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Gabinete de Curiosidades Médicas: Thomas Pettigrew e a Festa das múmias

Gabinete de Curiosidades Médicas: Thomas Pettigrew e a Festa das múmias
Jocê Rodrigues
ago. 21 - 3 min de leitura
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Bem-vindos à série "Gabinete de Curiosidades Médicas"! Aqui você vai encontrar fatos curiosos, sombrios ou interessantes sobre a história da medicina e das artes. Prepare-se para um encontro inesperado com médicos, escultores, pintores, filósofos que se unem para contar um pouco das inusitadas intersecções, costuras e remendos entre ciência, medicina e literatura no Século XIX.

Vamos lá?

Muito antes da mumiamania impulsionada pelo cinema e pela ficção do século XX, o Egito já se fazia presente no pensamento ocidental como uma terra exótica, distante e cheia de mistérios aguardando a coragem e o intelecto dos grandes “descobridores” modernos. Estava presente, inclusive na história da medicina.

No livro “Medicinal Cannibalism in Early Modern English Literature and Culture”, Louise Noble fala sobre o interesse que nomes como Galeno e Paracelso tinham no uso de restos humanos como medicamento. Coisas como ossos humanos queimados, medula, sangue humano e… múmias.

Entre os séculos XVI, XVII e XVIII, múmias eram largamente usadas como drogas farmacêuticas em toda a Europa. Os europeus compravam múmias desde muito antes para encantamentos, fabricação de pigmentos ou para efeitos médicos, como já dito. No século XIX, com a expansão napoleônica, conseguir comprar uma múmia ficava cada vez mais fácil.

Nesse período, os cadáveres embalsamados egípcios se tornaram uma verdadeira febre, pois haviam dado início a uma prática um tanto quanto peculiar: o desenrolamento de múmias diante de espectadores. Em 1820, o artista circense Giovanni Belzoni foi o primeiro a desenfaixar uma múmia em público como forma de espetáculo. Um evento bastante curioso que acabou chamando a atenção do cirurgião Thomas Pettigrew, que estava presente na plateia.

Inspirado por esse acontecimento, Pettigrew teve a ideia de começar a preparar suas próprias exibições e festas para desenrolar múmias para uma audiência, mediante a venda de ingressos. Não demorou para elas também virarem uma sensação. Após os eventos, alguns convidados chegavam a levar para casa pedaços das bandagens que envolviam as múmias com uma lembrancinha da festa. 

Por vezes, as partes dos corpos mumificados eram também vendidas para colecionadores e entusiastas, movimentando um mercado em expansão. Tanto que, por conta da grande procura  por esse tipo de evento, múmias falsas começaram a circular. Geralmente eram corpos de escravos, criminosos e indigentes, que tinham seus cadáveres preparados para parecerem com genuínas múmias egípcias.

Thomas Pettigrew foi responsável por escrever o primeiro livro sobre o estudo das múmias e popularizou as desenrolações públicas e, como era de se esperar, ele também tinha outros interesses estranhos. Certa vez, ele tentou provar, por meio de medições cranianas, que os egípcios eram caucasianos, não africanos.

As festas do desenrolar das múmias seguiram populares até o início do século XX. A última apresentação desse tipo ocorreu em Manchester, no ano de 1908 e foi feita por ninguém menos que Margaret Murray, a primeira arqueóloga conferencista mulher nomeada no Reino Unido ― isso em uma área do saber e em um período histórico dominado por homens.


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