero, temos uma situação longitudinal. Agora, se o maior eixo do feto estiver perpendicular ao maior eixo do útero, esta é uma situação transversa.

A situação oblíqua é a transição da situação fetal, no momento do parto, ela irá se estabelecer em longitudinal ou transversa.

ATITUDE: representada pela disposição dos membros e da coluna vertebral.

Geralmente, o feto assume uma atitude ovoide, com os membros flexionados e a coluna vertebral curvada, o que é chamado de flexão generalizada. Isso acontece, especialmente após a insinuação, para que o menor diâmetro da cabeça fetal, o suboccipitobregmático, consiga passar pelo canal vaginal.

FIGURA 1 – Atitude de flexão generalizada do feto normal de termo

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 345)

Pode ocorrer, também, extensão da coluna e consequente deflexão cefálica, deixando o feto em um formato cilindroide.

APRESENTAÇÃO: parte do feto que se apresenta no estreito superior da bacia materna.

Quando temos uma situação transversa, a apresentação será córmica.

Se a situação for longitudinal, a apresentação pode ser cefálica ou pélvica.

No caso de apresentação cefálica: podem ser fletidas ou defletidas. Nas apresentações fletidas, toca-se a fontanela posterior, sendo o ponto de referência o osso occipital.

Quando defletidas, devem ser classificadas de acordo com o grau de deflexão:

1º grau: apresentação do bregma, sendo este o ponto de referência; e a linha de orientação é a sutura sagitometópica.

2º grau: o ponto de referência é o naso; a linha de orientação é a sutura metópica.

3º grau: o mento é o ponto de referência; a linha facial é a linha de orientação.

Figura 2 – (A) Atitude da cabeça fetal na apresentação fletida; (B) na de bregma; (C) na de fronte; (D) na de face.


FONTE: MONTENEGRO; REZENDE (2016, p. 139).

No caso de apresentação pélvica: pélvica completa (pelvipodálica) quando os membros inferiores estão fletidos. E incompleta (modo de nádegas) quando as coxas estão fletidas contra a bacia, mas as pernas ficam estendidas anteriormente sobre o tronco.

ALTURA DA APRESENTAÇÃO: pode ser analisada pelo Critério de DeLee quando o feto começa a se insinuar.

É traçada uma linha imaginária na altura das espinhas isquiáticas da mãe, o que representa o plano 0 de DeLee.

Quando a apresentação fetal estiver 1cm acima do plano 0, a altura é -1, e essa medição vai até o “-5”.

Se a apresentação estiver 1cm abaixo do plano 0, vai ser +1 e assim sucessivamente.

FIGURA 3 – Critério de DeLee

FONTE: MONTENEGRO; REZENDE (2016, p. 140).

POSIÇÃO: definir, pelas Manobras de Leopold-Zweifel, se o dorso fetal está do lado direito ou esquerdo materno.

Variedade de Posição: relaciona os pontos de referência da mãe e do feto.

Maternos: púbis, eminências ileopectíneas, extremidades do diâmetro transverso máximo sinostose sacroilíaca e sacro.

Fetais: variam de acordo com a apresentação.

- Cefálica fletida: lambda. A sutura sagital é a linha de orientação.

- Cefálica defletida de 1º grau: extremidade anterior do bregma. As suturas sagital e metópica são linhas de orientação.

- Cefálica defletida de 2º grau: glabela ou raiz do nariz (fronte). A sutura metópica é a linha de orientação.

 - Cefálica defletida de 3º grau: face. A linha facial é a linha de orientação. ientaçmetbregma. amento fetal. oxas (B), na de fronte (C) e na de face. com o grau de deflexoria de pelve ginecoi

 - Pélvicas: sacro. O sulco interglúteo é a linha de orientação.

- Córmica: acrômio. Nesses casos, não há linha de orientação, pois é um feto em situação transversa, a expulsão espontânea não ocorre.

Nomenclatura: a primeira letra indica apresentação e as demais são o ponto de referência ao nível do estreito superior.

  • OP: occipitopubica;
  • OEA: occípito-esquerda-anterior;
  • OET: occípito-esquerda-transversa;
  • OEP: occípito-esquerda-posterior;
  • OS: occipitossacra;
  • ODP: occípito-direita-posterior;
  • ODT: occípito-direita-transversa;
  • ODA: occípito-direita-anterior.

ASSINCLITISMO: durante o trabalho de parto, a sutura sagital fica na mesma distância entre o púbis e o promontório, isso se chama sinclitismo e é a progressão normal do trabalho de parto. No assinclitismo, a cabeça que deveria descer reta, lateraliza, o que pode ser transitório por conta da contração, ou fixo (quando se faz necessário uso de fórceps).

Podemos ter o assinclitismo posterior, quando a sutura sagital se aproxima do púbis e o posterior desce ultrapassando o promontório.

E o assinclitismo anterior, que é o contrário deste processo: a sutura sagital está mais próxima ao sacro e o parietal anterior, mais baixo.

