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Gabinete de Curiosidades Médicas: teatros anatômicos

Gabinete de Curiosidades Médicas: teatros anatômicos
Jocê Rodrigues
jun. 4 - 5 min de leitura
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Bem-vindos à série "Gabinete de Curiosidades Médicas"! Aqui você vai encontrar fatos curiosos, sombrios ou interessantes sobre a história da medicina e das artes. Prepare-se para um encontro inesperado com médicos, escultores, pintores, filósofos que se unem para contar um pouco das inusitadas intersecções, costuras e remendos entre ciência, medicina e literatura no Século XIX.

Vamos lá?

A busca pelo desejo de descobrir aquilo que se esconde por baixo da pele humana nos leva a tempos muito, muito antigos. Desde o século V AEC já se tem notícias de dissecações de animais, realizadas com o intuito de se conseguir um conhecimento pelo menos aproximado do corpo humano. 

O primeiro relato de dissecação de corpos humanos é de um período um pouco posterior, mais precisamente do século III AEC, quando a dupla dinâmica Herófilo e Erasístrato descortinaram um novo mundo para a Anatomia. Na mesma época, por causa dos tabus morais e religiosos, o uso de cadáveres humanos continuaria a gerar controvérsias e proibições. 

Tempos depois o médico e filósofo romano Galeno, que devido às proibições morais e religiosas, só podia usar animais para os seus estudos, criou teorias e desenhou esquemas de maneira a poder utilizá-los também no estudo do corpo humano. Por conta da riqueza de detalhes, as ideias de Galeno dominaram o pensamento médico por muitos séculos, sendo a referência máxima em qualquer estudo anatômico até o fim da Idade Média.

Quando o pensamento cristão se tornou dominante a partir do século V EC, tudo o que se aprendia sobre o funcionamento do corpo humano vinha diretamente dos tratados do médico romano. Nas faculdades, as aulas de anatomia seguiam rigorosamente as leituras de seus livros e qualquer erro aparente na localização de um órgão era logo ignorado. 

Durante o século XV, os anatomistas se utilizavam de instalações temporárias para a realização de suas investigações. A situação começa a mudar em 1595, quando, sob a direção de Girolamo Fabrici d’Acquapendente, o teatro anatômico da Universidade de Pádua é erguido na Itália. Construído às custas do próprio Girolamo, o espaço foi o primeiro a oferecer uma estrutura permanente para o estudo do corpo humano e também o primeiro a abrigar uma dissecação de um corpo humano para um grande número de espectadores. 

Na mesa colocada no centro, corpos humanos e de animais eram abertos e explorados não apenas em nome do conhecimento, mas também da justiça. É que a maioria dos cadáveres humanos eram de criminosos executados pelas autoridades, condenados também a uma punição post-mortem. Por conta dessas condições, não era incomum que os cadáveres chegassem à mesa de dissecação ainda amarrados ou com a corda no pescoço.

Ao redor dela, cerca de 250 pessoas, entre alunos e curiosos, assistiam atentamente as operações. Dá até para imaginar o clima durante uma daquelas lições naquele ambiente sem janelas, com o lugar todo iluminado à luz de velas, enquanto os espectadores e curiosos se acotovelavam para ver de perto o espetáculo de incisões, músculos e fluídos. 

Abaixo da entrada principal do teatro anatômico de Pádua existe um escrito que diz: "hic est locus ubi mors gaudet succurrere vitam” (este é o lugar onde os mortos se satisfazem em ajudar os vivos). O local foi usado para o ensino da Anatomia até 1872 e hoje permanece inteiramente conservado.

Com o passar do tempo e o avanço nas pesquisas científicas e do corpo humano, os teatros anatômicos foram se transformando e ganhando novos formatos: primeiro ovais (como o de Pádua), depois circulares e semicirculares (como os de Upsala e Berlim), até as modernas no estilo horizontal, como aquelas da segunda metade do século XIX.

Jocê Rodrigues é Escritor, jornalista e editor. É um dos coordenadores do "Encontros de Leitura", do ITS, em parceria com a EMERJ. Pesquisa principalmente sobre as inusitadas intersecções, costuras e remendos entre ciência, medicina e literatura no Século XIX.

 


 

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