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Gabinete de Curiosidades Médicas: O Curioso Mundo da Taxidermia Vitoriana

Gabinete de Curiosidades Médicas: O Curioso Mundo da Taxidermia Vitoriana
Jocê Rodrigues
ago. 13 - 4 min de leitura
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Bem-vindos à série "Gabinete de Curiosidades Médicas"! Aqui você vai encontrar fatos curiosos, sombrios ou interessantes sobre a história da medicina e das artes. Prepare-se para um encontro inesperado com médicos, escultores, pintores, filósofos que se unem para contar um pouco das inusitadas intersecções, costuras e remendos entre ciência, medicina e literatura no Século XIX.

Vamos lá?

O desejo por aperfeiçoamento ou pelo menos de hibridização povoa a mente humana há pelo menos milhares de anos. Basta uma rápida olhada nos murais e pinturas egípcias, sumérias e babilônicas para nos darmos conta disso.

São repletas de imagens de seres híbridos, com asas ou outras características misturadas com aspectos humanos, por exemplo. Elas são  que a gente conhece hoje por quimeras. A palavra quimera é usada pela primeira vez na Ilíada de Homero, quando o herói Belerofonte enfrenta a criatura que é uma mistura entre leão, bode e serpente. Detalhe: Belerofonte enfrenta a criatura com a ajuda de Pégaso, que também pode ser considerado uma quimera.

Na Roma antiga era comum também a exibição de certas criaturas híbridas. Plínio, O velho, em sua “História Natural”, fala sobre a figura mumificada de um centauro preservada em mel, vista por Cláudio César. Ainda na Roma, existe a figura de Glycon, que seria um deus com corpo de serpente e cabeça humana, que aparecia para os seus seguidores em aparições públicas. Mas, na verdade, era uma espécie de fantoche manipulado por um profeta da época chamado Alexandre, que podia até mexer os olhos e abrir a boca no melhor estilo Vila Sésamo. 

No século XIX (sempre ele!), é possível encontrar uma vasta quantidade de trabalhos de taxidermia, já que se tratava de um hobby bastante comum entre a elite. Até aí, tudo bem, nada fora do comum, já que a prática, que é popularmente chamada de empalhamento, é feita desde 5 mil anos antes da Era Comum. Entretanto, os vitorianos sempre davam um jeito de deixar as coisas um pouco mais interessantes (ou bizarras).

Além da prática da taxidermia comum, eles se especializaram também na taxidermia antropomórfica, que consiste em dissecar animais e a dar a eles movimentos ou atitudes que os façam parecer humanos. Quem popularizou a prática foi Hermann Ploucquet, um taxidermista membro do Gabinete Real de História Natural de Stuttgart, que teve suas encenações expostas ao lado das do famoso ornitólogo Robert Tobias.

Outro grande nome foi Walter Potter, que conquistou fama e público com o diorama chamado The Death and Burial of Cock Robin, inspirado em uma tradicional balada inglesa de mesmo nome e que narra morte e o enterro célebre e pomposo de um pássaro, acompanhado de um séquito de animais. 

Além da exuberância das cenas de animais se comportando como humanos, outra linha havia entrado em voga também: a de unir duas ou mais partes de animais diferentes, criando verdadeiras quimeras de quatro patas, duas cabeças e assim por diante.

O nosso fascínio pelo estranho caminha lado a lado com nossa vontade de aperfeiçoamento. Basta prestar atenção nos debates atuais sobre edição genética para se dar conta do tamanho do rolo. Nesse sentido, a era vitoriana, que tinha uma proximidade, quase um apego com a morte, demonstra muito bem essa relação entre morte e permanência, como talvez nenhuma outra era tenha sido capaz de exprimir.


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