FIGURA 4 – (A) Assinclitismo posterior; (B) Sinclitismo; (C) Assinclitismo anterior.

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 352)

MECANISMO DE PARTO

Agora, depois de relembrar a Estática Fetal, podemos introduzir o Mecanismo de Parto, caracterizado pelos seguintes tempos: insinuação, descida e desprendimento e rotação externa. Neste texto, abordaremos apenas o mecanismo de parto das apresentações cefálicas fletidas em bacia ginecoide.

INSINUAÇÃO: passagem do maior diâmetro da apresentação pelo estreito superior da bacia materna. Nas apresentações cefálicas, este diâmetro é o biparietal (DBP).

O bebê insinuado não é móvel, quando realizado o 4º tempo da Manobra de Leopold-Zweifel, podemos afirmar que ele não “sobe” ou “flutua”.

Quando se inicia a passagem pelo estreito superior, ele ainda não está totalmente fletido, e o diâmetro occipitofrontal é apresentado, com a flexão cefálica, diâmetros menores são apresentados, como o suboccipitofrontal e o suboccipitobregmático, moldando-se para diminuir o estreito da cabeça e baixar facilmente.

O assinclitismo pode ocorrer neste momento.

DESCIDA: passagem do polo cefálico do estreito superior para o estreito inferior da pelve materna. Esse é um processo que ocorre concomitantemente à insinuação, assim como a rotação interna. A divisão dos tempos é feita apenas para fins de aprendizado.

O feto precisa se adaptar ao canal de parto para que possa passar, e por isso, faz movimentos de flexão, rotação interna e cavalgamento ósseo.

FIGURA 5 – Canal de Parto, formato em “J”

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 353)

ROTAÇÃO INTERNA: o polo cefálico tem que ficar posicionado sob o púbis. Em apresentações cefálicas fletidas, o occipício é o ponto de referência, e a rotação se dá nos seguintes graus, considerando a variedade de posição:

45º nas anteriores: occipitoesquerda anterior e occipitodireita anterior. Inicia apontando o lambda anteriormente para o púbis, rotaciona para ficar occipitopúbica (OP).

90º nas transversas: occipitoesquerda transversa e occipitodireita transversa. Faz uma rotação maior para ir para OP.

135º nas posteriores: occipitoesquerda posterior e occipitodireita posterior. Neste caso, o ponto de referência está na região sacral da pelve materna (occipiossacra, OS), o que torna o trabalho de parto mais difícil.

FIGURA 6 – (A) Rotação interna das variedades de posição posterior; (B) transversa); (C) anterior; (D) para a variedade occipitopúbica.

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 354)

DESPRENDIMENTO: a cabeça do feto se desprende do estreito inferior pelo movimento de deflexão. Ocorre uma retropulsão coccígea, a fronte do bebê rechaça o cóccix, causando um aumento do diâmetro anteroposterior.

O feto é impulsionado para fora do canal de parto por meio das contrações uterinas e da resistência perineal, quando esta resistência é vencida, a cabeça fetal faz um movimento de extensão, exteriorizando o bregma, a fronte, o nariz e o mento.

FIGURA 7 – Desprendimento cefálico nas apresentações que realizaram rotação interna anterior: movimento de deflexão ou extensão do polo cefálico.

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 356)

Quando a rotação é posterior (porque o occipício está alinhado com o sacro da mãe), a extensão cefálica tem que ser ainda maior para vencer a resistência, e por isso o desprendimento cefálico em OS é lento e pode precisar de alocação de fórceps.

FIGURA 8 – Desprendimento cefálico nas apresentações posteriores que realizaram rotação interna posterior: movimento de flexão seguido de extensão do polo cefálico.

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 357)

ROTAÇÃO EXTERNA: fora da genitália, a cabeça faz um movimento retornando o occipital para onde se encontrava na insinuação (geralmente lambda), simultaneamente, ocorre rotação interna das espáduas, esse processo é chamado de restituição ou rotação externa da cabeça.

O movimento ocorre para que o ombro anterior se posicione sob a arcada púbica e o posterior se volte para o assoalho pélvico, empurrando o coccige materno para trás.

As espáduas se desprendem quando o anterior transpõe a arcada pélvica, e o posterior acompanha o tronco quando este faz flexão lateral, progredindo até a saída.

FIGURA 9 – Desprendimento das espáduas nas apresentações cefálicas. (A) Desprendimento do ombro anterior; (B) desprendimento do ombro posterior.

FONTE: ZUGAIB; VIEIRA (2020, p. 358)

 

REFERÊNCIAS

MONTENEGRO, Carlos Antonio Barbosa; REZENDE FILHO, Jorge de. Rezende Obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. ISBN 9788527730716.

ZUGAIB, Marcelo; VIEIRA, Rossana Pulcineli. Zugaib Obstetrícia. 4. ed. São Paulo: Manole, 2020. ISBN 9788520459881.

 


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