Uma pesquisa publicada no JAMA Network Open em 26 de março de 2024, traz revelações importantes sobre a associação entre a duração do aleitamento materno exclusivo e o risco de cânceres infantis. Este estudo, baseado em dados coletados do Registro Nacional de Saúde Infantil da Dinamarca, analisou crianças nascidas no país entre 2005 e 2018, oferecendo uma perspectiva valiosa sobre como a amamentação pode influenciar no risco de desenvolvimento de câncer durante a infância.
A pesquisa destaca que, na Europa, o câncer é diagnosticado em 1 a cada 350 crianças antes dos 15 anos, sendo a principal causa de morte relacionada à doença na infância, após a fase de lactente. Embora pelo menos 10% dos cânceres infantis possam ser atribuídos a mutações genéticas raras, a etiologia da maioria desses cânceres ainda é pouco conhecida, o que torna a prevenção um desafio significativo. Nesse cenário, estudos anteriores já sugeriam que a amamentação poderia estar associada a uma redução do risco de desenvolvimento de leucemias, incluindo a leucemia linfoblástica aguda (LLA), que é o câncer mais comum na infância.
O estudo dinamarquês reforça essas observações anteriores, demonstrando que crianças exclusivamente amamentadas por pelo menos 3 meses apresentam um risco menor de desenvolver LLA do precursor B entre 1 e 14 anos, em comparação com aquelas amamentadas exclusivamente por menos de 3 meses ou que nunca foram amamentadas. Interessantemente, não foi observada uma associação significativa entre a duração do aleitamento materno exclusivo e o risco de tumores do sistema nervoso central ou tumores sólidos.
🟦 A tabela detalha as características de base da população estudada e a duração do aleitamento materno exclusivo:
Fonte:
Søegaard SH, Andersen MM, Rostgaard K, et al., 2024
A investigação também discute como o aleitamento materno pode influenciar a formação do microbioma intestinal do bebê e o desenvolvimento do sistema imunológico, potencialmente oferecendo proteção contra a LLA do precursor B. Este subtipo de LLA está frequentemente associado a respostas imunológicas aberrantes a estímulos infecciosos, sugerindo que uma microbiota intestinal rica e não perturbada pode proteger contra o desenvolvimento da doença.
Além disso, o estudo enfatiza a importância de compreender melhor os mecanismos biológicos por trás da associação observada entre o aleitamento materno e o risco de câncer infantil, para informar futuras intervenções preventivas. Apesar de algumas limitações, como a ausência de informações sobre o aleitamento materno para todas as crianças nascidas na Dinamarca durante o período do estudo e a potencial classificação errônea da duração do aleitamento materno exclusivo, os resultados oferecem evidências significativas que sustentam a associação entre o aleitamento materno prolongado e a redução do risco de LLA em crianças.
🟦 Na tabela a seguir, é possível observar como a duração da amamentação exclusiva está associada ao risco de diferentes tipos de câncer infantil, detalhando os coeficientes de risco (Hazard Ratios) por grupos de câncer e diagnósticos específicos:
Fonte: Søegaard SH, Andersen MM, Rostgaard K, et al., 2024
Este estudo acrescenta uma camada crucial de entendimento à complexa relação entre nutrição infantil e risco de câncer, ressaltando o papel potencial do aleitamento materno exclusivo na prevenção do câncer infantil. Publicações como essa são essenciais para impulsionar futuras pesquisas e orientar políticas de saúde pública visando a saúde e o bem-estar das crianças.
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Para mais detalhes sobre os resultados deste estudo, disponibilizamos aqui, o link de acesso a pesquisa na íntegra.
Referência:
Søegaard SH, Andersen MM, Rostgaard K, et al. Exclusive Breastfeeding Duration and Risk of Childhood Cancers. JAMA Netw Open. 2024;7(3):e243115. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.3115