Uma pesquisa publicada em 09 de maio de 2024 em JAMA Network Open aborda uma questão crítica no setor de saúde: a prevalência e as consequências do burnout entre médicos com deficiência. Esta pesquisa é uma das primeiras a investigar especificamente as experiências de burnout nessa população de profissionais médicos nos Estados Unidos, oferecendo insights e direções necessárias para futuras intervenções.
A pesquisa analisou dados da "National Sample Survey of Physicians" de 2022, coletada pela Association of American Medical Colleges, que incluiu respostas de 5.917 médicos. Dentre eles, 185 médicos (3,1%) relataram ter alguma deficiência, sendo as mais comuns problemas crônicos de saúde e mobilidade. Os resultados destacam que médicos com deficiência têm maior probabilidade de experimentar despersonalização frequentemente, com um aumento significativo nas chances de ocorrer diariamente em comparação com seus colegas sem deficiência. Embora a exaustão emocional também tenha sido mais relatada entre os médicos com deficiência, a diferença não foi estatisticamente significativa.
🟦 A tabela a seguir apresenta os Razões de Chances Ajustadas (Adjusted Odds Ratios - AORs) para médicos que relataram sentir-se despersonalizados, fornecendo uma análise quantitativa deste aspecto do burnout:
Fonte: Meeks LM, Conrad SS, Nouri Z, et al.. 2024
Implicações para a Prática Médica
Esses achados são preocupantes, dado que a despersonalização pode levar a uma diminuição na empatia pelo paciente, afetando negativamente a qualidade do atendimento. Além disso, a pesquisa aponta para a necessidade urgente de abordar as condições estruturais nas quais os médicos com deficiência trabalham. A falta de proteção contra maus-tratos, assédio e desigualdade salarial são problemas persistentes que contribuem para o ambiente adverso enfrentado por esses profissionais.
Na tabela a seguir é possível observar as Razões de Chances Ajustadas (Adjusted Odds Ratios - AORs) para médicos que relatam sentir exaustão emocional, destacando a intensidade deste aspecto do burnout entre estes profissionais de saúde:
Fonte: Meeks LM, Conrad SS, Nouri Z, et al.. 2024
Recomendações para Sistemas de Saúde
O estudo sugere que os sistemas de saúde desenvolvam abordagens multifacetadas para reduzir o mau trato e aumentar a sensação de pertencimento, promover a equidade salarial e garantir a segurança psicológica e física para os médicos com deficiência. Algumas estratégias podem incluir treinamento contra o capacitismo, a partilha de sucessos, avaliações de equidade salarial e opções robustas de relato para maus-tratos relacionados à deficiência.
É importante notar as limitações do estudo, incluindo a natureza de auto-relato dos dados e o potencial sub-relato de deficiência devido ao medo do estigma. Estudos futuros podem incluir pesquisas qualitativas para identificar fatores específicos de burnout entre médicos com deficiência, bem como investigar a eficácia de mecanismos focados na redução de maus-tratos, aumento do acesso e intenção de deixar a força de trabalho.
O estudo, portanto, destaca uma área frequentemente negligenciada de pesquisa e prática médica. As descobertas sublinham a necessidade de ações concretas e políticas inclusivas que não apenas reconheçam os desafios enfrentados por médicos com deficiência, mas também atuem proativamente para criar um ambiente de trabalho mais justo e sustentável para todos os profissionais de saúde.
Referência:
Meeks LM, Conrad SS, Nouri Z, et al. Burnout Among Physicians With Disabilities. JAMA Netw Open. 2024;7(5):e2410701. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.10701