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Gabinete de Curiosidades Médicas: as lições de anatomia de Michelangelo

Gabinete de Curiosidades Médicas: as lições de anatomia de Michelangelo
Jocê Rodrigues
jun. 11 - 3 min de leitura
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Desde cedo Michelangelo Buonarroti já se interessava pelo estudo da anatomia. Aos 18 anos era comum para ele passar noites e mais noites acordado, dissecando cadáveres humanos à luz de velas em uma sala nos fundos da Basílica do Santo Spirito, em Florença. Tudo para aprimorar suas habilidades como artista.

“Para a igreja de Santo Spirito em Florença, Michelangelo esculpiu um crucifixo de madeira que foi colocado acima da luneta do altar-mor, onde permanece para satisfação do prior, que lhe forneceu quartos espaçosos, onde em muitas ocasiões Michelangelo dissecou cadáveres a fim de estudar os detalhes da anatomia e começou a aperfeiçoar a grande habilidade em design que adquiriu posteriormente”, relata o historiador da arte italiano Giorgio Vasari em seu indispensável “Vida dos Artistas”.

É curioso notar que na edição brasileira do livro de Vasari excluiu-se o trecho relacionado às dissecações e estudos anatômicos empreendidos por Michelangelo na calada da noite. O motivo não fica claro, mas talvez tenha a ver com o prevalecimento de uma mentalidade que ainda vê na dissecação do corpo humano um tabu.

O conhecimento do corpo humano sem dúvida nenhuma fez diferença na estética do trabalho de Michelangelo. Mas, com o espírito rebelde e desafiador que lhe era peculiar, o artista rebelde e inimigo figadal de Leonardo da Vinci foi além e decidiu que precisava mostrar esse entendimento de modo não muito convencional.

Em 1990, o médico Frank Lynn Meshberger publicou um artigo em um importante jornal de medicina norte-americano, no qual apontou similaridades entre a famosa pintura "A criação de Adão" e a estrutura e formato do cérebro humano, remetendo à perfeição de algumas partes como a glândula pituitária e a medula espinhal.

"Michelangelo retrata que o que Deus está dando a Adão é o intelecto; dessa forma, o homem seria capaz de planejar as melhores e mais elevadas coisas e de experimentar todas as coisas recebidas", escreveu Meshberger.

Depois da publicação do artigo, muitas outras hipóteses foram levantadas e cerca de mais de 30 outras representações de órgãos do corpo humano foram encontradas nos afrescos da capela Sistina por acadêmicos e estudiosos. Entre eles rins, pulmões e ovários.

Uma verdadeira aula de arte e de anatomia em um só lugar.

 


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